Sem Spoilers
Com episódios liberados ao público em partes pela Amazon Prime, a minissérie Daisy Jones & The Six chegou à sua conclusão na sexta-feira (24) merecendo mais elogios do que críticas. A produção é inspirada no best seller homônimo lançado pela escritora Taylor Jenkins Reid, em 2019, e conta a história de uma banda de rock da década de 1970, desde a formação até o sucesso alcançado nos Estados Unidos, com músicas atingindo os primeiros lugares nas rádios e com shows lotados.
Os líderes do grupo são Daisy Jones, interpretada pela atriz Riley Keough – neta de Elvis Presley –, e Billy Dunne, vivido por Sam Claflin – aquele mesmo de Como eu era Antes de Você (2016). Ela era uma solitária aspirante a artista e ele líder de um grupo de rock com seu irmão e alguns amigos. O caminho dos dois se cruzam quando o produtor Teddy Price, interpretado por Tom Wright, vê na união uma possibilidade única. E ele tinha razão.
A trajetória do grupo Daisy Jones & The Six é contada em forma de pseudocumentário, em que os músicos e outros personagens envolvidos com o grupo relatam, décadas depois dos acontecimentos, como ocorreu o fim inesperado da banda. Toda a atmosfera típica de grupos de rock, incluindo drogas, sexo, diversão, brigas, ônibus na estrada e também depressão, é parte da rotina.
É um mérito da linha narrativa e das técnicas de edição conseguir conversar, mesmo contando uma história que teria acontecido 50 anos atrás, com a geração jovem atual, também público-alvo do livro.
Porém, não dá para dizer de que se trata de uma série merecedora de grandes elogios de roteiro. É previsível, pois mesmo quem não leu o livro percebe qual o passo seguinte das ações. E algumas cenas exageram no dramalhão. Sabe a cena da pessoa que diz algo forte, vira as costas emburrada e sai correndo com cara de birra? Pois é.
Limitações à parte, Daisy Jones & The Six tem vários bons momentos que a tornam interessante. Confira cinco motivos para assistir:
1 – Música, muita música
Parece óbvio, mas esse é o grande diferencial da minissérie. Primeiro porque, apesar de ser uma banda fictícia, as canções são originais e de qualidade, apesar de exageradamente românticas às vezes, inspiradas nos anos de 1970 mas com uma sonoridade mais familiar à geração atual. Fora esse ineditismo, a produção presenteia os espectadores com uma trilha sonora recheada de canções reais da época, não somente do gênero rock ‘n’ roll. Cada episódio, aliás, tem o nome de uma música do período.
2 – Álbum Aurora
Se há músicas inéditas compostas exclusivamente para a minissérie, nada mais justo que fosse criado um álbum de verdade com essas composições. E ele existe e está disponível nas plataformas de áudio. São onze faixas misturando blues rock com o som de São Francisco e a música contemporânea. Não é nada muito empolgante, por assim dizer. Vale mais pelo casamento entre o álbum e a narrativa.
Ouça Aurora no Spotify:
3 – Inspiração no Fleetwood Mac
A autora do livro, Taylor Jenkins Reid, já falou sobre sua inspiração literária na trajetória da banda Fleetwood Mac, especialmente da vocalista Stevie Nicks. Mas mesmo que ela não tivesse dito, a referência é muito clara e estendida à minissérie. É só entrar no YouTube e comparar as performances de Daisy e Nicks. O Fleetwood Mac é uma banda inglesa, fundada em 1967, que conquistou os Estados Unidos, principalmente após 1974 com a entrada do guitarrista Lindsey Buckingham e da vocalista, na época namorados.
O grande sucesso comercial da banda foi o álbum Rumours (1977), produzido em um momento bem conturbado. Nicks e Buckingham estavam se separando, assim como a tecladista Christine McVie e o baixista John McVie. Também o baterista Mick Fleetwood estava com sérios problemas em seu relacionamento.
As semelhanças com a produção do Aurora ficam mais nítidas se compararmos o perfil das canções e o sucesso comercial. Rumours atingiu o topo da Billboard em solo norte-americano, ganhou o Grammy de melhor álbum e vendeu mais de 40 milhões de cópias.
4 – Processo criativo de Daisy
Para quem é aspirante a músico, escritor ou outras atividades artísticas, a série dá alguns insights sobre o processo criativo, especialmente com a Daisy, sozinha ou ao lado de Billy. Ela é uma usina de composições com seu caderninho anotando ideias e criando versos. Daisy é verdadeiramente apaixonada por música, não está ali só pelo possível sucesso.
Parecida com alguém no Brasil? No início do mês, a rainha do rock brasileiro Rita Lee fez uma brincadeira enviando uma carta à sua “prima” Daisy Jones para falar das semelhanças entre as duas. Rita também é “Jones”, sua primeira banda se chamava O’ Seis e enfrentou sem medo o machismo do rock. A carta foi lida e interpretada pela atriz Mel Lisboa em vídeo disponível no Instagram da atriz e da Rita.
5 – Mulheres
Contrariando o senso comum sobre bandas de rock dos anos 1970, a minissérie faz das mulheres essenciais para a evolução do grupo. Além da líder, a vocalista e compositora Daisy Jones, no The Six também faz a diferença a tecladista Karen (Suki Waterhouse). Outra mulher de destaque na história é Camila, interpretada por Camila Morrone, mulher de Billy que, por sua presença, toma para si o brilho de alguns episódios. E, também, não dá para esquecer de Simone, vivida pela brasileira Nabiyah Be (filha do ícone do reggae Jimmy Cliff e da psicóloga baiana Sônia Gomes). Mais do que amiga de Daisy, ela é uma cantora tentando trilhar um caminho de sucesso na disco music.
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