A banda irlandesa U2 é certamente um dos grupos de rock mais bem-sucedidos da história. São 170 milhões de álbuns vendidos, premiações e shows em estádios lotados pelo mundo em mais de quatro décadas de trajetória. Seu vocalista e compositor, Bono – nascido Paul David Hewson, em Dublin, na Irlanda –, tomou a iniciativa de contar a história da banda e sobre sua vida em um livro de memórias, lançado no final do ano passado: Surrender: 40 Músicas, uma História.
Hoje com 62 anos de idade e sendo uma voz conhecida em cada canto do planeta, tanto pelas canções do U2 como pelo lado ativista pelos direitos humanos e meio ambiente, o cantor leva a público outro talento, o de escritor. Surrender é dividido em 40 capítulos, cada um intitulado com o nome de uma canção da banda. É o próprio Bono que conversa com o leitor, começando já no primeiro capítulo a falar, da cama de um hospital, sobre o sério problema cardíaco que carrega consigo.
Por sinal, o livro merece muitos elogios pela forma com a qual Bono se comunica, usando sua habilidade em criar belos versos para contar sua história em forma de prosa. É uma característica presente em todas as páginas de Surrender a capacidade do artista em se abrir, revelando seus medos e falhas, despindo-se do traje de celebridade intocável que encanta plateias e anda com presidentes de nações. Ou pelo menos tenta se despir. “Eu sou inteligente o suficiente para saber que não sou inteligente”, escreve em certo momento.
A tristeza pela perda de sua mãe quando tinha apenas 14 anos e como isso influenciou na vida adulta e na relação com o pai está presente no livro, assim como o relato do início da amizade com seus parceiros de banda: Adam Clayton, The Edge e Larry Mullen Jr. Sua mulher, Ali, namorada na adolescência e esposa desde 1982, recebe uma atenção especial nos escritos de Bono.
E como não poderia deixar de ser, ele cita a todo momento sua espiritualidade e como conseguiu, nos primeiros anos de músico, relacionar o tradicionalismo cristão com a rebeldia punk. “Aquele cristianismo de adesivo de para-choque afastava as pessoas da igreja”, diz.
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Música e ativismo
Por óbvio, a música é o assunto mais presente no livro, principalmente os primeiros ensaios, a aventura por Londres distribuindo fitas cassetes às gravadoras, a produção dos álbuns e a inspiração para compor canções. A paixão de Bono pelo punk rock, Bob Dylan e David Bowie são destacados pelo autor que ainda menciona outros músicos contemporâneos.
Ele chega a comentar sobre os artistas da década de 1990, surgidos em um período no qual o U2 deu uma nova roupagem ao seu estilo, a partir do álbum Achtung Baby. “…ouvíamos as bandas de garagem e grunge americanas – Pixies, Nirvana, Smashing Pumpkins, Pearl Jam, Hole. Adoramos a volta dos britânicos às paradas com o Oasis…”
O contexto político é abordado exaustivamente. Bono trata dos conflitos pela libertação da Irlanda do Norte, de sua luta pelo combate à Aids e o perdão da dívida externa dos países mais pobres. Esses relatos até podem ficar entediantes ao leitor pela riqueza de detalhes dos encontros com políticos e personalidades. É sabido que o cantor está no grupo dos “ame-o ou odeie-o” por causa de seus longos discursos. Mas, são uma parte relevante de sua vida, motivo de orgulho para ele e, portanto, compreensível.
Surrender: 40 Músicas, uma História é uma leitura fácil, mas não rápida – são 640 páginas. A edição, no Brasil editada pela Intrínseca, ainda traz ilustrações, fotos antigas e trechos traduzidos de composições do grupo. É uma agradável viagem pelo tempo, pelo universo da música pop e pela mente de um influenciador da contemporaneidade.
War e Under a Blood Red Sky completam 40 anos
Lançado no dia 28 de fevereiro de 1983, War é considerado um marco na carreira do U2 e do rock daquela década. Com os clássicos Sunday Bloody Sunday e New Year’s Day e canções memoráveis como Two Hearts Beat as One e Like a Song, o álbum deu ao grupo um novo status dentro da indústria fonográfica. Uma característica da obra é o seu lado político e contestador.
As mortes em conflitos na Ilha da Irlanda, envolvendo civis, militares e religiosos começam a fazer parte das letras e dos discursos de Bono. Para quem não conhece a história de Sunday Bloody Sunday (I can’t believe the news today…), a canção é uma referência à morte de civis na Irlanda do Norte encurralados por uma investida do exército britânico. “Eu tinha 11 anos, e fico de estômago embrulhado até hoje.” Fora este lado ativista do álbum – importante, claro –, musicalmente War é uma obra-prima merecendo ser revisitado por antigos e novos fãs e por quem não conhece a banda.
Também em 2023 é comemorado os 40 anos do álbum Under a Blood Red Sky, gravado na turnê da banda nos Estados Unidos. Os shows do grupo foram marcados pelo viés político e traz versões Sunday Bloody Sunday e New Year’s Day que ficaram tão conhecidas quanto as de estúdio.
Songs of Surrender será lançado em março
No embalo do livro, no dia 17 de março a banda lançará nas plataformas de áudio, em CD e LP, seu álbum Songs of Surrender. O trabalho terá 40 músicas já conhecidas pelo público, mas em novas versões. Algumas destas já estão disponíveis nas plataformas de áudio e no canal oficial do U2 no YouTube. Nada de importante, apenas uma forma de “requentar” sucessos antigos.
Assista ao vídeo de divulgação:
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