ENTREVISTA

DERMATIVE ATÓPICA GRAVE: SUS inclui novo tratamento para doença de pele em crianças

Dermatologista Sílvia Soutto Mayor explica como foi incorporada o novo medicamento que trata dermatite atópica grave em crianças

Publicado em: 16/09/2024 19:55
Última atualização: 16/09/2024 19:55

Crianças de 6 meses de idade até 12 anos incompletos, que sofrem com dermatite atópica grave, agora terão novo medicamento oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) decidiu a incorporação da terapia Dupixent® (dupilumabe), da farmacêutica Sanofi, para o tratamento da doença.


Manchas na pele podem ocorrer com mais frequência no verão, principalmente as dermatites atópicas que não são contagiosas Foto: Siam Pukkato

O medicamento representa um avanço no tratamento da doença, especialmente, para esta faixa etária que, até então, não estava contemplada com terapias avançadas pelo SUS.

A médica dermatologista de dermatologista Silvia Soutto Mayor explica que o dupilumabe é o primeiro imunobiológico aprovado para tratar a forma grave da dermatite atópica no Brasil.

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O medicamento já havia sido aprovado em 2018 para o tratamento da dermatite atópica moderada a grave em adultos, e em 2023, a Agência aprovou para crianças maiores que 6 meses com dermatite atópica grave.

Silvia lembra que em agosto deste ano a Conitec decidiu pela incorporação do medicamento no SUS para crianças de até 12 anos. “Até então, essa população ainda não contava com tratamentos disponíveis para dermatite atópica grave no SUS como cobertura obrigatória.”

“Antes dele (dupilumabe), os médicos poderiam recomendar imunossupressores como corticoides, Ciclosporina A, Metotrexato, entre outros. A fototerapia, com UVB de banda estreita também pode auxiliar no tratamento. Isso, claro, sem falar nas alternativas não medicamentosas, como banhos rápidos e mornos e o uso de cremes hidratantes logo após o banho, sem fragrâncias ou substâncias irritantes”, explica.

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Silvia o tratamento antes do medicamento mais moderno para a forma grave da doença. “Aqui, faço uma observação de que essas medidas devem ser indicadas sempre para pacientes com as formas leve, moderada ou grave da dermatite atópica”, reforça.

Confira a entrevista com a dermatologista Sílvia Soutto Mayor 

Qual a diferença entre uma dermatite atópica comum e uma dermatite atópica grave?


Sílvia Soutto Foto: Divulgação

A dermatite atópica é uma doença cutânea inflamatória mais comum na infância e costuma surgir já nos primeiros anos de vida. A maioria das crianças apresenta a forma leve, com lesões localizadas geralmente nas regiões malares (bochechas), no pescoço, nas dobras dos braços e atrás dos joelhos, pele seca e áspera e coceira. A doença é heterogênea e pode variar dessas formas leves até as formas graves, com muita coceira e lesões em vários locais do corpo, o que causa grande impacto negativo na qualidade de vida do paciente e de toda a família. Vale pontuar que essa forma grave afeta de 1,9% a 6,9% das crianças e adolescentes. De acordo com o Global Burden of Disease (GBD), a doença ocupa o 15º lugar entre todas as doenças não fatais e incapacitantes do mundo.

Como é feito o diagnóstico da doença?

O diagnóstico da dermatite é baseado em critérios clínicos, obtidos através da história e do exame físico, realizado pelo médico. Raramente são necessários exames laboratoriais. A dermatite atópica pode ser precursora de outras formas de atopia como: rinite alérgica e asma.

O que desencadeia uma dermatite?

A causa exata da doença é desconhecida, mas sabemos que alguns fatores contribuem para o seu aparecimento, como: fatores genéticos, disfunção da barreira cutânea, mecanismos imunológicos e até mesmo fatores ambientais. Isso significa que alimentos e aeroalérgenos (ácaros, fungos e pelos de animais) podem contribuir. Importante ressaltar que aspectos emocionais desempenham relevante papel, tanto como desencadeante quanto como agravante da dermatite atópica.

Antes da incorporação do Dupixent® ao SUS, existiam outros medicamentos para tratar essa doença?

O Dupilumabe foi aprovado pela Anvisa em 2018 para o tratamento da dermatite atópica moderada a grave em adultos, e em 2023 para crianças maiores que 6 meses com dermatite atópica grave e é o primeiro imunobiológico aprovado para tratar a forma grave da dermatite atópica no Brasil. Antes dele, os médicos poderiam recomendar imunossupressores como corticóides, Ciclosporina A, Metotrexato, entre outros. A fototerapia, com UVB de banda estreita também pode auxiliar no tratamento[3]. Isso, claro, sem falar nas alternativas não medicamentosas, como banhos rápidos e mornos e o uso de cremes hidratantes logo após o banho, sem fragrâncias ou substâncias irritantes. Aqui, faço uma observação de que essas medidas devem ser indicadas sempre para pacientes com as formas leve, moderada ou grave da dermatite atópica.

O medicamento é de uso contínuo? Como é aplicado, comprimido, pomada...?

O Dupilumabe (Dupixent®) é de uso exclusivamente subcutâneo, e pode ser autoadministrado pelo paciente maior de idade, ou por um profissional de saúde ou até mesmo por um cuidador (após receber orientações de um profissional de saúde sobre as técnicas apropriadas para injeção subcutânea). A dose e a periodicidade variam conforme orientação de bula, de acordo com faixa etária e peso do paciente.
O medicamento é um anticorpo monoclonal totalmente humano que inibe a sinalização das vias da interleucina-4 (IL-4) e da interleucina-13 (IL-13) e não é considerado imunossupressor. No Brasil, atualmente, está aprovado para o tratamento de asma, rinossinusite crônica com pólipos nasais, dermatite atópica moderada a grave, prurigo nodular e esofagite eosinofílica. Atualmente, mais de 900 mil pacientes são tratados com Dupixent® ao redor do mundo.

Existem dados sobre o número de pessoas que sofrem com dermatites atópicas graves?

Dermatite atópica é uma doença crônica e sistêmica, que afeta em torno de 10 a 20% das crianças (porém somente 6,1% das crianças entre 6 meses e 5 anos de idade possuem a forma grave da doença) e entre 2-8% dos adultos. Adolescentes entre 14 e 17 anos perdem, em média, 26 dias de aula por ano em consequência dos sintomas causados pela dermatite atópica devido à vergonha, sensação de rejeição e bullying. 

Pessoas com histórico familiar de dermatites precisam fazer algum tipo de rastreio da doença, ou ter alguma conduta para evitá-la?

Quando há histórico familiar de atopia, o risco de desenvolver a dermatite atópica é maior e costuma ser recomendada hidratação da pele quando o ressecamento é observado, porém até o momento não há como impedir o aparecimento da dermatite. O diagnóstico precoce da doença e início imediato do tratamento adequado além do encaminhamento dos casos mais graves para o médico especialista costuma melhorar os sintomas e a qualidade de vida do paciente e de seus familiares.


 

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