Um filme denso, dramático, adentrando no terror e ainda em um cenário de pós-faroeste americano há “apenas” 100 anos. Para o cineasta Martin Scorsese e seus amigos e astros oscarizados Leonardo DiCaprio e Robert De Niro, uma forma de denunciar abertamente os covardes assassinatos de indígenas negligenciados pelos poderes das autoridades brancas e colonizadoras em meio à sua ganância e preconceito.
Baseado no livro Assassinos da Lua das Flores: Petróleo, Morte e a Origem do FBI, de David Grann, o filme que estreia neste fim de semana conta a história real de assassinatos de membros da tribo Osage nos EUA no começo do século 20. Diferentes de outras tribos indígenas, os Osage (nome dado pelos franceses que os encontraram, pois os nativos se chamam de Wazhazhe) eram milionários, tudo graças à descoberta de petróleo em suas terras, que, quando “dadas” a eles pelo governo no final do século 19, eram tidas como sem valor e áridas.
Apesar de DiCaprio e De Niro em cena, a crítica é unânime em eleger a atriz Lily Gladstone (que tem descendência indígena) como a grande estrela da produção, e, desde já, candidata ao Oscar, assim como o filme.
Ela vive Mollie, nativa milionária da descendência indígena Osage que se casa com Ernest Burkhart (DiCaprio), sobrinho do poderoso William Hale (De Niro), e vê parentes seus morrerem de forma estranha em meio à guerra do petróleo.
A cega justiça do homem branco
Os “homens brancos” são “guardiões” dos índios ricos que, conforme o governo americano, não são capazes de administrar sozinhos a fortuna do petróleo. Cercados por ganância e gente inescrupulosa, os nativos começam a morrer “misteriosamente”, e logo se vê que na realidade são vítimas de assassinatos. Mas a polícia e justiça dos brancos se faz cega de verdade aos fatos.
Neste cenário surge o lendário J. Edgar Hoover e o seu, então nascente, escritório de investigações que viria a se transformar no famoso FBI. Mas esse não é o cerne do filme.
Scorsese e seus companheiros buscam “denunciar” – dentro dos seus parâmetros – esta falta de justiça com os índios mortos e, de certa forma, mostrar que ainda hoje vivemos sob racismo, hipocrisia e impunidade.
O único porém do filme já aclamado pela crítica é dado por representantes de descendentes indígenas que elogiaram Scorsese por trazer o assunto à tona e expor a crueldade da história, mas ao mesmo tempo há a crítica sobre a “humanização” do personagem Ernest Burkhart, de dar ao homem branco um tom de justificação de crime passional.
São três horas e meia puxadas de um denso filme , mas o espectador sai recompensado. O espaço aqui é pequeno para uma avaliação mais profunda, mas, resumindo, Scorsese usa todas as suas armas e experiência para chocar e conquistar a audiência. E, mais uma vez, com maestria, aos seus 80 anos de idade, é bem-sucedido.
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