LITERATURA COM MÚSICA
Surrender: livro de Bono é uma viagem por mais de quatro décadas pelo universo pop
Na obra, vocalista do U2 reforça seu lado mais introspectivo. Livro coincide com os 40 anos do clássico War, que tornou a banda uma referência dos anos 1980 para os fãs de rock
Última atualização: 22/01/2024 14:32
A banda irlandesa U2 é certamente um dos grupos de rock mais bem-sucedidos da história. São 170 milhões de álbuns vendidos, premiações e shows em estádios lotados pelo mundo em mais de quatro décadas de trajetória. Seu vocalista e compositor, Bono – nascido Paul David Hewson, em Dublin, na Irlanda –, tomou a iniciativa de contar a história da banda e sobre sua vida em um livro de memórias, lançado no final do ano passado: Surrender: 40 Músicas, uma História.
Hoje com 62 anos de idade e sendo uma voz conhecida em cada canto do planeta, tanto pelas canções do U2 como pelo lado ativista pelos direitos humanos e meio ambiente, o cantor leva a público outro talento, o de escritor. Surrender é dividido em 40 capítulos, cada um intitulado com o nome de uma canção da banda. É o próprio Bono que conversa com o leitor, começando já no primeiro capítulo a falar, da cama de um hospital, sobre o sério problema cardíaco que carrega consigo.
Por sinal, o livro merece muitos elogios pela forma com a qual Bono se comunica, usando sua habilidade em criar belos versos para contar sua história em forma de prosa. É uma característica presente em todas as páginas de Surrender a capacidade do artista em se abrir, revelando seus medos e falhas, despindo-se do traje de celebridade intocável que encanta plateias e anda com presidentes de nações. Ou pelo menos tenta se despir. “Eu sou inteligente o suficiente para saber que não sou inteligente”, escreve em certo momento.
A tristeza pela perda de sua mãe quando tinha apenas 14 anos e como isso influenciou na vida adulta e na relação com o pai está presente no livro, assim como o relato do início da amizade com seus parceiros de banda: Adam Clayton, The Edge e Larry Mullen Jr. Sua mulher, Ali, namorada na adolescência e esposa desde 1982, recebe uma atenção especial nos escritos de Bono.
E como não poderia deixar de ser, ele cita a todo momento sua espiritualidade e como conseguiu, nos primeiros anos de músico, relacionar o tradicionalismo cristão com a rebeldia punk. “Aquele cristianismo de adesivo de para-choque afastava as pessoas da igreja”, diz.
Música e ativismo
Por óbvio, a música é o assunto mais presente no livro, principalmente os primeiros ensaios, a aventura por Londres distribuindo fitas cassetes às gravadoras, a produção dos álbuns e a inspiração para compor canções. A paixão de Bono pelo punk rock, Bob Dylan e David Bowie são destacados pelo autor que ainda menciona outros músicos contemporâneos.
Ele chega a comentar sobre os artistas da década de 1990, surgidos em um período no qual o U2 deu uma nova roupagem ao seu estilo, a partir do álbum Achtung Baby. “...ouvíamos as bandas de garagem e grunge americanas – Pixies, Nirvana, Smashing Pumpkins, Pearl Jam, Hole. Adoramos a volta dos britânicos às paradas com o Oasis...”
O contexto político é abordado exaustivamente. Bono trata dos conflitos pela libertação da Irlanda do Norte, de sua luta pelo combate à Aids e o perdão da dívida externa dos países mais pobres. Esses relatos até podem ficar entediantes ao leitor pela riqueza de detalhes dos encontros com políticos e personalidades. É sabido que o cantor está no grupo dos “ame-o ou odeie-o” por causa de seus longos discursos. Mas, são uma parte relevante de sua vida, motivo de orgulho para ele e, portanto, compreensível.
Surrender: 40 Músicas, uma História é uma leitura fácil, mas não rápida – são 640 páginas. A edição, no Brasil editada pela Intrínseca, ainda traz ilustrações, fotos antigas e trechos traduzidos de composições do grupo. É uma agradável viagem pelo tempo, pelo universo da música pop e pela mente de um influenciador da contemporaneidade.
War e Under a Blood Red Sky completam 40 anos
Lançado no dia 28 de fevereiro de 1983, War é considerado um marco na carreira do U2 e do rock daquela década. Com os clássicos Sunday Bloody Sunday e New Year’s Day e canções memoráveis como Two Hearts Beat as One e Like a Song, o álbum deu ao grupo um novo status dentro da indústria fonográfica. Uma característica da obra é o seu lado político e contestador.
As mortes em conflitos na Ilha da Irlanda, envolvendo civis, militares e religiosos começam a fazer parte das letras e dos discursos de Bono. Para quem não conhece a história de Sunday Bloody Sunday (I can’t believe the news today...), a canção é uma referência à morte de civis na Irlanda do Norte encurralados por uma investida do exército britânico. “Eu tinha 11 anos, e fico de estômago embrulhado até hoje.” Fora este lado ativista do álbum – importante, claro –, musicalmente War é uma obra-prima merecendo ser revisitado por antigos e novos fãs e por quem não conhece a banda.
Também em 2023 é comemorado os 40 anos do álbum Under a Blood Red Sky, gravado na turnê da banda nos Estados Unidos. Os shows do grupo foram marcados pelo viés político e traz versões Sunday Bloody Sunday e New Year’s Day que ficaram tão conhecidas quanto as de estúdio.
Songs of Surrender será lançado em março
No embalo do livro, no dia 17 de março a banda lançará nas plataformas de áudio, em CD e LP, seu álbum Songs of Surrender. O trabalho terá 40 músicas já conhecidas pelo público, mas em novas versões. Algumas destas já estão disponíveis nas plataformas de áudio e no canal oficial do U2 no YouTube. Nada de importante, apenas uma forma de “requentar” sucessos antigos.
Assista ao vídeo de divulgação: