LITERATURA
Ficção russa pioneira completa um século
Publicado pela primeira vez em 1924, livro de ficção científica Nós, do russo Yevgeni Zamyatin, influenciou George Orwell e Aldous Huxley e foi pioneiro do gênero das distopias
Talvez você não conheça o livro Nós, do escritor russo Yevgeni Zamyatin. Porém, certamente, já ouviu falar de obras que foram influenciadas por ele, como 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. São estas obras que criaram todo um subgênero da literatura: a distopia ou romance distópico. Esta vertente ainda faz sucesso e originou, por exemplo, filmes e livros que ainda fazem sucesso, como a série Jogos Vorazes.
Nós foi lançado em 1924 e acompanhava um engenheiro que vivia sob um regime totalitário em um futuro indeterminado. Todas as casas eram de vidro para que os cidadãos vigiassem uns aos outros. Ninguém tinha nomes, só designações com letras e números. Absolutamente todas as ações de cada um, desde as refeições até o sexo, eram programadas pelo Estado e tinham horários e procedimentos rígidos. Entretanto, o protagonista conhecia uma mulher enigmática que não obedecia às regras e acabava mudando radicalmente sua forma de pensar. Ela era, na realidade, integrante de um movimento subterrâneo de resistência.
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A história do romance era uma paródia do comunismo. O autor Zamyatin (1884-1937) passou pelas revoluções russas que culminaram no regime soviético. Era engenheiro naval e escrevia por hobby. Embora tenha apoiado os bolcheviques no início, tornou-se crítico em relação ao sistema comunista e foi proibido de publicar na União Soviética. Seu livro Nós foi escrito entre 1920 e 1921, mas só publicado pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1924, em tradução para o inglês.
Livro influenciou clássicos sobre distopias
Foi a partir desta tradução que o livro foi lido por George Orwell, que publicaria 1984 em 1949. Aldous Huxley também foi influenciado pelo título em seu Admirável Mundo Novo, de 1932. Ambos os livros, igualmente, retratam distopias, ou seja, sociedades futuristas sombrias. Há várias semelhanças nas histórias, como o fato de que todas trazem governos totalitários que limitam pesadamente as liberdades individuais. Todos, também, acompanham heróis que se rebelam tragicamente contra o sistema e são ou destruídos por ele ou submetidos de forma implacável.
Zamyatin chegou a ser preso e exilado antes de ter escrito seu romance mais famoso. Trabalhou em um estaleiro na Inglaterra em 1916, antes de voltar ao seu país. Após a ascensão dos bolcheviques, fez oposição ao governo Stalin e esteve na mira do regime, mas foi autorizado a se exilar com a família em 1931, graças à intervenção do escritor Máximo Gorki. Zamyatin morreria na França, em 1937.
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Por conta do centenário, o romance Nós foi recentemente republicado no Brasil. Uma adaptação russa para o cinema foi lançada em 2023, com o título "Meu", com direção de Hamlet Dulyan e estrelado por Egor Koreshkov, Elena Podkaminskaya e Yuri Kolokolnikov.