Uma nova prática tem sido adotada e pesquisada para determinadas situações de cirurgias de câncer de mama. É o descalonamento do tratamento cirúrgico que busca reduzir ou evitar cirurgias mais extensas, que podem não ser necessárias em determinados casos.
A mastologista Alessandra Borba, da Oncoclínicas Rio Grande do Sul, explica que essa abordagem mantém a taxa média de sobrevida, mesmo utilizando intervenções menos agressivas, melhorando a qualidade de vida.
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A especialista exemplifica que antes a remoção de todos os linfonodos axilares em pacientes com câncer de mama era uma prática comum, o que podia causar linfedema (inchaço no braço) em cerca de 20% das mulheres.
“Hoje, só retiramos os linfonodos se houver sinais de que estão comprometidos pela doença”. Além disso, com os avanços, é possível evitar essa intervenção também em alguns casos de linfonodos positivos. “Isso abrevia o tempo da cirurgia, diminui o risco de linfedema para cerca de 5%, e também reduz a necessidade de drenos e a chance de perder sensibilidade ou ter sequelas nos movimentos do braço”, complementa.
O descalonamento também pode ser adotado para que, em vez da mastectomia, seja feita a quadrantectomia, procedimento que remove apenas o quadrante afetado pelo tumor. Outra possibilidade é utilizar essa abordagem para preservação de pele e mamilo, dependendo de cada situação.
Alessandra afirma que os cirurgiões brasileiros estão atualizados com as práticas mais recentes e aplicam esses conceitos sempre focando no bem-estar do paciente.
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A mastologista participou em 2022 de um estudo brasileiro (The Attitudes of Brazilian Breast Surgeons on Axillary Management in Early Breast Cancer-10 Years after the ACOSOG Z0011) que mostrou que 82,5% dos cirurgiões já adotam os critérios de descalonamento em cirurgias axilares.
“Precisamos continuar buscando educar e informar os que ainda não seguem essas diretrizes, por meio de encontros científicos, guidelines e eventos educacionais, tanto presenciais quanto online”, destaca a mastologista.
Estudos avaliam reduções de cirurgia
Alessandra frisa que os estudos sobre descalonamento cirúrgico mostram que essa prática clínica mantém a taxa média de sobrevivência, mesmo usando intervenções menos agressivas, e ainda melhora a qualidade de vida.
Isso se aplica tanto às cirurgias da mama quanto às axilares. “Além disso, com o avanço no entendimento do comportamento do câncer e da biologia da doença, conseguimos tratar algumas pacientes com medicamentos antes da cirurgia, o que pode diminuir o tamanho do tumor e permitir uma intervenção menor, como a quadrantectomia, que preserva parte da mama sem comprometer a sobrevivência da paciente”, afirma.
A mastologista informa que existem pesquisas em andamento para tentar evitar a cirurgia em algumas situações. Por exemplo, pacientes com lesões grandes que seriam submetidas à mastectomia podem realizar antes a quimioterapia neoadjuvante, método utilizado para reduzir o estágio do tumor.
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Há, também, vários trabalhos internacionais avaliando formas de não fazer operações em casos de pacientes com carcinoma ductal in situ (DCIS), um tipo de neoplasia mamária inicial que não se espalha.
A especialista cita que além do Comet, ensaio clínico fase III nos Estados Unidos para analisar diferentes estratégias de tratamento para DCIS de baixo risco, há outros estudos de fase III em andamento que variam nos critérios de inclusão, mas com o mesmo objetivo, tanto na Europa quanto no Japão.
Já para indivíduos com linfonodos positivos após quimioterapia, Alessandra afirma que a Alliance (EUA) deve apresentar os primeiros resultados em 2025 que podem mudar a prática clínica.
Outros trabalhos nos Estados Unidos (microNac), Itália (Neonad) e Espanha (Adarnat) estão investigando maneiras de evitar a cirurgia de esvaziamento axilar em casos de linfonodo sentinela positivo após quimioterapia neoadjuvante.
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O foco em abordagens cirúrgicas menos invasivas com maior segurança oncológica possível está no centro dessas pesquisas, como enfatiza Alessandra: “A ideia é fazer o mínimo de intervenção possível, sem comprometer a segurança da paciente, garantindo o melhor resultado com menos efeitos colaterais”, conclui a mastologista.