Tem um clássico da televisão de aniversário. A Viagem ao Fundo do Mar (Voyage to the bottom of the sea), ficção científica sobre as aventuras de um submarino, está completando 60 anos. A série, produzida por Irwin Allen, foi lançada em 14 de setembro de 1964, originalmente exibida pela rede norte-americana ABC. Foram quatro temporadas até 1968, sendo que a primeira foi em preto e branco e as demais foram produzidas em cores. Como outras produções televisivas lançadas em 1964, a série tornou-se icônica.
A produção de tevê era baseada no filme de mesmo título dirigido pelo produtor Irwin Allen em 1961, que havia sido estrelado por Walter Pidgeon, Peter Lorre e Robert Sterling. No seriado, Richard Basehart interpretava o Almirante Nelson, cientista e militar que havia projetado o submarino nuclear Seaview, com capacidades avançadas de exploração em profundidade. O capitão do submarino, Lee Crane, era interpretado por David Hedison.
Roteiros foram do realismo à fantasia
Quando começou, a série tinha enredos mais realistas. Alguns episódios exploravam as dificuldades da própria missão exploratória do submarino, incluindo desafios técnicos e ameaças à tripulação em tempestades ou acidentes. Outros eram quase histórias de espionagem, acompanhando temas da Guerra Fria e enfocando ameaças vindas de potências estrangeiras ou agentes externos.
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Ao longo das demais temporadas, a pressão do exibidor por mais histórias de aventura acessíveis para um público infantojuvenil foi aumentando a quantidade de episódios de temática fantástica. O Seaview passou a encontrar monstros regularmente, desde homens-peixe até alienígenas e, mesmo, o fantasma de um pirata. David Hedison revelou, anos mais tarde, que os próprios atores achavam algumas das histórias e cenas francamente absurdas nas temporadas finais.
A série se tornou icônica e acumulou algumas curiosidades. Em uma época na qual poucos atores de cinema apareciam em produções televisivas, Richard Basehart era uma atração à parte, tendo estrelado, por exemplo, a adaptação de Moby Dick dirigida por John Huston em 1956 e coestrelada por Gregory Peck. Ao longo de várias temporadas, também houve várias participações especiais de grandes atores, como John Cassavettes, Vincent Price e Richard Carlson.
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O produtor Irwin Allen, que também atuava no cinema, era o mesmo de outras produções icônicas de ficção científica na tevê: Terra de Gigantes, Túnel do Tempo e Perdidos no Espaço. Viagem ao Fundo do Mar usava um recurso que igualmente era bem explorado por Allen em O Túnel do Tempo. Alguns episódios continham cenas de produções de cinema, seja do próprio produtor, seja de produções licenciadas. Um episódio com dinossauros, por exemplo, usava cenas do filme dirigido por Allen O Mundo Perdido (1960), por sinal também com David Hedison no elenco.
Legado da série foi duradouro
Viagem ao Fundo do Mar fez muito sucesso no Brasil, onde seguiu sendo reexibido durante décadas. O título se tornou tão popular que, hoje, chegou a suplantar a memória da própria série. Durante a Olimpíada de 2024 em Paris, quem acompanhou os jogos de vôlei deve ter notado o uso corrente, por comentaristas, deste nome para um tipo de saque. O Viagem ao Fundo do Mar, às vezes só abreviado para Viagem, é um saque no qual o jogador joga a bola para cima, pula alto e a envia em forte trajetória descendente para a outra quadra.
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A dupla principal de Viagem ao Fundo do Mar teve trajetórias diversas após o seriado. Richard Basehart já estava com a carreira cinematográfica em declínio na época da série, mas seguiria fazendo participações esporádicas no cinema, como em A Ilha do Dr. Moreau (1977) e Muito Além do Jardim (1979), além, principalmente, de figurar em produções televisivas, com pontas em séries como Columbo e Vegas. Também fez ponta no primeiro episódio e narrava a introdução do cultuado A Super Máquina (1982-1986). Já David Hedison teve seus papéis principais no cinema após a série, tendo aparecido como personagem regular nos filmes de 007 estrelados por Timothy Dalton (Hedison fazia o agente Felix, da Cia, amigo pessoal de James Bond).
Irwin Allen ainda produziu e codirigiu o sucesso Inferno na Torre (1974), estrelado por Paul Newman e Steve McQueen, que inclusive lhe deu a reputação de “rei do cinema catástrofe”. Ele seguiu trabalhando como roteirista e produtor até sua morte em 1991, aos 75 anos.
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