O caminhoneiro aposentado Gilmar Corrêa da Silva, 59 anos, descobriu em 2021 um câncer na bexiga e iniciou o tratamento no Hospital Conceição, em Porto Alegre. Três anos depois, devido à metástase, a doença chegou aos pulmões, e ele mais uma vez voltou para o Conceição, contudo encontrou o espaço de atendimento totalmente modificado.
“A diferença é gigante, a estrutura traz muito mais conforto, tu te sente bem fazendo um tratamento de qualidade, o que prova que o SUS está bem acima daquilo que a gente sempre imaginou”, relata o paciente morador de Gravataí, que desde maio é um dos pacientes atendidos no novo Centro de Oncologia e Hematologia (COH), que desde abril oferece tratamento oncológico e hematológico. Mesmo sem ter sido inaugurado oficialmente, o espaço localizado junto ao Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC) já tem recebido pacientes de todo o Estado.
Acompanhado da esposa, a dona de casa Rosane Estavam da Silva, 58 anos, Gilmar comemora também o fato de haver uma estrutura que permite a ele ter a companhia da família nesse momento. “Agora eles podem ficar aqui com a gente, isso melhora muito o atendimento.”
Com a nova estrutura, o GHC deve aumentar em 77% a capacidade de atendimento de internações e 200% na quimioterapia. “A ideia é que ele seja acolhido e no dia que ele venha na consulta ele já tenha um direcionamento e não precise ficar pipocando em vários lugares”, explica a coordenadora da Linha de Cuidado Oncológico do GHC, Stephanie Greiner, sobre o funcionamento do COH. Atualmente o GHC tem aproximadamente mil pacientes sendo atendidos em outros hospitais, os quais poderão ser remanejados de volta ao GHC.
Mesmo sem ser inaugurado oficialmente e ainda restando cerca de 7% das obras a serem finalizadas, todas no térreo, o novo espaço já iniciou os atendimentos. São cerca de 1,9 mil procedimentos de quimioterapia mensais, o que corresponde a 1.050 pacientes. Já na internação são 150 pacientes, nas especialidades hematologia, oncológica clínica e oncologia cirúrgica, além de seis mil consultas realizadas por mês.
Como se trata de uma instituição vinculada ao Ministério da Saúde, o GHC consegue recursos diretamente junto ao governo federal. Assim foram feitos os projetos e investimentos de cerca de R$ 103 milhões para a construção do novo espaço. Justamente em razão disso, todo o atendimento oferecido é via Sistema Único de Saúde (SUS), não tendo qualquer convênio ou atendimento particular sendo realizado. Apenas algumas Organizações Não Governamentais (ONGS) e voluntários trabalham na perucaria e na biblioteca construída para atender pacientes e familiares.
Investimentos
Iniciada em 2018, o novo prédio de 14 mil metros quadrados construídos ainda passa por obras no térreo, onde está sendo instalado um dos aparelhos mais caros e importantes para o tratamento de radioterapia. O acelerador linear, um equipamento com custo aproximado de R$ 20 milhões.
A instalação deste equipamento, que deve ser o primeiro de dois previstos para serem instalados no COH, vai ao encontro da proposta de centralizar todo o atendimento SUS oferecido pelo GHC. O Conceição atualmente é responsável pelo atendimento de pacientes de diversos municípios do Estado, encaminhados via sistema de regulação ou mesmo atendidos na emergência do hospital e que venham a ser diagnosticados.
Com o tratamento concentrado, pacientes como Ana Millena dos Santos Candido, 21 anos, moradora de Tramandaí. No dia 29 de abril deste ano, véspera de seu aniversário, ela recebeu o diagnóstico de leucemia mieloide crônica (LCM), um câncer que ataca a medula óssea e de difícil tratamento.
Encaminhada para o GHC ela conseguiu agilizar e acelerar o tratamento. “Quando vim para cá fui para emergência e de lá já vim para a ala nova. Fiquei só dois dias internada e já descobri qual a minha doença e comecei meu tratamento”, conta ela que atualmente realiza entre duas a três viagens mensais de Tramandaí até a capital para se tratar.
Trabalhador da construção civil, Jorge Leandro Portela Candido, 45 anos, pai de Ana busca manter a tranquilidade para dar o apoio necessário à família, mas não esconde o baque inicial da notícia. “O primeiro impacto é difícil, tentar descobrir o tipo, a reação, não sabe se tem tempo de vida ou não”, relembra.
Proposta do hospital é centralizar os atendimentos
Um dos desafios anteriores era quanto a distribuição de medicamentos, já que a farmácia que ficava do outro lado da rua tinha um horário de atendimento incoerente com o tempo do tratamento. “O paciente terminava o tratamento dele às 17h30 e a farmácia estava fechada e ele precisava voltar outro dia”, relembra Stephanie Greiner, destacando que, por razões sociais, muitos pacientes acabavam não retornando e abandonavam o tratamento.
Qualidade de internação
Para além da melhoria no atendimento ambulatorial, o novo prédio busca melhorar a qualidade de pacientes e acompanhantes que precisam ficar internados. Com a experiência de ter vivido nos dois ambientes, Gilmar avalia as mudanças. “Ficou tudo melhor, a acessibilidade, as camas. A gente não fica tão dependente de quem trabalha aqui, muitas coisas a gente consegue fazer sozinho, permanência do acompanhante. Antes não tinha nem ventilador”, relembra ele que quando concedeu a entrevista acompanhava uma partida da Eurocopa em uma televisão instalada no quarto, algo difícil de imaginar no prédio antigo.
Além de atender a necessidade dos pacientes, uma das preocupações é oferecer um espaço mais confortável para os familiares. Por isso o espaço conta com estruturas mais confortáveis tanto em termos de poltronas como na oferta de uma cozinha exclusiva aos acompanhantes.
Stephanie ainda ressalta a melhora para os próprios profissionais, que agora contam com uma série de equipamentos mais modernos e que oferecem melhores condições de atuação. Agora, a equipe aguarda a visita da ministra da Saúde, Nísia Trindade, e talvez até mesmo a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a inauguração oficial.
Uma das grandes expectativas é que o ato aconteça nos próximos meses e venha acompanhado do anúncio de aquisição do segundo acelerador linear. A estrutura especial para receber o equipamento está sendo finalizada, faltando a liberação de verba do governo federal para a compra e instalação.
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