Aplicativos gratuitos que usam inteligência artificial para terapia têm se espalhado pela internet. Mas sem aval dos órgãos reguladores.
Um deles, é o chatbot de saúde mental Earkick. Ao baixá-lo, você é recebido por um panda que usa bandana e que poderia facilmente se encaixar em um desenho animado infantil.
Comece a falar ou digitar sobre ansiedade, e o aplicativo gerará o tipo de declarações reconfortantes e simpáticas que os terapeutas são treinados para fazer.
O panda pode, então, sugerir um exercício de respiração guiada, maneiras de reformular pensamentos negativos ou dicas de gerenciamento de estresse.
“Tudo isso faz parte de uma abordagem bem estabelecida usada por terapeutas – mas, por favor, não chame isso de terapia”, diz Karin Andrea Stephan, cofundadora da Earkick.
“Quando as pessoas nos chamam de uma forma de terapia, não há problema, mas não queremos sair por aí divulgando isso”, diz Karin, ex-musicista profissional e empreendedora. “Não nos sentimos confortáveis com isso.”
Definir se esses chatbots baseados em inteligência artificial (IA) estão prestando um serviço de saúde mental, ou são simplesmente uma nova forma de autoajuda, é fundamental para o emergente setor de saúde digital – e sua sobrevivência.
O Earkick é um dos muitos aplicativos gratuitos que estão sendo lançados para tratar de crises de saúde mental entre adolescentes e jovens adultos.
Como não dizem explicitamente diagnosticar ou tratar condições médicas, esses aplicativos não são regulamentados pela Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador do setor nos EUA.
Mesmo assim, essas ferramentas ganharam fôlego com a IA generativa, tecnologia que usa grandes quantidades de dados para imitar a linguagem humana.
Os atrativos são claros para o setor: os chatbots são gratuitos, estão disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana, e não têm o estigma que afasta algumas pessoas da terapia.
Mas há poucos dados que comprovem que eles realmente melhoram a saúde mental. E nenhuma das principais empresas passou pelo processo de aprovação da FDA para demonstrar que tratam com eficácia doenças como a depressão.
“Não há nenhum órgão regulador supervisionando essas startups, portanto, os consumidores não têm como saber se as soluções são realmente eficazes”, diz Vaile Wright, psicólogo e diretor de tecnologia da American Psychological Association.
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Os chatbots não são equivalentes à terapia tradicional, mas Wright acredita que eles poderiam ajudar com problemas mentais e emocionais menos graves. O site da Earkick diz que o aplicativo não “fornece nenhuma forma de atendimento médico, opinião médica, diagnóstico ou tratamento”.
Ainda assim, os chatbots já estão desempenhando um papel importante devido à escassez contínua de profissionais de saúde mental.
O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido começou a oferecer um chatbot chamado Wysa para ajudar com o estresse, a ansiedade e a depressão entre adultos e adolescentes, incluindo aqueles que estão esperando para consultar um terapeuta.
Algumas seguradoras, universidades e redes de hospitais dos EUA estão oferecendo programas semelhantes.
Alta demanda
Angela Skrzynski, médica em Nova Jersey, diz que os pacientes geralmente ficam muito abertos a experimentar um chatbot depois que ela descreve a lista de espera de meses para consultar um terapeuta.
A empresa em que Angela trabalha, a Virtua Health, começou a oferecer um aplicativo protegido por senha, o Woebot, para selecionar pacientes adultos depois de perceber que seria impossível contratar ou treinar terapeutas suficientes para atender à demanda.
“Não é útil apenas para os pacientes, mas também para o médico que está se esforçando para dar algo a essas pessoas que estão com dificuldades”, disse Angela.
Os dados do Virtua mostram que os pacientes tendem a usar o Woebot cerca de sete minutos por dia, geralmente entre 3h e 5h da manhã.
Fundada em 2017 por um psicólogo formado na Universidade Stanford, a Woebot é uma das empresas mais antigas do setor.
Ao contrário do Earkick e de outros chatbots, o aplicativo da Woebot não usa os grandes modelos de linguagem (LLMs), a IA generativa. Em vez disso, o Woebot usa milhares de scripts estruturados escritos por funcionários e pesquisadores da empresa.
A Woebot oferece aplicativos para adolescentes, adultos, pessoas com transtornos por uso de substâncias e mulheres com depressão pós-parto. Nenhum deles é aprovado pela FDA.
Numa análise abrangente de chatbots de IA publicada no ano passado, entre milhares de artigos analisados da Woebot, apenas 15 atendiam ao padrão de pesquisa médica.
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