NOSTALGIA TELEVISIVA

Militarista e politizada, série Águia de Fogo faz 40 anos

Seriado sobre helicóptero superequipado foi lançado em janeiro de 1984 nos Estados Unidos

Publicado em: 22/01/2024 09:00

Entre os seriados de televisão que estão de aniversário em 2024, um deles faz parte da onda militarista que assolava os Estados Unidos quatro décadas atrás. Airwolf, no Brasil chamado Águia de Fogo, estreou em janeiro de 1984 pela rede norte-americana CBS. A produção era de Donald Belisario, o mesmo do então sucesso Magnum, com Tom Selleck. Por aqui, passava na Globo.


O helicóptero Águia de Fogo (Airwolf, no original em inglês) Foto: Reprodução

A trama envolvia espionagem mas também tinha um subtexto político. O título vinha de um protótipo de helicóptero avançado desenvolvido pelos militares norte-americanos, chamado Airwolf (no Brasil, "Águia de Fogo"), que ia parar no centro de uma disputa de poder.

Logo no primeiro episódio, o cientista-chefe do projeto Airwolf decidia desertar e vender a máquina a potências inimigas no Oriente Médio. Desesperada, a agência de inteligência norte-americana, a Cia, decidiu contatar um piloto com experiência em ações furtivas para tentar recuperar o helicóptero. Ele conseguia reaver o aparelho, mas tomava, por sua vez, a decisão de não devolvê-lo ao governo. Ele acabava fazendo um acordo de cumprir missões especiais, em troca da promessa de que a Cia o ajudasse a encontrar seu irmão, um operativo da Cia desaparecido em uma operação secreta.

Tom politizado

A série tinha um forte tom político, num período em que os Estados Unidos passavam por um ressurgimento de ideias militaristas. Foi a mesma época que viu produções de cinema estreladas por militares renegados ou radicalizados, como Rambo (com Sylvester Stallone) e Comando para Matar (com Arnold Schwarzenegger).

Havia vários diferenciais em Águia de Fogo, um dos quais o fato de que, diferentemente de outras produções televisivas da época, trazia atores consagrados no cinema. Num período em que isso ainda não era tão comum quanto hoje, estavam no elenco o veterano Ernest Borgnine (de Os 12 Condenados) e o galã Jean-Michael Vincent, que havia contracenado na telona com Charles Bronson e Robert Mitchum, entre outros.


Ernest Borgnine e Jean-Michael Vincent estrelavama série Airwolf, mas foram cortados na quarta temporada Foto: Reprodução

Vincent fazia o piloto que decidia chantagear a Cia. Seu nome era Stringfellow Hawke, que, literalmente traduzido, soa como "Águia amiga das cordas". O personagem vivia sozinho nas montanhas e gostava de tocar violoncelo, o que fazia sozinho em frente a um lago onde costumava voar uma grande águia. Tratava-se de uma metáfora, já que a águia é um dos símbolos norte-americanos. 

A postura politizada da série não tinha a ver apenas com as temáticas de espionagem, mas com o fato de que o herói tinha uma discordância pessoal em relação à políticas norte-americanas que fossem moderadas. Enquanto seu contato na Cia alertava que era preciso ter cautela no contato com poderes estrangeiros, o herói Stringfellow Hawke tinha ideias mais agressivas. Sua postura ecoava a de outros patriotas ressentidos da ficção dos anos 1980, como o próprio Rambo. O personagem de Borgnine era sócio de Hawke em uma empresa de aluguel de helicópteros e fazia, por sua vez, o gênero do sujeito que não gosta do governo federal. Trata-se de um estilo político conservador, identificado com o interior.

Curiosidades da produção

Águia de Fogo teve quatro temporadas até 1987, período durante o qual colecionou algumas curiosidades. Vincent tinha sérios problemas de alcoolismo que complicaram a produção mais de uma vez. Na última temporada, a produtora decidiu cortar custos e afastou tanto o ator quanto Ernest Borgnine. Na trama, o personagem de Borgnine morreu e o piloto vivido por Vincent teve que ir trabalhar no Oriente Médio em pagamento para a Cia, depois que a agência encontrou seu irmão. O personagem obscuro do irmão estrelava a temporada final, que também não teve cenas inéditas do helicóptero-título, cujo aluguel não foi renovado.

O helicóptero usado na série era um Bell 222 modificado. Ele ganhou decoração especial, mas estava longe de ter os atributos da máquina descrita na trama, que era capaz de romper a barreira do som (ainda hoje, nenhum helicóptero faz isso) e podia fazer voos estratosféricos. O Airwolf da série também não aparecia em radares, um recurso que só apareceria mais tarde na Força Aérea dos EUA, com o F-117 Stealth Fighter.

No Brasil, o título Airwolf ("lobo do ar") foi mudado para o mais simples "Águia de Fogo". Havia alguma relação com a trama mesmo assim, porque havia a relação com águias no nome do personagem principal e também nas cenas que evocavam a águia norte-americana.

Curiosamente, embora outras séries da época tenham sido retomadas em forma de remake, como Magnum, do mesmo produtor Donald Belisario, Airwolf não retornou. Isso pode estar ligado, em parte, ao tom altamente político da trama, que virou parcialmente um anacronismo. É possível que um eventual novo mandado republicano na Casa Branca retome interesse na série, que por enquanto segue no status de cult.

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