DUPLA DO BARULHO

Restauração de carros antigos foi transformada em arte pelos irmãos Villa

Oficina de Canoas tem história por dar tratamentos a clássicos sobre quatro rodas

leandro.domingos@gruposinos.com.br

Publicado em: 17/10/2023 às 13h:23

Fabiano Villa remove o plástico que cobre o automóvel com o cuidado de quem está tratando algo frágil e delicado. O irmão dele, Luciano Villa, desliza a mão sobre a superfície da lataria da Brasília 74 com o carinho de um escultor que terminou uma obra de arte. O sentimento, afinal de contas, é esse mesmo.

Irmãos são mestres da restauração

Foto: PAULO PIRES/GES

Os irmãos Villa completam em 2023 duas décadas dedicadas à restauração de veículos antigos. A oficina na Avenida Santos Ferreira, 4150, se tornou referência para apaixonados por clássicos em quatro rodas não apenas no Rio Grande do Sul, recebendo hoje encomendas de todo o Brasil.

A paixão por veículos começou cedo. Foi graças ao trabalho na oficina criada no endereço pelo pai, Adolfo Villa, ainda moleques, que ambos se afeiçoaram ao trabalho artesanal que envolve marreta, maçarico, lixa e tinta na lataria.

Aos 47 anos, Fabiano recorda com carinho das lições aprendidas com seu Adolfo. O carro é como uma namorada que se trata com muito carinho e amor para que o romance não termine. Esse tratamento diferenciado garantiu o contato com clientes igualmente apaixonados por verdadeiras relíquias. “O pai trabalhou até alguns dias antes de morrer de câncer. Foi em 2015. Ele tinha 81 anos”, conta. “Meio que aquilo que a gente sabe aprendeu com ele. Ele gostava do que fazia. E isso faz diferença. Além de ser também um apaixonado por carros antigos.”

Seu Adolfo, no entanto, vivia em uma outra época. A mudança dos tempos exigiu aos Villa se adaptar para garantir o futuro do negócio. O investimento na oficina, aponta Luciano, 44 anos, foi grande, somando-se a interatividade pela Internet com potenciais clientes de todo o Brasil.

“A gente está em contato permanente com colecionadores não apenas do Rio Grande do Sul, mas também de São Paulo, Rio de Janeiro e até de Maceió”, aponta. “É que o pessoal fica conhecendo o trabalho e acaba gostando e recomendando a outros clientes”, explica.

Peças importadas

Luciano lembra que do primeiro carro antigo restaurado, um Ford dos anos 1960, no longínquo ano de 2003, até o Bell Air 1959 que está pronto para a entrega ao cliente, muita coisa mudou. E hoje existe até mesmo concorrência em um ramo que não é para os fracos.

“Muita gente gosta de carros antigos e quer trabalhar com eles, mas não é fácil”, afirma. “A gente já viu oficinas abrirem e fecharem, porque a mão de obra é pesada e às vezes a gente passa até um ano trabalhando no mesmo carro. Eu brinco que isso é para os fortes e, principalmente, para quem tem muita paciência.”

A mão de obra na oficina dos irmãos Villa é especializada, contudo nem tudo é resolvido entre as paredes do enorme estabelecimento. Isso porque uma boa parte do serviço depende de peças. Aliás, algumas bastante raras e caras, que são importadas dos Estados Unidos e da Europa. O material, inclusive, às vezes demora para chegar, mas ele diz ser tranquilo por trabalhar com clientes sem pressa.

“Hoje existe toda uma indústria por trás da restauração de carros antigos, algo que não havia quando começamos a trabalhar no restauro há 20 anos”, aponta Fabiano. “Porque algumas peças podem ser adaptadas, porém outras não há como e somente importando a gente consegue”.

O problema Lata Velha

Foi em 2005 que o programa Caldeirão do Huck lançou o quadro Lata Velha. Embora esse tipo de programa já fosse bastante popular nos Estados Unidos, a atração acabou popularizando para todo o Brasil a restauração de carros antigos.

Os irmãos Villa concordam em dizer que o programa de Luciano Huck, além de toda a positiva promoção em cima deste tipo de serviço, acabou também criando o problema de vender a ideia de que qualquer veículo pode ser restaurado e parecer novinho em folha como em um passe de mágica.

Luciano inclusive cita a Internet como aliada da verdade. Estão em páginas da web revelações a respeito de veículos entregues por programas que na verdade foram trocados para parecerem novinhos diante do público.

“Quando a gente lida com carros antigos, há muito sentimento em cima”, esclarece Luciano. “Então não dá para simplesmente pegar um carro que é tradição há gerações e trocar por um outro, dizendo que foi restaurado. Isso aconteceu e acabou indo parar na Internet.”

Fabiano relata que até por desconhecer e entender só pelo que assistem na televisão, alguns clientes chegam na oficina com carros que não podem mais ser restaurados devido ao estado precário de conservação.

“A gente conversa com a pessoa e diz olha, não vai dar. Alguns ficam meio sem entender”, ri ao contar. “Mas tem outros que se assustam com o preço e simplesmente somem. Porque não é algo barato e os colecionadores entendem bem isso.”