MEDICAMENTO

NARIZ ENTUPIDO: Descongestionante nasal faz mal para a saúde?

Médica fala sobre o remédio que foi o segundo mais vendido no País em 2022; entenda os efeitos

Publicado em: 16/05/2023 13:51
Última atualização: 26/03/2024 21:55

Temperaturas baixas, tempo seco e mudanças bruscas no clima formam o quadro perfeito para que muitas pessoas tenham congestão nasal. É então que a maioria recorre, por conta própria, a medicamentos como Sorinan, Sorine, Neosoro, Aturgyl, entre outros, que têm como objetivo desobstruir as narinas e facilitar a entrada de ar.

No entanto, apesar da sensação de alívio após pingar algumas gotinhas, o uso de descongestionantes nasais de forma excessiva é mais prejudicial do que benéfico à saúde.

Em 2022, de acordo com o levantamento feito pela empresa norte-americana IQVIA, que trabalha com pesquisas e informações na área da saúde, o segundo remédio mais comprado no Brasil foi um descongestionante nasal, o Neosoro.

Foram vendidas 69,6 milhões de unidades do medicamento, que só ficou atrás de outra categoria de remédio: o antidiabético Glifage XR, que teve 81,9 milhões de caixas compradas. No País, mais de 13 milhões de brasileiros têm diabetes. 

Descongestionante nasal Foto: Freepik

O terceiro medicamento da lista, o dilatador de vasos Losartana Potássica, usado por hipertensos, teve 49,7 milhões de unidades vendidas. Conforme dados do Ministério da Saúde, cerca de 36 milhões de pessoas no País têm hipertensão arterial e a doença mata 300 mil brasileiros anualmente.

Diante disso, o dado de que o medicamento indicado para o tratamento desta doença aparece atrás das vendas por descongestionante nasal soa preocupante.

E essa não é a primeira vez que o produto aparece no topo dessa lista. Em 2021, por exemplo, o Neosoro ficou em terceiro lugar e em 2018 chegou a ocupar o primeiro lugar do ranking.

O vício é real

Apesar do uso deste medicamento ser comum entre a população, a médica otorrinolaringologista e professora de medicina da Universidade Feevale Marina Faistauer destaca que o problema é que ainda não há uma conscientização de que, assim como qualquer outro remédio, o uso de descongestionante nasal deve ser prescrito por um profissional.

“É algo que realmente vicia. Então não deve ser usado sem recomendação médica, porque depois que o paciente está viciado, é bem difícil parar”, avalia.

Segundo a médica, o vício no descongestionante nasal acontece pois, quando aplicado, ele diminui o fluxo de sangue nos vasos da mucosa nasal, fazendo com que a região desinche e, desta forma, a pessoa consiga respirar melhor.

Porém, os vasos tornam a aumentar e a pessoa recorre ao remédio mais uma vez, e assim sucessivamente, com intervalos de tempo cada vez menores entre uma aplicação e outra.

Marina explica que então acontece o "efeito rebote", o que faz com que, quando a pessoa pare de usar o remédio, o nariz esteja em piores condições do que antes de usá-lo. A médica ainda ressalta que as pessoas viciadas em descongestionante "sempre vão ter frequência de nariz entupido".

"O descongestionante pode ter indicação em algumas situações, como sangramento nasal ou alguns casos de obstrução, mas o uso não pode passar de três dias. Evitamos prescrever porque algumas pessoas acabam usando por mais tempo e viciam", relata a otorrino.

Gotinhas nem tão inocentes

Por serem vendidos em farmácias, sem a necessidade de prescrição médica, a maioria da população não imagina que exista algum risco no uso de descongestionantes. Mas apesar da sensação de alívio imediato, as gotinhas nem sempre são tão inofensivas quanto parecem.

“Entre os problemas que o uso frequente de descongestionante pode trazer estão o aumento da frequência cardíaca, cefaléia, arritmia, entre outros, além de rinite medicamentosa. E essas condições podem levar a situações mais graves", conta a médica Marina, que avalia ainda que além de efeitos colaterais, o remédio não pode ser usado por todas as pessoas, como por hipertensos, por exemplo.

Contudo, no consultório é alto o número de pacientes que chegam até Marina já viciados no medicamento. "É muito comum, porque a pessoa vai na farmácia e compra, ou então está com um quadro de nariz entupido e alguém fala do descongestionante, a pessoa compra e começa a usar. Normalmente, quando o paciente começa esse ciclo, não sabe dos efeitos que pode ter", pontua.

Deixando os frasquinhos de lado

Largar vícios não costuma ser uma tarefa fácil, mas Marina destaca que com esforço pode ser possível. O mais importante neste processo é a pessoa, assim que perceber o problema, procurar um otorrino. O médico, então, vai poder avaliar como está o nariz do paciente e, a partir disso, indicar o tratamento mais adequado.

A médica ressalta que cada caso é único, mas de maneira geral, é muito difícil que o paciente consiga deixar de lado o remédio "da noite para o dia".

Algumas das alternativas para ajudar nesse processo de "desmame" podem ser o uso de medicações tópicas, sprays, lavagem nasal, medicação oral e até mesmo a diluição do descongestionante como soro fisiológico. Em alguns quadros, é necessário considerar também a realização da cirurgia de desvio de septo.

Por isso, para a doutora Marina, ficar longe de descongestionantes nasais é a melhor solução. "Agora, nesta época do ano, começam os resfriados e com certeza a procura pelo medicamento aumenta. Mas o ideal é sempre procurar um otorrino e fazer o tratamento", orienta.

Para quem já é dependente da medicação, a médica aconselha: "Não é fácil, às vezes é bem difícil mesmo, mas tem como parar de usar. O importante é consultar com o médico e avaliar qual o melhor tratamento para o caso, seja clínico ou cirúrgico", resume.

Veja vídeo

Nas redes sociais, o médico cancerologista Drauzio Varella publicou recentemente um vídeo dando explicações sobre o uso do medicamento, veja:

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Matérias Relacionadas