Nos últimos quatro anos, o Rio Grande do Sul vive uma crescente de casos de coqueluche. O Estado não está sozinho nessas estatísticas, os índices da doença também são elevados em outras partes do Brasil, conforme registros do Ministério da Saúde. A incidência da doença acende o alerta para o risco às crianças, principalmente de zero a 1 ano.
Os casos de internação e morte são mais comuns na faixa etária infantil que ainda não tem o esquema completo de vacinação. Para proteger as crianças, alerta o médico pediatra Benjamin Roitman, os adultos precisam ficar atentos aos sintomas.
O médico explica que os adultos também são acometidos pela coqueluche, isto ocorre porque, ao longo dos anos, a vacina vai perdendo a eficácia. No entanto, a coqueluche em adultos pode não ter as características clássicas, como a tosse persistente, por exemplo. Um quadro de coqueluche pode ser confundido com uma gripe ou tosse alérgica.
Porém se essa tosse “não cura”, ou seja, se passa de 14 dias com sintomas, é recomendado que o adulto procure um médico. O tratamento é feito com antibióticos. “É preciso tratar os contactantes, pois essas pessoas apresentam alto risco de passar a doença para os bebês”, explica.
Roitman ressalta que a principal estratégia de prevenção à coqueluche é a vacinação, que começa aos 2 meses de vida (veja detalhes ao lado). As gestantes também são vacinadas para passarem anticorpos aos bebês. No Sistema Único de Saúde (SUS) não é oferecida a vacina contra a coqueluche para adultos, com exceção das gestantes, mas o imunizante pode ser encontrado na rede privada.
Nos últimos quatro anos, os casos de coqueluche são crescentes. Até 31 de outubro de 2024, o RS registrava 112 notificações (entre adultos e crianças). Mas Roitman comenta que se observa que esses números podem ser muito maiores. “Há muita subnotificação”, afirma o médico que também é diretor da Sociedade de Pediatria do RS.
Conforme os dados de notificação fornecidos pelo Ministério da Saúde, no RS o grupo de faixa etária de menores de 1 ano é o de maior incidência de coqueluche neste ano. Depois vem os de 10 a 14 anos e o terceiro mais afetado pela doença são pessoas com mais de 30 anos.
Evolução das notificações de coqueluche no Rio Grande do Sul nos últimos dez anos | |
Ano | Total |
2014 | 260 |
2015 | 128 |
2016 | 110 |
2017 | 320 |
2018 | 168 |
2019 | 65 |
2020 | 8 |
2021 | 14 |
2022 | 39 |
2023 | 23 |
2024 | 112* |
*Dados até 31/10/2024 Fonte: Ministério da Saúde |
Baixa cobertura vacinal e necessidade de notificação
A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS) emitiu um alerta diante da elevação significativa de casos de coqueluche no Estado nos últimos meses. De acordo com dados epidemiológicos, até a 37ª semana de 2024, Porto Alegre registrou 79 notificações suspeitas da doença, com 48 confirmações. Dois surtos foram identificados, e outros sete estão sob investigação, envolvendo 28 pessoas.
“Observamos um aumento expressivo nas doenças evitáveis, com um crescimento superior a 900% em várias regiões do mundo e, agora, também no Brasil. A principal razão para esse cenário é a baixa cobertura vacinal, especialmente entre crianças e gestantes”, observa o infecto pediatra da Sociedade de Pediatria do RS (SPRS), Marcelo Scotta.
Além disso, a entidade reforça aos médicos a importância de notificar todos os casos suspeitos de coqueluche, uma doença de notificação obrigatória. “É crucial que, durante o atendimento, o profissional de saúde realize a notificação imediata à Vigilância em Saúde”, completa o médico.
Prevenção e controle passa por vacinação
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) define que as principais medidas de prevenção e controle da coqueluche são a vacinação e a busca ativa de casos de outras pessoas que possam contaminar crianças.
O Calendário Básico preconizada pelo Ministério da Saúde é de 3 doses com a vacina pentavalente (DTP Hib Hepatite B), um reforço aos 15 meses de idade, e um segundo reforço aos 4 anos de idade com a tríplice bacteriana (DTP), que pode ser aplicada até 7 anos de idade (6 anos, 11 meses e 29 dias).
A imunidade pela vacina não é permanente, durando em média 5 a 10 anos e após este período a proteção pode ser pouca ou inexistente. Outra estratégia utilizada na prevenção da coqueluche é vacinar todas as gestantes com a vacina tríplice bacteriana acelular tipo adulto (dTpa). Essa vacina deve ser administrada a cada gestação, a partir da 20ª semana até, preferencialmente, 20 dias antes da data provável do parto. Também é indicada para profissionais e estagiários da área da saúde bem como para parteiras tradicionais.
Os caso suspeitos de coqueluche devem ser notificados e investigados e ainda se deve proceder a busca ativa por outros casos, através da investigação de comunicantes a ser realizada em residência, creche, escola e em outros locais que possibilitaram o contato íntimo com o caso.
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