Você já perdeu alguém durante a infância? Lembra como recebeu a notícia e como a informação influenciou sua vivência ou rotina? A morte é um assunto que muitas vezes fica fora dos tópicos abordados pelos pais enquanto os filhos são pequenos. Isso pode acontecer por diversos motivos, ainda mais porque, mesmo adultos, há uma certa dificuldade em lidar com o fato de que a presença de alguém passe a ser resumida em fotografias e lembranças.
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Há até um problema cultural ao abordar a perda. Para a psicóloga e psicanalista Denise Quaresma, professora do Instituto Federal do RS, do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (Napne), a maneira como se lida com a morte na contemporaneidade salienta problemas mais profundos.
“Revela os impasses que dizem do quanto o recalcamento da dor é uma solicitação social, logo, ignorar a dor passa a ser uma conduta exigida e conversar sobre a morte é um tema retirado do contexto familiar, social e muitas vezes também do contexto escolar.”
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A psicóloga expõe que, em seu ponto de vista, uma criança que não compreende a finitude da vida torna-se um adulto “sem vacina” para as perdas que terá que enfrentar no decorrer dos anos, por isso a importância de falar sobre o assunto. “A morte precisa ser falada, pois o silêncio sobre o fato possibilita que a criança crie fantasias sobre o ocorrido”, salienta.
Mas como abordar o falecimento de colegas ou amigos com a mesma idade e que perderam a vida para a violência – como a pequena Anna, de 7 anos, que foi esfaqueada em Novo Hamburgo?
“Essa situação da morte trágica de um(a) colega merece muito cuidado ao ser comentada, pois pode suscitar a generalização do receio de morrerem ou serem mortas precocemente, [além do] medo que todas as crianças estejam em risco, porque saberão que quem o(a) matou foi quem devia protegê-la”, alerta a psicóloga. No caso cometido no Vale do Sinos na última sexta-feira (9), a principal suspeita é a genitora da menina.
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“Nesse sentido, é muito importante dizer aos colegas que o acontecimento é uma tragédia, nomear corretamente o acontecido, explicando que isso não deveria ter ocorrido com a colega, que nenhuma pessoa tem o direito de fazer isso com outra, e nós, pessoas que vivem na sociedade, não aceitamos o que aconteceu.”
Se a criança tocar no assunto ou questionar sobre como o amigo(a) faleceu, como o caso descrito acima, a psicóloga orienta que os pais e responsáveis aguardem o momento apropriado, mas falem a verdade. A informação pode ser dita aos poucos, “na medida que as crianças suportem”. É importante não negar ou ocultar o fato, “lembrando de enfatizar nas palavras a não aceitação social do que ocorreu com essa criança”.
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Mas há uma forma assertiva para tocar no assunto? Segundo Denise, o ser humano convive com as pequenas mortes cotidianas “em um constante movimento de investimento e de perda”.
Para ela, o tema deve ser incluído no currículo das escolas, além de ser introduzido em reflexões cotidianas. “Freud descobriu em uma conversa com sua mãe que tudo nasce e morre quando perguntou a ela sobre sua pele, sobre a mão que escamava”, exemplifica.
A morte dos pets também ensina crianças sobre os rituais de despedida e a lidar com o luto.
E nos dias/meses seguintes?
Mesmo que as crianças nada falem sobre a perda, Denise propõe que sejam feitas atividades lúdicas para abrir um canal de comunicação. Assim, elas podem abordar seus pensamentos e sentimentos acerca do assunto. Uma dica é assistir a algum filme apropriado para as idades e que aborde alguma perda. A atividade pode ser seguida de uma discussão sobre os entendimentos do conteúdo assistido.
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Em sala de aula, os alunos podem fazer um “varal de perdas”, onde colocam o nome de algo ou alguém que perderam e que sentem saudades para poderem dialogar sobre o tema.
A criança pode desenvolver algum trauma psicológico em função do luto infantil? Quais são os sintomas?
Os pequenos podem desenvolver inúmeros traumas, inclusive apresentar sintomas de estresse pós-traumático, que devem ser observados pelos pais, responsáveis e professores. Um sinal é a criança se mostrar “nervosa” ou “tensa demais”. Além disso, pode irritarem-se muito facilmente, ficar com medo ou apresentar sonolência excessiva nas aulas e insônia noturna, roer unhas, entre outros aspectos.
“Os sintomas surgem sempre que elas não conseguem elaborar algo ou um acontecimento. Passam a manifestar esses sintomas que encobrem um mal-estar que é interno, psíquico”, esclarece a psicóloga. O ideal é que, caso a criança apresente esses sinais, seja encaminhado para acompanhamento profissional.
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