(Sem spoilers)
Quando Meu Pai foi lançado no Brasil, em abril de 2021, a pandemia ainda era uma realidade bem próxima das pessoas. E como consequência, o cinema deixou de ser opção de lazer a muitos brasileiros. Na época, o filme ficou pouco tempo nas salas de cinema, entrou em algumas plataformas de streaming, por locação, e meses mais tarde foi disponibilizado em blu-ray.
O resultado disso é que boa parte do público não teve a oportunidade de assistir a um dos melhores filmes lançados nos últimos anos. E, agora, com a entrada recente no catálogo da Netflix, não há motivo para não conhecer essa produção.
Escrito e dirigido pelo francês Florian Zeller, o longa-metragem é inspirado em uma peça também de autoria do diretor. Pelo trabalho, Zeller ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado e Meu Pai ainda trouxe como destaque a atuação de Anthony Hopkins, que venceu o Oscar de melhor ator – o segundo em sua carreira. O primeiro, quem não lembra, foi com o memorável vilão Dr. Hannibal Lecter, de Silêncio dos Inocentes (1991).
A história segue Anthony (Hopkins), um homem com mais de 80 anos de idade que começa a perder a memória e o senso de realidade. Apesar da doença, ele recusa a ajuda da filha Anne, interpretada por Olivia Colman. A mulher faz de tudo para ajudar o pai, mas vê a situação piorar a cada dia.
Filmes sobre demência e doença de Alzheimer, por sinal, não são nenhuma novidade. Um bom exemplo é Para Sempre Alice (2014), que mostra o caso real da professora de linguistica Alice Howland, vivida por Julianne Moore. Em qualquer uma dessas histórias, a emoção fala mais alto, fortalece a empatia por doentes na vida real e pelas pessoas à sua volta, pois essas acabam deixando suas próprias vidas de lado por amor ao familiar.
E por que este filme é tão bom?
Além de abordar com delicadeza a rotina daquela família, a narrativa é construída de tal forma que nós, espectadores, vivenciamos as dificuldades não somente de Anne, mas principalmente de Anthony. Isso porque o roteiro e a montagem nos permitem mergulhar no universo do protagonista. Somos levados a observar o desenrolar dos fatos sob o ponto de vista do personagem. E, assim, como ele, ficamos confusos.
O apartamento muda sua decoração a todo o instante, pessoas mudam de nome, nomes mudam de rostos e diálogos se repetem. Anthony se perde e já não sabe mais com quem está conversando. Sua percepção sobre o tempo presente se desfaz e ele começa a chamar por familiares que não estão vivos. Neste ponto, a carga de emoção só aumenta.
Em resumo, Meu Pai é uma aula de roteiro e de atuação, qualidades ampliadas pela relevância do assunto abordado. Imperdível.
A sequência O Filho, também dirigida por Florian Zeller, já está disponível em algumas plataformas de streaming por aluguel.
Assista ao trailer de Meu Pai:
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