SUGERE ESTUDO
Filhos de pais superprotetores têm risco de viver menos
Pesquisadores exploraram relações parentais e impactos da infância e da adolescência na longevidade
Última atualização: 23/01/2024 12:14
Mulheres que tiveram um pai considerado superprotetor, em uma relação marcada por restrições na autonomia durante a infância ou adolescência, apresentam risco 22% maior de morrer antes dos 80 anos, aponta estudo publicado na revista científica Scientific Reports, da Nature. Entre os homens, esse risco é 12% maior.
Cientistas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da University College London (Reino Unido) analisaram uma amostra de 445 mulheres e 496 homens, que participaram do Estudo Longitudinal de Saúde da Inglaterra (Elsa) - painel em andamento que envolve uma amostra de indivíduos com 50 anos ou mais - e morreram entre 2006 e 2018.
As entrevistas de acompanhamento foram feitas a cada dois anos e os exames de saúde, a cada quatro. Entre outras questões, o participante respondeu sobre eventos adversos na infância ou adolescência.
Embora a superproteção paterna tenha impactado mais negativamente a longevidade feminina, os pesquisadores destacam que são os homens os mais impactados negativamente pelos eventos adversos nos primeiros anos de vida.
Quem são pais superprotetores?
Para definir quais eram as famílias de superprotetores, foi utilizado um questionário com questões sobre percepção de proteção e cuidado dos pais recebidos na infância/adolescência. O pai superprotetor, segundo Aline Fernanda de Souza, pesquisadora da UFSCar, é aquele que "não dá nenhuma autonomia".
Ela adverte, porém, que não se deve confundir autonomia com permissividade. "Quando falamos da autonomia é saber dosar de acordo com a faixa etária." As hipóteses para explicar essa influência negativa do pai superprotetor eles buscaram na psicologia, contou Aline. "O pai já tem essa figura mais autoritária. É uma figura mais distante quando comparado à mãe."
"Essa figura mais autoritária pode vir a enfraquecer os laços com os filhos. Isso pode desencadear o que chamamos de hábitos não saudáveis, como propensão ao sedentarismo, ao tabagismo, ao consumo abusivo de álcool, além de vir a ter repercussões psicológicas, que podem causar a mortalidade mais cedo", explicou.
Pesquisa retrata uma época
Considerando que a amostra é composta por adultos que tinham 50 anos no início dos anos de 2000, isso significa que, os participantes incluídos na análise nasceram nas décadas de 1950 e de 1960, e são, segundo os pesquisadores, de certa forma, retrato de uma época.
Os cientistas destacam que, caso pesquisa semelhante fosse feita com a geração atual no futuro, os resultados poderiam ser diferentes, mas não distantes do que aferiram.
Pai ou mãe solo geram impacto
Embora a superproteção parental tenha sido o único fator de risco para mortalidade precoce (antes dos 80) comum entre homens e mulheres, os pesquisadores também encontraram associações de outras questões de configuração ou relação familiar à morte precoce quando analisados cada gênero separadamente.
Para homens, ter vivido apenas com um dos pais aumentou o risco de morte antes dos 80 anos em 279%. De acordo com Alexandre, esse foi o fator de risco que mais reduziu a longevidade entre os homens, com uma associação "robusta" com a mortalidade precoce. Entre as mulheres, o fator não foi associado a maior risco de morte.
Com informações de Estadão