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Outubro rosa

Principal ferramenta contra o câncer, mamografia ainda é um desafio para a saúde

Dificuldade é fazer com que mulheres mantenham a periodicidade dos exames e cumpram a faixa etária indicada

Débora Ertel
Publicado em: 06/10/2023 às 08h:00 Última atualização: 17/10/2023 às 15h:03
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Se você é mulher, este é o mês de parada obrigatória para cuidar da saúde. O Outubro Rosa é o tempo dedicado para chamar atenção do público feminino para a necessidade de se cuidar. O câncer de mama é o tipo que mais atinge mulheres em todo o mundo. O Brasil deve ter 73.610 casos novos da doença neste ano, com um risco estimado de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. A boa notícia é que, se tratado, o câncer de mama tem mais de 90% de cura. Para isso, a principal ferramenta é a mamografia, exame capaz de rastrear de maneira eficaz alterações na mama.

Novo Hamburgo oferece entre 840 e 920 mamografias mensalmente | Jornal NH



Novo Hamburgo oferece entre 840 e 920 mamografias mensalmente

Foto: Tatiane Brandão/FSNH

Conforme o Observatório do Câncer, painel de monitoramento da Secretaria Estadual de Saúde (SES), das 43 cidades de cobertura do Grupo Sinos, no ano passado 27 alcançaram a meta de cobertura de exames. Isso significa que 31% ou mais da população foi atendida. O número é semelhante a 2019, período anterior à pandemia, quando 29 municípios tinham alcançado o objetivo. Ocorre que nos anos de 2020 e 2021, a maioria das cidades não conseguiu garantir os percentuais de atendimentos em razão das limitações trazidas pelo coronavírus.

No entanto, o Observatório mostra também que há outros dois desafios a serem vencidos quando o assunto é a prevenção ao câncer de mama. Em 2022, apenas Montenegro alcançou a meta de exames na periodicidade correta, ou seja, com mamografias a cada dois anos. O município montenegrino teve o índice de 43,4%, sendo que a meta é de 40% ou mais.

No Rio Grande do Sul, a média da periodicidade bienal entre 2014 e 2022 foi de apenas 22,8%, com 33,6% dos exames solicitados com intervalos menores do que dois anos, 32,2% com intervalos maiores do que dois anos e 11,4% sem registro de periodicidade.

Outro indicador a ser melhorado é o de exames realizados na população-alvo, entre 50 e 69 anos, com meta mínima de 90%. Em 2022, nenhuma cidade da região chegou a esse número, situação que se repete no Estado, já que o território gaúcho têm se mantido em uma média de 65% nos últimos anos.

Situação de Novo Hamburgo

Em Novo Hamburgo, a cobertura em 2022 foi de 59,1%, com 23,7% das pacientes realizando o exame a cada dois anos, contemplando 73,4% do público-alvo. Conforme a assessoria de imprensa, são ofertados entre 840 e 920 mamografias mensalmente, mas nem todo mundo comparecer. Em agosto deste ano, foram 100 faltantes e, em setembro, 62 que não vieram.

Para a Secretaria Municipal de Saúde, os motivos que levam a cidade a não conseguir atingir a meta bi anual e de público-alvo estão relacionados ao fato de que muitas mulheres, entre 50 e 69 anos, se recusam a realizar os exames, alegando, entre outros motivos, que não são obrigadas e não têm sintomas de câncer.

Quem procura cura antes

Foi em um exame de rotina que Ana Meri Gomes, 58 anos, descobriu o início de um câncer agressivo. O tumor de um centímetro foi diagnosticado no início, o que permitiu à dona de casa do bairro Canudos, na época com 46 anos, ter sucesso no tratamento. “Alguns dizem assim: ‘quem procura acha’. Mas acha no comecinho, onde é muito mais fácil a recuperação”, diz ela por experiência própria.

Ana Meri Gomes | Jornal NH



Ana Meri Gomes

Foto: Divulgação

Ana fez cirurgia de remoção, oito sessões de quimioterapia,30 radioterapias e mais 18 aplicações de um medicamento especial. “Deu tudo certo. Foi tudo muito bom e agora estou no acompanhamento. O principal é fazer os exames todos os anos”, diz. Hoje Ana apoia outras mulheres que lutam contra a doença no Grupo Mãos Dadas.

 

Debate sobre a faixa etária adequada para o exame

Professora do curso de Medicina da Feevale, a oncologista Daniela Lessa, comenta que existe um debate sobre a idade ideal para fazer os exames de mama. “Isso porque a doença é mais prevalente acima dos 50 anos. Então a chance de detectar vai aumentando com a idade”, informa.

Daniela explica a divergência entre os profissionais está em se vale ou não a pena fazer o exame abaixo dos 50 anos, pois existe o “falso positivo”. Segundo a profissional, a chance de se detectar um câncer abaixo dos 40 anos é baixa. Apesar disso, não há contraindicações em se fazer a mamografia e, embora seja um exame desconfortável, não causa nenhum tipo de dano à mama. Daniela ainda esclarece que a ecografia é um exame complementar, sendo a mamografia insubstituível para detecção de tumor. 
Por isso, há a recomendação de se repetir o exame entre um e dois anos, conforme a orientação médica. “O câncer de mama não é uma doença só. Tem os que são mais lentos e àqueles que são mais agressivos, que dentro de um ano vai crescer mais”, comenta.

Daniela orienta que as mulheres não deixem os exames parados e, para quem tem sintomas, é preciso “ir atrás”. “Às vezes a rede pública tem demora, mas precisa insistir”, orienta. Ela ainda chama a necessidade para a prática de atividades físicas e o sobrepeso, em especial, no período da menopausa, o que é um fator de risco para o câncer.

Uma frente que busca melhorar o acesso aos exames é o projeto do Grupo Vida Rosa que, inclusive neste fim de semana, promove o Bazar Rosa Choque para arrecadar fundos a fim de contratar mamografias. Segundo médica mastologista e uma das idealizadora do projeto, Gabriela Santos, o grupo estuda uma maneira diferente de abordar as mulheres de modo a atender, em especial, àquelas que ainda não foram no médico. Na avaliação de Gabriela, o acesso ao serviço depende muito da realidade da paciente. “Normalmente que não tem plano de saúde demora mais para procura. Isso porque às vezes ela acha que vai demorar mais, pois tem que ir no posto”, comenta.

Como é o atendimento em Novo Hamburgo?

Nos postos de saúde, os profissionais estão capacitados para dar orientações sobre a importância da realização dos exames.
Pacientes com idade entre 50 e 69 anos podem solicitar o encaminhamento já na consulta de enfermagem, sem a necessidade de passar por consulta médica. Já as pacientes com idade inferior, superior ou que necessitam de uma maior periodicidade na realização das mamografias (em razão de controle por questões genéticas ou pós quimioterapia), passam por consulta médica para solicitar encaminhamento. As pacientes são contatadas via telefone, onde são informadas sobre o agendamento (dia, hora e local e quais documentos precisam levar).
Os exames de mamografia são realizados no Centro Municipal de Imagens (CMI), que fica no Hospital Municipal e, em casos de alteração, a paciente é avisada. Também receber informações sobre consulta com mastologista. Em caso de confirmação de câncer, a paciente é encaminhada para o serviço de oncologia, no Hospital Bom Jesus de Taquara, mas sem perder o vínculo com a unidade de saúde de referência, além de seguir acompanhamento com a médica mastologista do município.

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