EFEITO NO DESEMPENHO

Doping nas Olimpíadas: como substâncias agem no organismo e quais são os riscos à saúde

Uso de substâncias que possam impactar na performance do atleta é proibido pelas organizações esportivas

Publicado em: 09/08/2024 16:52
Última atualização: 09/08/2024 16:52

Doping é um assunto que sempre vem à tona durante grandes eventos esportivos. Nos Jogos Olímpicos de Paris não tem sido diferente. Os critérios atuais para definir quais são as substâncias permitidas e as proibidas avaliam se o método causa alterações na performance do atleta concedendo uma vantagem injusta na competição, fere o espírito desportivo ou coloca em risco a saúde do atleta ou dos competidores.


Doping nas Olimpíadas Foto: Ivan Samkov/Pexels

Hoje, as categorias definidas como substâncias proibidas durante qualquer período pela Agência Mundial Antidoping (WADA, na sigla em inglês) são os agentes anabolizantes, hormônios peptídeos, fatores de crescimento, substâncias relacionadas e miméticos, beta2-agonistas, moduladores hormonais e metabólicos e diuréticos e agentes mascarantes.

“As substâncias barradas nas Olimpíadas por exames antidoping são projetadas para melhorar o desempenho esportivo, proporcionando vantagens ao atleta sobre outros competidores, firam a ética desportiva ou alterem a velocidade de eliminação de metabólitos pela urina, como nos casos de utilização de diuréticos”, comenta Mauricio Bassuino, professor dos cursos de Saúde da UniRitter e Oficial antidopagem (DCO) pela International Doping Tests & Management (IDTM).

Entre as possibilidades de atribuição de vantagem direta ao esportista que faz uso de diurético, há ação rápida de perda de peso, que é benéfica em esportes com categorias de peso. De outra forma, os diuréticos, mesmo quando não relacionados aos esportes com categorias de peso, são considerados doping por serem classificados como substâncias mascarantes, dificultando a detecção em exames de antidoping de outras substâncias.

Casos de doping tiraram atletas das Olimpíadas de Paris 2024

Neste ano, antes mesmo do início das competições em Paris, a equipe do Brasil teve o maratonista Daniel Nascimento eliminado por resultados de antidoping que indicaram uso de drostanolona, metenolona e nandrolona, três hormônios anabolizantes. “Drostanolona, metenolona e nandrolona são esteróides anabolizantes sintéticos que imitam os efeitos da testosterona, um hormônio naturalmente presente no corpo humano. Esses esteroides promovem o crescimento muscular, aumentam a força física e aceleram a recuperação do tecido muscular após treinos intensos, podendo proporcionar uma vantagem significativa aos atletas que os utilizam”, explica o especialista.

Na cidade que sedia as competições deste ano, Paris, ocorreu, em 1886, o primeiro registro fatal de doping, que culminou na morte de um ciclista vitimado por overdose de narcóticos. A classe de narcóticos-analgésicos que faz parte da lista de substâncias proibidas, como a morfina e a codeína, é proibida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) porque pode mascarar a dor, permitindo que os atletas continuem competindo apesar de lesões que normalmente os afastariam. “O uso contínuo de narcótico-analgésicos pode levar à dependência e tolerância, exigindo doses cada vez maiores para alcançar o mesmo efeito analgésico, aumentando o risco de overdose e outros efeitos adversos graves, como depressão respiratória”, alerta Bassuino.

Diferença entre estimulantes e substâncias proibidas

A diferença entre os estimulantes e outras substâncias proibidas é que eles podem ter usos legítimos em doses baixas, como tratamento médico. Esses compostos funcionam aumentando a atividade do sistema nervoso central, melhorando a concentração, a energia e a resistência e reduzindo a sensação de fadiga. “É crucial que os atletas consultem suas equipes médicas e revisem as listas de substâncias proibidas antes de usar qualquer medicação, mesmo as de venda livre. O uso inadvertido de substâncias proibidas pode resultar em sanções severas, incluindo desqualificação e suspensão”, acrescenta o professor.

Além disso, a prática de usar substâncias proibidas antes do tempo detectável dos exames é bastante conhecida. Justamente por esse motivo, ocorre de forma sistemática a testagem fora de competição. Isso minimiza a chance dos atletas e suas equipes médicas de tentarem fazer a utilização de substâncias de acordo com o tempo ativo no organismo, já que esse tipo de testagem ocorre sem aviso prévio e em qualquer momento para o atleta, como ocorreu no exemplo citado acima, do maratonista brasileiro Daniel Nascimento.

Tempo da ação no organismo muda conforme a substância e a pessoa

O especialista alerta sobre a importância em lembrar que o tempo que uma medicação considerada doping permanece no organismo varia de acordo com a substância, a dose administrada, a via de administração e o metabolismo individual do atleta. Algumas substâncias podem ser detectadas no sangue ou na urina por dias, semanas ou até meses após o uso. “Caso haja a necessidade de realizar o tratamento com uma substância que possa ser considerada doping, o atleta pode solicitar uma permissão chamada de Isenção de Uso Terapêutico (TUE, em inglês). Isso garante que os atletas possam ser tratados por condições médicas, mesmo que o tratamento envolva o uso de método proibido, evitando sanções”, acrescenta Bassuino.

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 somam, até agora, dois casos de doping. Entre eles, a eliminação da competição do judoca iraquiano Sajjad Ghanim Sehen, que teria utilizado esteroides anabolizantes. O caso mais recente aconteceu com a boxeadora nigeriana Cynthia Temitayo Ogunsemilore, cujos exames apontaram positivo para substâncias diuréticas e agentes mascaradores. Nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, foram 6 casos no total confirmados pela Agência Internacional de Testes (ITA).

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