Opinião
A Primeira Profecia perturbadora
Filme com Sônia Braga traz uma história que traz a origem do nascimento do anticristo Damien de A Profecia, filme original de 1976
Última atualização: 05/04/2024 17:29
Nos anos 1970, filmes como O Exorcista, Carrie - A Estranha e A Profecia catapultariam o gênero terror nas bilheterias de Hollywood, já impulsionando uma indústria para os anos 1980 que até hoje segue forte, entre idas e vindas - é bem verdade que vieram muitas decepções, principalmente em relação a sequências de franquias que exploravam financeiramente o filão original.
É o caso de A Profecia, por exemplo, que gerou cinco filmes (além de ir à TV), sendo o último, em 2006, um remake não bem sucedido do original, de 1976, que se tornou um clássico sob a direção do então emergente Richard Donner (que faria depois os primeiros filmes do Superman e a franquia Máquina Mortífera) tendo Gregory Peck e Lee Remick vivendo os pais do garoto anticristo Damien.
Pois agora, passados quase 50 anos, A Primeira Profecia conta a origem de A Profecia, mostrando acontecimentos que levaram ao nascimento do anticristo Damien Thorn. É o que se chama de prequel (prequela ou prelúdio), história que se passa antes da trama da obra original.
A direção é de Arkasha Stevenson (em seu longa-metragem de estreia) que traz a jovem atriz Nell Tiger Free (que participou das temporadas 5 e 6 de Game of Thrones) no papel principal. Ambas com mais experiência televisiva do que nas telonas. E o resultado é bem positivo para filmes do gênero.
O filme não poupa na produção sombria e também traz reforços no elenco, que conta com gente experiente, como os britânicos Charles Dance (famoso pelas séries Game of Thrones e The Crown) e Bill Nighy (Piratas do Caribe) e, - olhem só - a brasileira Sônia Braga.
Sônia faz o papel de uma freira sinistra - a chamada madre superiora da noviça que conduz a história - e, em entrevistas da cineasta Arkasha e da protagonista Nell, a atuação da atriz, que marcou época na TV e cinema com suas personagens Gabriela e Dona Flor, é dada como figura forte em cena. "É uma lenda", chega a declarar a jovem Nell, acompanhada pela diretora Arkasha que definiu a brasileira como "mágica". Sônia dá uma energia severa à personagem, como já tinha feito em sua participação em Bacurau.
Perturbador e provocante
A Primeira Profecia tem agradado a maioria dos fãs do gênero e também da franquia A Profecia, apesar de ser sobrenaturalmente ainda mais perturbadora e até incômoda (para não dizer nojenta até) em alguns momentos acompanhados de uma trilha sonora que catapulta cenas jumpscares. Além disso, a história adentra mais no campo da fé e da Igreja.
A trama se passa no início dos anos 1970, seguindo os passos que desembocariam em A Profecia original. A noviça Margareth é o fio condutor. A jovem americana vai a Roma para ingressar no serviço de fé da Igreja. Só que, uma vez no convento, sua fé é balançada quando descobre uma estranha garota e sua gravidez alimentada por rituais literalmente nada cristãos.
Mesmo que a gente saiba o que vem após a conclusão desta história (e vale dizer que não é obrigatório ver A Profecia original, mas é interessante para ver as conexões - que não são poucas), a produção explora bem este submundo do terror religioso onde seguidores de Satã buscam abrir caminho para a chegada do anticristo.
O terror de A Primeira Profecia é mais carnal que a trama original (marcada pelas mortes em torno do sinistro garotinho Damien). Mas a principal questão é que, apesar de busca não fugir muito da trama original (apesar de utilizar um estilo de terror mais contemporâneo), o novo filme tem no corpo feminino seu principal alvo.
Há uma intenção por trás disso - claramente invocada na cena de parto -, tratando da “profanação” e objetificação das mulheres, além, de também tocar na questão do direito da mulher ao aborto (algo que nos Estados Unidos voltou a ser discutido nos últimos tempos).
A Primeira Profecia não tem status de clássico, mas, sem dúvida, honra o original.
Confira aqui o trailer de A Primeira Profecia