COMBATE AO TABAGISMO
Cigarros eletrônicos são novo desafio para combate ao tabagismo
Uso dos vapes cresce entre jovens e pode ser entrave na manutenção na queda de consumo de tabaco
Chamado de Agosto Branco, o oitavo mês do ano foi marcado por ações de conscientização sobre o risco do tabagismo para a saúde. E esta quinta-feira (29) é marcada como Dia Nacional de Combate ao Fumo, que marca mais uma atividade de conscientização à população. A data foi instituída em 1986, quando quase 40% da população brasileira acima de 18 anos era tabagista, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA).
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O número de fumantes se manteve alto ao longo de toda a década de 1980 e boa parte dos anos 1990. Mas o Brasil conseguiu reverter o quadro nos últimos 20 anos, chegando a 2019 a um índice de 12,6%.
Reduzir o número de tabagistas é considerada uma necessidade de saúde pública, já que o hábito do fumo está diretamente relacionado a diversas doenças, principalmente o casos de câncer, como reforça a oncologista torácica da Oncoclínicas no Rio de Janeiro, a médica Tatiane Montella.
“80% dos pacientes tiveram alguma exposição ao tabagismo. Por isso, é tão importante falar sobre esse tema, porque a prevenção é a principal ação para diminuir o número de pacientes com câncer de pulmão”, afirmou ela em entrevista à Agência Brasil.
Novos desafios
Se nos primeiros 20 anos do novo milênio o Brasil se destacou no combate a doenças causadas pelo tabagismo, o desafio agora é não deixar que o trabalho se perca com o avanço do uso dos cigarros eletrônicos. No centro do debate há visões diferentes sobre o tema, pois de um lado há quem defenda que a liberação seria necessária para melhorar a fiscalização.
Enquanto o Congresso debate o projeto de lei que busca liberar a venda dos cigarros eletrônicos no país, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vem reforçando sua posição contrária à liberação dos produtos no território nacional. Ainda neste ano, uma nova resolução da Agência manteve a proibição total dos vapes.
Para especialistas como a pneumologista e professora da Universidade Feevale, Simone de Leon Martini, a postura adotada pela Anvisa até aqui em relação ao uso dos cigarros eletrônicos é a mais adequada. “Quando somos a favor de liberar uma droga que causa um dano, da mesma forma estamos favorecendo um grande problema de saúde pública”, avalia.
Novos riscos
Foi em 2003 que os cigarros eletrônicos foram criados, e inicialmente foram apresentados como produtos menos agressivos à saúde e até mesmo como ferramentas para que tabagistas abandonassem o vício.
“Vários pacientes achavam que poderiam ajudar a abandonar o cigarro comum, mas na verdade eles contém substâncias tóxicas”, destaca Simone, que é doutora em Ciências Pneumológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Além de conterem uma série de substâncias tóxicas, os vapes também contém nicotina e tem potencial de viciar os usuários.
Uma das principais dificuldades é saber quanto de nicotina os usuários de vapes estão ingerindo, já que cada um dos produtos tem uma quantidade específica. “Como ele não gera fumaça acabam usando uma quantidade muito maior”, ressalta a pneumologista.
Crescimento
Mesmo proibido e com todo esse potencial de prejuízo à saúde, o uso de cigarros eletrônicos só cresce, especialmente entre os jovens. Para Simone, esse crescimento se dá por duas questões, uma social de aceitação do grupo e adequação à uma nova moda. “Infelizmente ele se tornou um modismo, e como tal os jovens são suscetíveis, como era nas décadas de 19 40 e 1950 quando praticamente dodo mundo fumava”, ressalta.
Concomitantemente a esse modismo, a informação equivocada sobre os malefícios do uso destes cigarros eletrônicos. “O que vejo entre os adolescentes é a ideia de que não faz mal”, conta Simone, que ainda relata o fato de que ao se darem conta dos problemas causados pelo cigarro eletrônico, boa parte dos jovens abandona o uso.
Mas apesar do alto poder de vício, ela garante ser possível deixar o vício de lado com tratamento adequado. Entre as medidas indicadas está o uso de remédios para minimizar os impactos da abstinência, além de outras formas de acompanhamento. O fundamental é que o usuário, seja de cigarros eletrônicos ou dos tradicionais, demonstre a vontade de abandonar o vício.