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CLÁSSICO EM EXIBIÇÃO

'Orfeu Negro': muito mais do que um filme sobre carnaval

Ambientado no Rio de Janeiro, longa-metragem de 1959 pode ser assistido na sessão de abertura de mostra de cinema que se inicia nesta quinta-feira em Porto Alegre

Publicado em: 01/03/2023 às 17h:40
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As fantasias do carnaval ainda não foram guardadas em 2023 em muitos lugares, como é o caso de Porto Alegre, onde ocorrerá no próximo fim de semana o tradicional desfile das escolas de samba. Nesse embalo, começa na quinta-feira (2), e vai até o dia 12 de março, a mostra ‘Recordar é Viver! Histórias de Carnavais’ na Cinemateca Capitólio, na capital gaúcha. A atividade trará uma seleção de filmes sobre a festa mais popular do Brasil. Entre os escolhidos para exibição está o longa-metragem ‘Orfeu Negro’.

'Orfeu Negro' foi premiado com o Oscar, Palma de Ouro e Globo de Ouro



‘Orfeu Negro’ foi premiado com o Oscar, Palma de Ouro e Globo de Ouro

Foto: Reprodução

O filme estará em cartaz já no primeiro dia de mostra às 19h30, e se trata de um clássico de 1959 que ganhou destaque no mundo com a conquista do Oscar de melhor filme estrangeiro, Palma de Ouro no Festival de Cannes e ainda o Globo de Ouro.

Para quem não puder assistir na Cinemateca Capitólio – também haverá uma sessão no dia 9 –, a dica é tentar ver de casa pelas plataformas de streaming: pela Apple TV ou pelo YouTube Movies (por aluguel).

Apesar de ter o Rio de Janeiro como cenário e contar com um elenco majoritariamente brasileiro, essa é uma produção francesa (na verdade, franco-italo-brasileira) dirigida por Marcel Camus, que também assina o roteiro ao lado de Jacques Viot. O enredo é inspirado na peça ‘Orfeu da Conceição’, de Vinícius de Moraes, e na história grega do mito de Orfeu.

A estrela do filme é Breno Mello, que nasceu em Porto Alegre mas morou e formou família em Novo Hamburgo. Ele interpreta o condutor de bonde e sambista Orfeu. Na véspera do carnaval, o personagem conhece Eurídice (Marpessa Dawn), uma jovem do interior que chega ao Rio de Janeiro para fugir de um estranho fantasiado de morte. Ela e Orfeu se apaixonam, causando ciúmes na linda noiva de Orfeu, Mira (Lourdes de Oliveira).

‘Orfeu Negro’ é um filme com diferentes camadas. Você pode focar no romance do casal protagonista, dar mais ênfase ao carnaval e a tudo que envolve a festa, destacar o protagonismo negro ou, seguindo alguns críticos, analisar a simplificação do Brasil como um país exótico aos turistas.

A trama já começa destacando a música brasileira, com o clássico da bossa nova ‘A Felicidade’ (…Tristeza não tem fim, felicidade sim…). Inclusive, não se pode desconsiderar a relevância do longa para difundir esse gênero musical mundo afora, com uma trilha que inclui também ‘Manhã de carnaval’.

Acompanhando a música no início do filme, imagens mostram a comunidade do morro em sua rotina diária, com sorrisos no rosto à espera do momento de desfilar no carnaval, tendo em segundo plano as belezas naturais do Rio de Janeiro.

É um ambiente marcado pela miséria, claro, mas transformado pelo diretor francês em um cenário cheio de cores e musicalidade, o que mereceu críticas na época do lançamento pelo contraste com a realidade social.

Por outro lado, mesmo produzido na metade do século 20, ‘Orfeu Negro’ antecipa a desconstrução da ideia de que na pobreza não pode existir um mínimo de alegria. As cenas enfatizam o brilho nos olhos dos moradores do lugar e o orgulho deles por fazerem parte daquele espaço. É caricato e recheado de clichês em alguns pontos, é verdade, mas faz um recorte interessante do empoderamento das comunidades mais pobres. Bem atual.

O homem Orfeu passa uma imagem de autoafirmação por onde passa. Apesar de morar em um barraco com pequenos animais, tem a postura de um rei com seu violão. Encanta as mulheres à sua volta e inspira homens e crianças. Já as belas Mira e Eurídice são as rainhas, cada uma ao seu modo.

Olhando com distanciamento e reconhecendo o contexto do período, são compreensíveis os erros, como na edição de som, e a previsibilidade do roteiro. Mas nada disso tira o mérito de ‘Orfeu Negro’ como um marco para o cinema que aborda o Brasil. Merece mais elogios do que críticas.

Programação da mostra Recordar é Viver! Histórias de Carnavais


O gaúcho Breno Mello interpreta o protagonista de 'Orfeu Negro'



O gaúcho Breno Mello interpreta o protagonista de 'Orfeu Negro'

Foto: Lopert Pictures/Divulgação


Quinta-feira (2)
19h30 – Orfeu do Carnaval – R$ 10 o ingresso

Sexta-feira (3)
15 horas – A Baronesa Transviada – exibição gratuita
17 horas – Carnaval Atlântida – exibição gratuita
19h30 – Projeto Raros: Artesanato do Samba + Samba da Criação do Mundo – exibição gratuita

Sábado (4)
19 horas – Ladrões de Cinema – R$ 10 o ingresso

Domingo (5)
17 horas – Quando o Carnaval Chegar – R$ 10 o ingresso
19 horas – O Gigante da América – exibição gratuita

Terça-feira (7)
17 horas – Mulher Satânica – R$ 10 o ingresso
19 horas – Casanova de Fellini – R$ 10 o ingresso

Quarta-feira (8)
19 horas – Carnaval de Rua de Porto Alegre + Errante – Um Filme de Encontros + debate – R$ 10 o ingresso

Quinta-feira (9)
17 horas – Orfeu do Carnaval – R$ 10 o ingresso
19 horas – A Baronesa Transviada – exibição gratuita

Sexta-feira (10)
15 horas – Mulher Satânica 16h30 – Casanova de Fellini – R$ 10 o ingresso

Sábado (11)
17 horas – Carnaval Atlântida – exibição gratuita
19 horas – Rio, Zona Norte – R$ 10 o ingresso

Domingo (12)
16h30 – O Que Foi o Carnaval de 1920! + Nossa Escola de Samba + Arrasta a Bandeira Colorida – exibição gratuita
18 horas – Harmonia + debate – R$ 10 o ingresso

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