Da nostalgia à modernização, a Disney traz de volta às telas – 34 anos após o lançamento da versão em desenho animado – a história da sereiazinha Ariel, adaptação da obra homônima do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875), o mesmo criador de O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo e, ainda, de A Rainha da Neve, que gerou a superfranquia Frozen.
E dentro da era de inovações, A Pequena Sereia chega em versão live action (com elenco de carne-e-osso e alguns personagens graficamente criados por computadorização/CGI) e com o protagonismo da talentosa jovem atriz e cantora Halle Bailey, amadrinhada por ninguém menos que a superstar Beyoncé.
Sim, a ruivinha sereia agora é negra, o que, incrivelmente, tem incomodado uma galera que diz não ser por racismo, mas pela identificação com a sereia do desenho de 1989. Pode até ser, mas a verdade é que o fato de Ariel agora ser vivida por uma atriz negra não modifica em nada a fábula. Pelo contrário: reforça a ideia de novos tempos em uma sociedade que, perigosamente, abriu a hedionda caixa de pandora, exteriorizando preconceitos racistas, homofóbicos e de gênero.
É lógico que A Pequena Sereia (e a Disney) não tem o propósito de ser uma bandeira, mas a modernização da fábula passa por estas ideias de igualdade racial e também da independência das mulheres de um conto de fadas enraizado da espera do príncipe encantado.
Aliás, a sereia Ariel está menos “bobinha” (e mais mulher) em sua jornada para conhecer os humanos. Proibida pelo seu pai (Javier Barden como o rei Tritão) de ir à superfície, ela acaba desobedecendo e o faz com a “ajuda” da vilã Úrsula (Melissa McCarthy), que tem planos malévolos para princesinha e seu reino.
A história de amor com o amado Eric ganha novos contornos (menos machistas), mas nada assim tão distante da versão de 1989. Os personagens animais ganham uma versão “realista”, mas sem exageros, e, ao contrário de O Rei Leão, buscam ter mais “expressão” (caso do siri Sebastião/Sebastian) e descontração.
Tecnicamente, A Pequena Sereia (confira aqui o trailer) peca em alguns momentos, mas nada que estrague o encanto. O questionável, talvez, seja uma falta maior de ousadia na produção, apesar das mudanças já citadas, que adaptam a fábula para os nossos tempos. Na direção está Rob Marshall, de O Retorno de Mary Poppins (2018) e Chicago (2002), ou seja, com experiência em musicais.
E nada contra os dubladores brasileiros, mas a versão nacional tira um pouco do brilho da parte musical em inglês, afinal, Halle é uma voz daquelas. Ressalte-se que também é verdade que em outros momentos a versão dublada (de outros artistas) é até superior à da original.
Enfim, trata-se de um clássico Disney e que mexe com lembranças afetivas, e isso causa reações diversas quando se avalia o gostar ou não do filme (que até não precisava ter duas horas). A crítica especializada se dividiu. E realmente não é uma obra-prima, mas é o suficiente para emocionar e divertir a família.
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