RELAMAR FAZ MAL?

Você reclama muito? Entenda como isso pode fazer mal à saúde e afetar o cérebro

Entenda também porque pessoas se queixam, o que é um reclamador crônico e quais impactos isso pode ter na saúde

Publicado em: 25/11/2024 17:59
Última atualização: 25/11/2024 18:00

Seja pelo trânsito estar lento, por algo que deu errado no trabalho ou apenas porque o dia não saiu como o esperado. Reclamar faz parte do ser humano, sendo "apenas algo que a gente faz, como respirar", explica Robin Kowalski, professor de psicologia da Universidade de Clemson, ao jornal norte-americano The New York Times.

E, enquanto a ciência afirma que o mais simples ato de gentileza traz benefícios para a saúde mental e até física, o caso é completamente outro quando se trata de reclamar, principalmente se feito de forma crônica.

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Entenda se você é um reclamador crônico e como isso pode afetar a saúde Foto: Freepik

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A professora María J. García-Rubio, de Ciências da Saúde da Universidade Internacional de Valencia, aponta que muitas pessoas participam do que chamou de reclamação sistemática, mesmo sem perceber.

Ela exemplifica que isso acontece, por exemplo, quando dois colegas de trabalho acabam se cumprimentando com "tudo bem?". Ao responder, a pessoa automaticamente fala "tudo indo", reclamando de forma inofensiva.

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Você é um reclamador crônico?

Reclamação crônica é repetir expressões de insatisfação, frustração ou desconforto com situações que a pessoa vê como negativa, explica María, também membro do Grupo de Investigação Psicológica e de Qualidade de Vida (Psical) da universidade.

Ela expõe em um artigo, publicado no portal The Conversation, que este é um fenômeno universal, fazendo parte da experiência humana. No entanto, reclamar de forma crônica pode levar a uma exaustão emocional e até fisiológica. 

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Por que reclamamos tanto?

"Na verdade, é bastante comum ouvir reclamações sobre trânsito, clima, trabalho ou dificuldades financeiras", escreve a professora. Um dos motivos para as pessoas reclamarem está no próprio cérebro, que possui um viés naturalmente negativo, explica o professor da Universidade Internacional da Flórida, dos Estados Unidos, William Berry, em um artigo publicado no portal Psychology Today.

Isso porque o cérebro humano está sempre tentando sobreviver e acaba se concentrando nos aspectos negativos, já que parecem mais ameaçadores para a sobrevivência do que os positivos, "que melhoram a vida, mas são menos vitais" para isso.

Ou seja, o cérebro percebe os aspectos negativos em uma proporção de cinco para um, aproximadamente, e isso mostra para a pessoa que há mais razões para se queixar do que motivos para estar grato, de acordo com ele.

"Este é um mecanismo evolutivo de origem protetora: o cérebro tende a se fixar no que é ruim porque isso lhe permitiu enfrentar um perigo real há milhares de anos e aumentou suas chances de sobrevivência", afirma María.

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Reclamar faz mal à saúde?

Apesar de ter benefícios, como extravasar a raiva e até aumentar laços com outras pessoas, estudos já afirmam que reclamar demais pode fazer mal para a saúde emocional e é capaz até de modificar o cérebro.

María explica que, embora os estudos ainda sejam pioneiros nesta área, há pesquisas que confirmam o viés negativo do cérebro e como isso pode se tornar contraproducente na modernidade.

Ao focar no que "não está bom" de forma contínua pode ser alterada a forma como as pessoas veem o mundo, "e, assim, promover novas interações como aquelas baseadas em reclamações".

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Ainda, há estudos que indicam que se queimar pode mudar o cérebro de forma estrutural, podendo resultar em dificuldades na resolução de problemas e na função cognitiva.

No artigo Como a negatividade e reclamar pode literalmente apodrecer o seu cérebro, o pesquisador Travis Bradberry fala sobre os efeitos negativos que estar em constante estresse traz para o cérebro. 

"Exposição a apenas alguns dias de estresse pode comprometer a dois neurônios do hipocampos, uma área importante do cérebro, responsável pelo raciocínio e memória", diz.

Estar exposto a meses disso pode permanentemente destruir neurônios e há evidências de que acontece o mesmo no cérebro humano. O pesquisador cita que um estudo do Departamento de Biologia e Psicologia Clínica na Universidade Friedrich Schiller, na Alemanha, mostra que estar exposto a emoções e estímulos negativos, como ficar próximo de um reclamador crônico, tem o mesmo efeito de estar em um local de constante estresse. "Quanto mais você continuar neste estado, pior para o seu cérebro."

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Além disso, reclamar demais pode trazer malefícios para a saúde mental e emocional. A professora cita estudos que relacionaram as queixas diárias com sintomas de ansiedade e depressão. "Especificamente, com pensamentos intrusivos, ruminação, baixa autoestima, cansaço e fadiga mental."

"Portanto, indivíduos que não param de reclamar de tudo tendem a ser mais pessimistas e menos resilientes diante das adversidades", escreve.

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Nem de todo mal! Reclamar também faz bem

Berry explica que, apesar dos aspectos negativos, existem diversos pontos positivos em reclamar, desde que seja feito com moderação. "Pode promover um senso maior de validação em um indivíduo."

Como toda comunicação, ele afirma também que se queixar pode trazer uma sensação de conexão entre indivíduos e, além disso, desabafar pode fazer com que a pessoa se sinta melhor.

Já María afirma que reclamar pode ser até terapêutico, "pois serve como uma válvula de escape emocional".

Aceitar as próprias emoções e a dos outros traz benefícios para a saúde mental e fisiológica, conforme um estudo publicado na revista científica da Associação Psicológica Norte-Americana (APA), em 2018.

O maior problema, apontado pela professora e outros estudos, está na reclamação crônica, que tem "um impacto significativo na saúde emocional, mental e até física, tanto daqueles que se queixam como dos que recebem as lamentações".

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E agora? Todos devem parar de reclamar?

Como explicado acima, reclamar faz parte da comunicação e da natureza do ser humano. E, além disso, pode trazer benefícios.

"Parar de reclamar totalmente não é saudável porque desabafar nos permite libertar emoções reprimidas e, por vezes, usá-las para nos conectar com outros", diz Berry ainda no artigo.

Mas, segundo ele, pode haver uma solução: equilíbrio. Como dica, o professor afirma que é sempre bom começar se perguntando e entendendo qual o objetivo da reclamação. "Quando você consegue balancear essas forças internamente, consegue utilizar a reclamação de forma efetiva."

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Para María, "sem dúvida, ter consciência do hábito pouco saudável de reclamar incessantemente e tentar mudá-lo é fundamental para melhorar a qualidade de vida". Ela ainda deixa quatro dicas de como mudar isso:

- praticar a gratidão, mudando o foco de atenção;

- procurar soluções para melhorar a situação, já que pode aumentar a sensação de controle e reduzir a frustração;

- prestar atenção nas próprias palavras, para ajudar a mudar o padrão de pensamento, conforme a psiconeurolinguística;

- estabelecer limites com os outros, um mecanismo de proteção que pode ajudar a evitar conversas, por exemplo, que foquem no negativo.

E, ainda, a professora deixa muito claro: se queixar é natural do ser humano, o que pode ser negativo é quando se a reclamação se torna crônica.

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