No final de 2023, debutou no streaming da Disney+ o cultuado seriado Doctor Who, produção de ficção científica da britânica BBC. Foi uma boa notícia para os fãs do Brasil, que estavam sem acesso oficial à série desde que saiu do hoje extinto SyFy. Quem não conhecia pode ter ficado curioso e até pode ter tido várias dúvidas. Não é à toa. Doctor Who é um dos mais antigos seriados de ficção científica. Ele começou a ser produzido em 1963 e acaba de completar 60 anos.
Nestas seis décadas, a série construiu toda uma mitologia, que vive se transformando. Por sinal, uma das curiosidades é que o personagem principal, Doctor Who, é sempre o mesmo, mas o ator que o interpreta muda periodicamente. Acaba de acontecer isso. Nos especiais que estão no streaming da Disney, que são todos de 2023, há três episódios com David Tennant e um com o novo ator, Ncuti Gatwa.
A trama
Doctor Who é o nome de um alienígena misterioso, um dos lordes do tempo (timelords) do planeta Gallyfrey. Eles têm a capacidade de viajar tanto no espaço quanto no tempo, usando espaçonaves especiais, as Tardis. Doctor Who é uma espécie de renegado. Ele roubou uma destas naves e passou a viajar pelo universo, às vezes apanhando alguns caroneiros no caminho que atuam como companheiros de aventura. São os companions.
Os episódios podem se passar no espaço, em planetas distantes ou no passado da Terra ou de qualquer outra parte do universo. Também há episódios no futuro. Algumas tramas, inclusive, são ambientadas fora do próprio universo, em dimensões exóticas.
A trama básica vai se transformando. No início, em 1963, Doctor Who era um foragido de seu planeta. Depois, virou uma espécie de agente livre. Nos anos 2000, seu planeta foi destruído e ele virou o último sobrevivente. Depois o planeta foi redescoberto. Atualmente, foi destruído de novo por um inimigo. E o personagem deu indicativos de que não é nativo do planeta, mas adotado lá, permanecendo o resto um mistério.
Uma das curiosidades é a nave do Doctor Who, a Tardis. Os timelords conhecem tecnologia para ampliar dimensões, então podem fazer com que um objeto seja maior por dentro do que por fora. A nave do personagem tem o formato de uma cabine telefônica, mas é muito maior por dentro. Alguns episódios sugerem que tem até um oceano em uma das salas. A Tardis muda conforme o local onde pousa, para não chamar a atenção. Mas a do Doctor Who estragou um circuito e ficou travada no disfarce de quando pousou em 1963, época em que havia se disfarçado de cabine policial.
Os atores
Desde os anos 1960, quando um ator abandona o papel de Doctor Who, outro assume o personagem, mas há um artifício narrativo para que isso aconteça. Os timelords não morrem, mas se regeneram. Quando são feridos ou correm risco de vida, eles mudam de rosto e assumem novo visual. Nos episódios que estão no streaming da Disney, isto acontece em “Risadinha” (“The Giggle”), quando o personagem vivido por Tennant é atingido por um raio e se regenera, dando origem a outro Doctor Who, encarnado por Gatwa.
O histórico de produção é tão longo e complicado quanto a evolução da trama. No início, em 1963, a produção era da BBC, canal estatal de tevê aberta inglês com um forte nucleo de dramaturgia. Com muitas novelas e produções históricas, era fácil adaptar sets e figurinos para os episódios de um viajante do tempo. Naquela época, as tramas eram serializadas. Havia arcos de quatro a seis episódios, que tinham meia hora e terminavam com ganchos para continuação.
A produção seguiu neste sistema até 1989, quando foi cancelada. Os atores deste período foram William Hartnell (1963–1966), Patrick Troughton (1966–1969), John Pertwee (1970–1974), Tom Baker (1974–1981), Peter Davidson (1981–1984), Colin Baker (1984–1986) e Sylvester McCoy (1987–1989). Um dos mais cultuados nesta fase foi Tom Baker, famoso pelo Doctor Who que usava um longo cachecol. Houve um hiato de um ano e meio entre 1985 e 1986. O personagem voltou em 87, mas acabou cancelado.
Idas e vindas da produção
Em 1996 houve um telefilme, numa tentativa da BBC de fazer um convênio com a televisão norte-americana. O Doctor Who foi vivido por Paul McGann. O revival não vingou. A série voltaria apenas em 2005, desta vez sob a produção do braço da BBC no País de Gales.
No retorno em 2005, Doctor Who virou série convencional, com episódios de uma hora e tramas independentes, embora às vezes em grandes arcos. Os atores foram Christopher Eccleston (2005), David Tennant (2005-2010, com retorno nos especiais de 2023), Matt Smith (2010-2013), Peter Capaldi (2013-2017) e Jodie Whittaker (2017-2022). Jodie foi a primeira encarnação feminina do personagem. Já o atual, vivido por Ncuti Gatwa, é o primeiro afrodescendente. Os pais do ator são de Ruanda, mas ele foi criado na Escócia.
Produtores e roteiristas
Os showrunners, que são os produtores da série, responsáveis por escalação, escolha de roteiristas, às vezes até roteiros e também direção de alguns episódios, mudam bastante também. Em 2005, o showrunner que ressuscitou a série era Russell T. Davis, depois sucedido por Steven Moffat. Chris Chibnall, que assumiu em 2017 e trouxe Jodie Whitakker, apostou em uma linha mais social e inclusiva, o que ajudou a despertar o interesse da Disney, que entrou com participação na nova fase. O showrunner a partir de 2023 voltou a ser Russell T. Davis, mas mantendo esta linha.
Os novos episódios foram anunciados para o primeiro semestre de 2024. Por enquanto, é possível conferir os que estão na Disney. Outros serviços de streaming e até arquivos pela Internet podem incluir episódios mais antigos.
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