SAÚDE

Cientistas tentam descobrir por que novas gerações têm mais risco de câncer

Pesquisa norte-americana observou que gerações X e Millenial têm maior incidência da doença, apesar dos avanços no tratamento

Publicado em: 02/08/2024 19:22
Última atualização: 02/08/2024 19:23

O câncer é uma das principais causas de morte no planeta. Segundo dados de 2019 da Organização Mundial da Saúde - OMS, o câncer é a sexta causa mais comum de morte globalmente, atrás de doenças cardíacas, enfarte, doença pulmonar, infecções respiratórias e condições neonatais. Nas últimas décadas, grandes avanços vêm sendo realizados no tratamento e prevenção do câncer, assim como conscientização da população sobre os riscos. Entretanto, pesquisa recente feita nos Estados Unidos aponta que as novas gerações, paradoxalmente, estão correndo mais risco de contrair a doença.

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Câncer de mama é uma das formas de câncer com aumento registrado nas novas gerações, segundo pesquisa Foto: Divulgação

As causas ainda não são totalmente compreendidas. É possível que o risco aumentado de contrair câncer esteja ligado a múltiplos fatores que se aceleraram nas últimas décadas. Entre eles, aumento do consumo de alimentos industrializados ou multiprocessados; deterioração do ambiente com maior radiação solar e mais poluição ambiental; cotidiano crescentemente mais caótico nas grandes cidades, onde a maior parte da população agora vive; e exposição maior a radiações em geral, tanto por produtos eletrônicos quanto pelo sistema global de telecomunicações.

Por enquanto, os dados demonstram um aumento crescente do risco de contrair câncer a cada nova geração. Trata-se de um grande estudo liderado por pesquisadores da American Cancer Society (ACS) nos Estados Unidos. A pesquisa sugere que as taxas de incidência continuaram a aumentar em gerações sucessivamente mais jovens em 17 dos 34 tipos de câncer, incluindo câncer de mama, pâncreas e estômago. As tendências de mortalidade também aumentaram em conjunto com a incidência de câncer de fígado (apenas em mulheres), corpo uterino, vesícula biliar, testicular e colorretal. O relatório será publicado na revista The Lancet Public Health.


Ilustração digital de uma célula cancerosa pancreática. Este é um tipo de câncer incluído no levantamento Foto: Adobe Stock

Dados confirmam pesquisas anteriores

"Esses achados se somam às crescentes evidências de aumento do risco de câncer nas gerações pós-baby boomers, expandindo descobertas anteriores de câncer colorretal de início precoce e alguns cânceres associados à obesidade para abranger uma gama mais ampla de tipos de câncer", disse Hyuna Sung, autora principal do estudo e cientista sênior principal de vigilância e equidade em saúde da American Cancer Society.

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A cientista explica: "Coortes de nascimento (grupos de pessoas classificadas por seu ano de nascimento) compartilham ambientes sociais, econômicos, políticos e climáticos únicos, que afetam sua exposição a fatores de risco de câncer durante seus anos cruciais de desenvolvimento. Embora tenhamos identificado tendências de câncer associadas aos anos de nascimento, ainda não temos uma explicação clara para o aumento dessas taxas."

Entenda como foi o estudo e o que foi descoberto

Nesta análise, os pesquisadores obtiveram dados de incidência de 23.654.000 pacientes diagnosticados com 34 tipos de câncer e dados de mortalidade de 7.348.137 mortes para 25 tipos de câncer para indivíduos com idade entre 25 e 84 anos para o período de 1º de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2019. Os dados vieram da North American Association of Central Cancer Registries e do U.S. National Center for Health Statistics, ambas entidades norte-americanas que mantêm registros da área de saúde. Para comparar as taxas de câncer entre as gerações, foram calculadas razões de taxa de incidência e razões de taxa de mortalidade específicas para coorte de nascimento, ajustadas para efeito de idade e efeito de período, por ano de nascimento, separadas por intervalos de cinco anos, de 1920 a 1990.


Pesquisa aponta que gerações mais velhas tiveram menor propensão a câncer Foto: adobe stock

Os pesquisadores descobriram que as taxas de incidência aumentaram com cada coorte de nascimento sucessiva nascida desde aproximadamente 1920 para oito dos 34 cânceres. Em particular, a taxa de incidência foi aproximadamente duas a três vezes maior na coorte de nascimento de 1990 do que na coorte de nascimento de 1955 para câncer de pâncreas, rim e intestino delgado em indivíduos homens e mulheres; e para câncer de fígado em mulheres.

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Além disso, as taxas de incidência aumentaram em coortes mais jovens, após um declínio nas coortes de nascimento mais antigas, para nove dos cânceres restantes, incluindo câncer de mama (somente receptor de estrogênio positivo), câncer de corpo uterino, câncer colorretal, câncer gástrico não cardíaco, câncer de vesícula biliar, câncer de ovário, câncer testicular, câncer anal em indivíduos do sexo masculino e sarcoma de Kaposi em indivíduos do sexo masculino.

Entre os tipos de câncer, a taxa de incidência na coorte de nascimento de 1990 variou de 12% para câncer de ovário a 169% para câncer de corpo uterino, mais alta que a taxa na coorte de nascimento com a menor taxa de incidência. Notavelmente, as taxas de mortalidade aumentaram em coortes de nascimento sucessivamente mais jovens juntamente com as taxas de incidência de câncer de fígado (apenas mulheres), corpo uterino, vesícula biliar, testicular e colorretal.

Alerta para cuidados de saúde nas novas gerações

"O aumento das taxas de câncer entre esse grupo mais jovem de pessoas indica mudanças geracionais no risco de câncer e geralmente serve como um indicador precoce da carga futura de câncer no país. Sem intervenções eficazes em nível populacional e à medida que o risco elevado em gerações mais jovens é transferido à medida que os indivíduos envelhecem, um aumento geral da carga de câncer pode ocorrer no futuro, parando ou revertendo décadas de progresso contra a doença", acrescentou Ahmedin Jemal, vice-presidente sênior de vigilância e equidade em saúde da American Cancer Society e coautor do estudo. "Os dados destacam a necessidade crítica de identificar e abordar os fatores de risco subjacentes nas populações da Geração X e Millennial para informar estratégias de prevenção."

"O crescente fardo do câncer entre as gerações mais jovens destaca a importância de garantir que pessoas de todas as idades tenham acesso a um seguro de saúde abrangente e acessível, um fator chave nos resultados do câncer", disse Lisa Lacasse, presidente da Rede de Ação contra o Câncer da American Cancer Society. A entidade pretende usar os dados para argumentar sobre a necessidade de ampliar programas de acesso a saúde.


Cientistas argumentam sobre importância de aumentar cobertura de saúde para novas gerações Foto: Adobe Stock

Entenda as classificações por geração

O estudo faz menção a nomes genéricos das gerações do pós-guerra, uma nomenclatura muito comum. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, em meados dos anos 1940, as gerações são chamadas assim: baby boomers (nascidos nos anos 1940 e 1950); geração X (nascidos entre os anos 1960 e 1970); millenials ou geração Y (nascidos entre os anos 1980 e o ano 2000); geração Z (nativos digitais, já do século 21); geração Alpha (nascidos após 2010).

A classificação em gerações não é exata e não deve dar base para generalizações. No caso específico deste estudo científico, que emprega coortes ou classificações com base em ano de nascimento, os cientistas usam a nomenclatura geracional por praticidade.

(Com informações de ScienceDaily)

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