Os antidepressivos ajudam a reduzir os sintomas da depressão, como tristeza, angústia, falta de energia e insônia, entre muitas outras coisas que auxiliam o paciente, que sofre com a doença, a melhorar. Porém, assim como muitas medicações, possuem efeitos colaterais.
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A disfunção sexual, como a falta de desejo ou a dificuldade de atingir orgasmos, está entre os efeitos. Porém, enquanto algumas sequelas passam após a interrupção da medicação, a anestesia genital pode continuar a atormentar a vida de quem tomou antidepressivos.
O Brasil é um dos países com o pior índice de saúde mental do mundo. Os brasileiros ocupam a quarta posição em um ranking feito com 71 países. Em 1º lugar está Usbequistão, seguido de Reino Unido e África do Sul. Os dados são deste ano, publicados no Relatório Mundial de Estado Mental.
Isso pode refletir também na quantidade de antidepressivos e estabilizadores de humor vendidos no País. Somente entre 2023 e 2024, as vendas desse tipo de remédio aumentaram 11%, conforme um relatório do Conselho Federal de Farmácia (CFF). Ao todo, serão mais 200 milhões vendidos no ano.
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Sem antidepressivos e com dificuldades na vida sexual
O termo anestesia genital veio à tona após um estudo, publicado em setembro deste ano, destacar que 13,2% das pessoas analisadas, que pararam de tomar antidepressivos, sofrem com o sintoma. Todos os pacientes estudados são jovens, de 15 a 29 anos.
A pesquisa foi publicada na revista Psiquiatria Social e Epidemiologia Psiquiátrica. Nela, foram estudados 2.179 jovens de minorias sexuais e de gênero, incluindo pessoas com histórico de uso de medicamentos psiquiátricos.
O objetivo era entender o quão comum é a anestesia genital ligada ao uso dos antidepressivos, mesmo após interromper a medicação.
Eles usaram como base amostras do UnACoRN, um relatório feito nos Estados Unidos e Canadá. E para identificar se a anestesia genital teria acontecido por conta dos remédios, foram feitos três testes multidisciplinares.
Das mais de 2 mil pessoas estudadas, 574 relataram sofrer com hipoestesia, diminuição da sensação de tato. No total, a frequência da anestesia genital entre pessoas que usaram antidepressivos foi de 13,2%, comparado com 0,9% em usuários de outros remédios.
O que é a anestesia genital?
Quando uma pessoa interrompe os antidepressivos, principalmente da classe de inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs), ela pode continuar a experienciar dificuldades na vida sexual, como a falta de excitação, mesmo com o estímulo, e até a dificuldade de sentir prazer.
Esse conjunto de sintomas que afetam a qualidade de vida se chama Disfunção Sexual pós-ISRS (PSSD, na sigla em inglês). Entre os remédios da classe, por exemplo, estão o citalopram, escitalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina e vilazodona.
Antes do novo estudo, outras pesquisas analisaram que cerca de 60% a 70% dos pacientes que usaram antidepressivos SSRI ficaram com sintomas de disfunção sexual de forma duradoura, com a falta de sensibilidade na área genital e dificuldade de atingir orgasmos, até ejaculação retrógrada.
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E, dentre os principais sintomas da PSSD, está a hipoestesia genital pós-tratamento persistente (PPTGH), de acordo com o novo estudo. Apesar do nome extenso e complicado, é caracterizada pela falta de sensibilidade na área, piorando a possibilidade de ter uma vida sexual normal.
Sem orgasmos, desejo sexual e até excitação
“A disfunção sexual pode acontecer em decorrência do uso de todas as classes de antidepressivos”, escreve um estudo publicado no Brazilian Journal of Health Review, feito em 2023. Assim, como citado pelo estudo recente, os que mais afetam as funções sexuais são os ISRSs.
A pesquisa do ano passado explica que os sintomas mais importantes das disfunções sexuais pós-uso de antidepressivos são causados por conta da ação agonista – que ativa os receptores – da serotonina. E da antagonista da dopamina, que bloqueia a ação da substância.
Outro fator importante é o aumento da prolactina, hormônio que estimula a produção de leite nas glândulas mamárias, podendo impactar nos estágios da resposta sexual.
*Fontes: Efeitos colaterais dos psicofármacos na esfera sexual; Brazilian Journal of Health Review; Persistent Sexual Dysfunction and Selective Serotonin Reuptake Inhibitors: Myth or Reality?.