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NOVO HAMBURGO

Mulher morre em casa e Samu chega três horas após o primeiro pedido de socorro

Familiares fizeram a primeira ligação às 17h40, mas ambulância chegou apenas por volta das 20h40

Eduardo Amaral
Publicado em: 07/06/2024 às 21h:02 Última atualização: 07/06/2024 às 21h:05
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Um mal súbito e uma demora de mais de três horas para atender ao chamado que iniciou como emergência médica e terminou com um falecimento. Essa foi a história da família de Maria Nair Kirch, 79 anos, moradora do bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, que faleceu nesta quinta-feira (6) após esperar pelo atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) sem sucesso.

Maria Nair Kirch, 79 anos, moradora do bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, faleceu nesta quinta-feira (6) | abc+



Maria Nair Kirch, 79 anos, moradora do bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, faleceu nesta quinta-feira (6)

Foto: Arquivo pessoal

Maria estava em sua casa, na rua General Bento Martins, acompanhada pelo neto de 25 anos quando começou a ter dificuldade em respirar e também já não respondia a estímulos. Ao constatar o quadro da avó, o rapaz que acompanhava a idosa iniciou a saga em busca de atendimento médico. “Ela mal abria os olhos”, resume o gestor de recursos humanos, Valdir Simplicio da Silva, 39 anos, sobrinho da idosa.

Cuidadora de idosos, Isabel Cristina Kirsch, 51 anos, também tentou falar com a SAMU para garantir o atendimento rápido para a mãe. “Eles disseram pra mim que eu tinha que estar presente onde a pessoa estava passando mal. Eles não podiam atender, mandar a ambulância porque eu não estava no local lá”, relembra ela, que antes de ser atendida fez um total de cinco ligações em um espaço de dois minutos.

Ainda atônitos e nervosos, os familiares seguiram tentando o atendimento. Coube ao neto da idosa buscar se acalmar para ligar, mais uma vez, para o 192. Os prints com imagens das chamadas mostram uma última tentativa às 17h59, por volta das 18h20 Maria Nair Kirch faleceu em casa, e começava mais um novo trauma para a família.

Ligações começaram no final da tarde mas ambulância chegou apenas depois de três horas da primeira chamada | abc+



Ligações começaram no final da tarde mas ambulância chegou apenas depois de três horas da primeira chamada

Foto: Arquivo pessoal

Corpo abandonado

Foram cerca de 40 minutos entre os primeiros sintomas e a morte de Maria, que já tinha problemas de saúde. Além de sofrer da doença de Alzheimer, ela ainda sofreu um AVC no Dia das Mães deste ano, e desde então sofria com problemas de mobilidade. Mesmo após a morte, a família ainda precisou esperar mais algumas horas para a chegada da Samu. Só então o corpo de Maria foi levado ao hospital, onde seria assinado o atestado de óbito.

Já era aproximadamente 20h15 quando a equipe chegou ao local. “Eles apenas olharam que ela não tinha pulsação, não tinha sinal vital, preencheram um papel, o qual era para levar junto com corpo até hospital para um médico fazer atestado médico e lá ficamos por três horas”, conta Simplicio , o sobrinho da idosa.

Transportado pelo carro da funerária, o corpo de Maria chegou ao hospital por volta da s 20h40, mas a liberação aconteceu apenas às 0h30 desta sexta-feira (7).

Investigação

Inconformados com a demora no atendimento, os familiares formalizaram uma denúncia por omissão de socorro junto a ouvidoria do Estado. Na opinião da família de Maria, uma chegada mais rápida da ambulância da Samu poderia ter dado uma chance de sobrevida para a idosa de 79 anos que foi enterrada na tarde desta sexta-feira. Ela deixa duas filhas e três netos. 

O que diz a SES

Responsável pela regulação dos serviços do SAMU, a Secretaria da Saúde do Estado (SES) foi procurada para esclarecer o caso e os procedimentos adotados nestas situações. Cabe ao departamento de regulação da Secretaria o atendimento às ligações feitas pelo 192 e envio das ambulâncias até o paciente. “Central De Regulação Das Urgências (CRU) do Samu Estadual, através do médico regulador, define a conduta a ser adotada a depender da gravidade do caso, considerando as informações prestadas pelo solicitante, no momento do atendimento”, explica a SES em nota.

Segundo a SES, é justamente este médico regulador que define se a ambulância deverá ou não ser enviada até o local do chamado. “Esclarecemos que ao Médico Regulador compete presumir a gravidade da situação, a partir das informações dadas pelo solicitante, sendo de vital importância responder com objetividade todas as suas perguntas e/ou realizar as ações por este solicitadas. Tal procedimento tem como objetivo chegar inicialmente a um diagnóstico que permita a determinação da gravidade do caso e possa justificar o envio ou não de uma unidade móvel de atendimento ao local.”

Em razão deste protocolo, os atendimentos são feitos quando a pessoa que faz a ligação está próxima da vítima. “A decisão sempre será tomada com base nas informações prestadas pelo solicitante. Sendo de suma importância que esteja junto ao paciente para que estas sejam as mais precisas possíveis, a fim de subsidiar a melhor decisão.”

Sobre a Declaração de Óbito (DO) uma nota técnica orienta os profissionais que estão na ambulância, também chamada de Suporte Avançado (USA), sobre o procedimento. “Em tal Nota Técnica estão descritas situações em que o médico da ambulância de USA constata o óbito. O fornecimento da DO ficará a critério do médico da USA, caso a USA tenha DO (a decisão de ter a DO e o fluxo a ser seguido fica a critério de cada Secretaria Municipal da Saúde)”, explica a SES.

A respeito do caso específico que aconteceu em Novo Hamburgo, a SES não se manifestou dizendo ser necessário a informação de data, horário da ocorrência e registro dos números telefônicos. Mesmo após a reportagem passar estas informações, a Secretaria não retornou.

Novo Hamburgo possui atualmente três ambulâncias que atendem o SAMU, sendo duas Unidades de Suporte Básico, que tem na equipe um técnico em enfermagem e um condutor socorrista. A outra ambulância é uma Unidade de Suporte Avançado, com uma equipe formada pelo condutor socorrista, junto com um enfermeiro e um médico.

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