A imunoterapia é considerada um dos principais avanços no tratamento de câncer nas últimas décadas. Desde o início dos anos 2000, já se vislumbrava a tecnologia que viria a atuar para garantir que o próprio sistema imunológico do paciente passasse a combater as células cancerosas. Na atualidade, o desafio está em estabelecer a melhor forma de tratamento (sequência das medicações), para atingir o resultado mais satisfatório possível ao paciente.
“Uma nova arma no tratamento dentre o arsenal que a gente tem para combater o câncer”, compara o professor da área da Oncologia do curso de Medicina da Universidade Feevale, Leonardo Lago, ao mencionar que as primeiras publicações sobre a aplicabilidade clínica da imunoterapia começaram a surgir na década de 2010.
“Eu não tenho dúvida de que revolucionou o tratamento nesses últimos 10 ou 12 anos de inúmeros tipos de câncer como o câncer pulmão, melanoma entre outros”, afirma o professor.
As pesquisas avançam em diversas frentes. Há estudos que buscam descobrir outros tipos de câncer que possam ser tratados por meio da imunoterapia. Além disso, conforme o professor Lago, pesquisadores têm se dedicado a aprimorar a aplicação dessas novas classes de medicamentos para que possam oferecer resultados mais favoráveis.
“Existem vários alvos que vêm sendo testados e também está se tentando descobrir qual o melhor sequenciamento naquelas doenças mais polirresistentes para otimizar o tratamento do paciente.”
O professor da Feevale comenta que a expectativa para o futuro é que se possa “entender melhor a doença e dirigir melhor um determinado tipo de tratamento para o paciente”. Lago explica que a imunoterapia poderá funcionar como ferramenta para o que se chama de “medicina de precisão”.
Segundo o professor, esse conceito trata de usar as características da própria doença para elaborar um perfil de tratamento. “Escolhendo dentre várias estratégias (medicações) qual pode atender aquele determinado paciente.”
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Como funciona a imunoterapia
O oncologista clínico, Francisco Pereira Borges Filhos, que atua na Hapvida NotreDame Intermédica, explica que a imunoterapia é uma modalidade de tratamento que visa combater as células tumorais através do estímulo do sistema imunológico do paciente. “As células do câncer desenvolvem mecanismos para escapar do sistema imunológico, tornando-se invisíveis para as células de defesa do corpo. O tratamento imunoterápico visa estimular o sistema imunológico para reconhecer essas células malignas e assim combater a doença”, resume.
O médico aponta que atualmente, a imunoterapia é utilizada como tratamento para diversos tipos de câncer, com suas indicações crescendo cada vez mais. Entre os principais tumores hoje tratados com imunoterapia são o melanoma (câncer de pele), câncer de pulmão, câncer de rim, câncer de bexiga, câncer de cabeça e pescoço, linfomas, câncer de fígado, câncer de mama e câncer colorretal.
Terapia é determinada conforme o tipo e estágio da doença
Especialistas destacam que nem todos os pacientes são indicados para receber a imunoterapia, embora o tratamento esteja disponível tanto redes privadas, quanto pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O uso desse tratamento depende do tipo de tumor e estágio da doença. “Existem alguns exames e testes que ajudam na identificação de alterações específicas da doença para uso das medicações”, destaca Borges Filho.
O tratamento da doença permite que a imunoterapia seja administrada isoladamente, em combinação com outras terapias ou sequencialmente. “Em alguns casos a imunoterapia é utilizada como terapia de primeira linha, substituindo a quimioterapia. Em outros casos pode ser combinada com quimioterapia ou radioterapia para potencializar a resposta do sistema imunológico”, observa o oncologista.
Professor da Feevale, Leonardo Lago reitera que os diferenciais são a possibilidade de combinar tratamentos, bem como administrar a imunoterapia sozinha, e acrescenta a principal diferença entre este tratamento para com os já conhecidos é a forma de agir no organismo. “Tanto a quimioterapia, como a radioterapia são efeitos, digamos, citotóxicos, que eliminam as células. A imunoterapia tem o efeito de devolver ao sistema imunológico a capacidade de reconhecer o câncer como algo deletério. Ou seja, devolve ao sistema imunológico a capacidade de combater o câncer.”
Percentuais de cura com o tratamento
O médico Francisco Pereira Borges Filhos explica que a resposta à imunoterapia varia de acordo com o tipo de câncer e o estágio da doença em que o tratamento é realizado. “Todos os tratamentos oncológicos são mais eficientes quanto mais precoce é a doença”, ressalta. No entanto, o especialista diz que a imunoterapia tem sido altamente eficaz em alguns tipos de doença, “como no caso do melanoma que hoje é o tratamento de escolha, levando até mesmo a cura.”
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Imunoterapia foi incorporada ao SUS em 2020
Segundo o Ministério da Saúde, o tratamento com imunoterapia foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 2020. A pasta ressalta que o tipo de câncer pode determinar ou não a indicação de uso da imunoterapia. “Isso porque nem todos os tumores respondem bem a essa alternativa, outros porque ainda não foram finalizados os estudos de segurança e eficácia”, ressalta em nota enviada à reportagem.
Medicamentos disponíveis via SUS:
- Imatinibe, para tratamento de leucemia mielóide crônica Ph+, leucemia linfoblástica aguda
- Rituximabe, para tratamento de linfoma não-Hodgkin
- Brentuximabe Vedotina, para tratamento de linfoma de Hodgkin
- Nivolumabe ou Pembrolizumabe, para tratamento de melanoma avançado
- Sunitinibe ou Pazopanibe, para tratamento de carcinoma renal de células claras
- Trastuzumabe, para tratamento de câncer de mama Her2+ metastático
- Pertuzumabe, para tratamento de câncer de mama Her2+ metastático