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VOZES FEMININAS

ENTREVISTA: Vozes da América Latina ganham destaque em apresentação de Shana Müller em Novo Hamburgo

Cantora tradicionalista traz para o Teatro Paschoal Carlos Magno canções de grandes cantoras do tradicionalismo sul-americano

Eduardo Amaral
Publicado em: 10/10/2024 às 15h:44 Última atualização: 10/10/2024 às 15h:44
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A nova turnê do show “Canto América” chega nesta sexta-feira (11) em Novo Hamburgo com a cantora Shana Müller subindo ao palco para trazer composições que fazem parte da sua trajetória pessoal e do imaginário cultural do Rio Grande do Sul e dos países da América Latina. No repertório, músicas que ficaram conhecidas nas vozes da argentina Mercedes Sosa (La Negra) e da chilena Violeta Parra.

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Shana Müller sobe ao palco do Teatro Municipal de Novo Hamburgo trazendo um repertório de grandes cantoras latino-americanas | abc+



Shana Müller sobe ao palco do Teatro Municipal de Novo Hamburgo trazendo um repertório de grandes cantoras latino-americanas

Foto: Pedro Manoel Osório

O projeto celebra também os 20 anos de carreira de Shana Müller e foi aprovado pelo Edital Cultural Reconstruir RS do Banrisul. A proposta da artista nativista é promover a interiorização da cultura, por isso o show vai percorrer diversas cidades do interior do Rio Grande do Sul.

Os ingressos podem ser adquiridos através do site da Sympala e custam entre R$ 20 (meia entrada) e R$ 40 (inteira). Há ainda a possibilidade de comprar o ingresso solidário, ao custo de R$ 30 com doação de um quilo de alimento não perecível.

Para amplificar a proposta de interiorização, o show também tem em cada uma das cidades uma convidada local, que em Novo Hamburgo será a cantora Susane Paz. Shana sobe ao palco acompanhada pelos Felipe Barreto no violão, o acordeonista Guilherme Goulart, o pianista Cristian Sperandir, Bruno Coelho e Giovani Berti.

Inclusão e diversidade é uma das marcas buscadas pelo show, que tem tradução em libras e o fornecimento de abafadores de som e objetos sensoriais para incluir a comunidade neuro divergentes.

Mesmo não sendo conhecida por ser uma militante, Shana Müller constrói sua trajetória artística quebrando paradigmas, conseguindo ser uma das principais vozes dentro de um meio bastante dominado por homens. “Trago a pauta do feminino em todas minhas atividades e acredito que a união das mulheres é o caminho para avançarmos na equidade de gênero”.

Em entrevista concedida ao Grupo Sinos ela falou sobre a construção do repertório para o show, além de refletir sobre a carreira e o papel que se propôs no cenário musical nativista.

Grupo Sinos – Como foi a construção do repertório deste novo show?

Shana Müller – Primeiro, são canções que me encantam. Segundo, uma tentativa de fazer esse recorrido por diversos países da América Latina, em ritmos e artistas. O show também tem o intuito de trazer luz às mulheres, então essas temáticas e também canções compostas e criadas por elas foram priorizadas.

Quisemos também sair do lugar comum, mesmo tendo canções que todos cantam e conhecem, poder apresentar ao público outras músicas e sonoridades.

GS – Neste repertório chama atenção a presença de canções de artistas como Mercedes Sosa e Violeta Parra. Qual a importância que essas artistas têm na sua formação musical?

SM – Toda. Fazem parte da minha vida desde a infância, acho que de todas as cantoras do regional gaúcho, porque de certa maneira o folclore desses países também são nossas referências. Ainda mais quando pensamos em uma cultura – como a nossa- sem muitas artistas mulheres.

Na minha casa esse era um “som” comum a voz das mulheres cantando em espanhol. Não há como negar o quanto essas referências de casa nos formam como pessoas e profissionais.

GS – Você já tem uma carreira consolidada dentro da música mais nativa, mesmo assim este é um gênero muitas vezes apontado como machista. Quanto dessa imagem e quanto ela ainda precisa ser mudada?

SM – Sabe o que penso? O que precisa mudar é a mentalidade, em todos os âmbitos. A gente pode até “priorizar” a mulher em um determinado espaço ou evento, por exemplo, mas se por detrás dessa atitude “politicamente correta” não está uma ação consciente, o trabalho é muito mais difícil. Acredito na conscientização e na educação. Tenho dois filhos meninos. Romper com o machismo passa muito pela educação deles.

Quando a gente fala em feminismo não adianta uma luta dentro da nossa própria bolha. Por isso nunca deixei nesses 20 anos de carreira de participar da música regional gaúcha, universo onde a presença e a temática são masculinas. Se eu não estiver ali dentro, não consigo me transformar falando só para quem concorda comigo. É uma luta árdua, mas a entendo como um propósito. Na última década, entender minha arte como instrumento foi uma transformação sem dúvida na minha carreira.

Precisamos de muitas mudanças. Elas são graduais e em universos ligados à tradição a resistência é muito maior sob o argumento de, o que é tradição não se muda. Justamente aí é onde as mudanças precisam acontecer e isso, a meu ver, não quer dizer um rompimento com a raiz. O essencial se mantém, afinal a tradição deve partir do povo e não de cima para baixo. Uma forma de estender esse entendimento da presença da mulher e também trazer musicistas convidadas para expandir esse universo e retribuir oportunidades que eu recebi com generosidade de outros colegas nesses 20 anos.

GS – No material de divulgação você fala sobre a proposta de descentralizar a apresentação. Essa é uma proposta pessoal ou vem em razão de o projeto ter sido aprovado em uma lei de incentivo?

SM – Sempre pessoal, até porque a música folclórica tem fortes relações com o interior.
O Rio Grande do Sul é muito diverso na sua formação étnica e poder levar essa sonoridade a diferentes regiões é um trabalho muito interessante e, claro, contemplar o interior com espetáculos, que a gente sabe que não estão sempre nos circuitos. Arte, música são formas de educação, de formação de consciência e portanto de construção.

GS – Na hora de escolher o repertório e os arranjos, a sua opção foi por manter o mais perto dos originais ou o público vai encontrar novidades durante o show?

SM – A ideia é valorizar os ritmos, a essência, mas sempre permitindo a criação. Essa é uma diretriz do meu trabalho sempre, entender que a arte não tem regra, que a gente pode sempre partir de um ponto, mesmo que ele parta de algo tradicional, já que se permitir um diálogo com o tempo de hoje, com quem faz essa música e com o que quer dizer.

Serviço:

O que: Show Canto de América – Shana Müller

Quando: 11/10/24 – sexta-feira

Onde: Teatro Paschoal Carlos Magno, Rua Engenheiro Ignácio Christiano Plangg, 66, Centro, Novo Hamburgo, RS

Horário: 20 horas

Ingressos: R$40 inteira | R$20 meia | R$30 (Ingresso solidário + 1 Kg de alimento)*

*Doações para instituições que atendem mulheres.

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