As enchentes de 1941 e 1967 marcaram a memória dos canoenses. Em maio de 1941 – na maior cheia que o Rio Grande do Sul já viu -, os bairros Mathias Velho, Rio Branco e Niterói foram os mais afetados pelo acúmulo de 405,5 milímetros de chuva. Mas setembro de 2023, que ainda não chegou ao fim, já superou o recorde e é o mês mais chuvoso da história na região.
Após o temporal que atingiu Canoas ontem, o fato histórico foi citado pelo prefeito Jairo Jorge. “No pior momento, a pior chuva já registrada, foi em maio de 1941. Foram 405,5 milímetros durante o mês inteiro”. De 1º de setembro até as 18 horas de ontem, o acumulado em Canoas era de 505 milímetros, ou seja, 100 a mais que o recorde de maio de 1941. Das 5 às 16 horas de ontem o acumulado de chuva foi de 67 milímetros. A média histórica para setembro na cidade é de 147,8 mm de chuva.
O historiador e responsável pelo Museu e Arquivo Histórico da Secretaria Municipal da Cultura, Airan Milititsky Aguiar, explica que na década de 40 as partes mais baixas [geograficamente] do município não eram quase habitadas, ou seja, o impacto, em termos de perda, foi menor em relação à enchente de 1967.
A enchente de setembro daquele ano é mencionada no livro “Canoas – Para lembrar quem somos – Volume: Mathias Velho” como uma das maiores no município. Os registros apontam que 22 mil pessoas ficaram desabrigadas. Na época, os moradores foram acolhidos na Base Aérea e em escolas.
O bairro Mathias Velho foi um dos mais atingidos pelo intenso volume de água. A Avenida Rio Grande do Sul é descrita como um “leito de rio”. Para transitar na via, era necessário fazer uso de um barco. “As pessoas perderam tudo. Foi uma tragédia”, destaca Aguiar.
Na década de 1960, o êxodo rural na região contribuiu para a povoação de localidades chamadas de “terras baixas”, como o Mathias Velho, Rio Branco e Mato Grande.
“Tivemos dois movimentos: os loteamentos e as ocupações. Os loteamentos eram vendidos por uma empreiteira, muitas pessoas foram enganadas, elas não tinham consciência que os locais eram inapropriados para habitação, não havia saneamento, coleta de lixo, asfalto”, salienta. “Era tudo muito precário. Não havia um Plano Diretor Municipal”.
Marcada por enchentes, a década de 1960 foi determinante para a construção de diques de contenção, casas de bombas e a urbanização dos bairros no lado oeste. “Foi o começo das ações que são feitas até hoje, que visam diminuir a possibilidade de enchentes.Os desafios ainda seguem, a região continua sendo a mais baixa da cidade”, destaca.
Aguiar fala sobre a importância do poder público na prevenção. “São regiões que, historicamente, os moradores não querem abandonar. É preciso serem elaboradas soluções visando a melhoria da qualidade de vida dessa população”, conclui.
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