Só quem passa pela situação de ter que escolher como vai cuidar de um idoso, sabe o quanto isso não é fácil. Segundo o médico geriatra e também professor de Medicina na Universidade Feevale Leandro Minozzo, a transição demográfica, com a mudança na estrutura etária da população, tem demandado mais cuidadores profissionais para as pessoas idosas.
“Com menos filhos e filhos que se aposentam mais tarde, é inevitável que se busque alternativas”, afirma Minozzo.
Para o médico geriatra, outro ponto importante para considerar é o aumento no número de pessoas idosas com necessidade de cuidados complexos, são as consequências de doenças que exigem não só tempo, mas formação e bem-estar psicológico, como os casos de demência, por Alzheimer e sequelas de acidente vascular cerebral (AVC).
Segundo a diretora do Departamento da Pessoa Idosa e das Famílias, setor vinculado à Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Estado, Katiane Bier, os filhos são os responsáveis legais dos pais na terceira idade, conforme o Estatuto da Pessoa Idosa e também a Constituição Federal.
“Independentemente se vão cuidar do idoso nas suas casas ou em Instituições de Longa Permanência para Pessoas Idosas, as casas lares, devem se atentar para um cuidado humanizado, atencioso e que preze sempre por um envelhecimento saudável”, afirma Katiane.
Diante dos casos de Alzheimer, Minozzo disponibiliza um material completo que fala sobre a doença que contém dicas específicas sobre colocar ou não o idoso em um lar para idosos. No material, que está disponível no site, o médico fala sobre as barreiras e dúvidas mais comuns.
“A família deve confiar no médico para orientar nessa transição, ele poderá avaliar as respostas do paciente à mudança de residência e propor ajustes”, escreve Minozzo no material de apoio.
Negligências
Inclusive, Katiane reforça que caso um familiar ou qualquer pessoa constate que uma casa lar ou uma família estejam agindo com negligência com o idoso, pode e deve ser realizada uma denúncia para o Disque 100.
“A população ainda pode procurar a Secretaria de Assistência Social municipal, se houver. O Conselho também pode ser acionado pela população para consultas, demandas ou denúncias”, acrescenta.
Minozzo acrescenta que o cuidado das pessoas idosas é dever da família e também da sociedade como um todo. “O fato de um familiar estar num lar geriátrico não isenta a família de prestar apoio, tanto financeiro, de cuidados de saúde – porque ela é a responsável – e, em especial, o apoio afetivo. Uma pessoa idosa que está institucionalizada precisa ter o contato com a família, mesmo que já esteja em fase demencial avançada”, explica o médico geriatra.
Veja as dicas para uma escolha de cuidados mais leve:
Como escolher o futuro dos cuidados com o idoso?
Leandro Minozzo – É preciso alinhar cérebro e coração. Analisar todas as demandas de cuidado que o familiar idoso fragilizado apresenta, quem tem a capacidade de aprender e de realizá-los e como estão as condições de todos os envolvidos. Um estágio intermediário de nível de cuidados é a contratação de um cuidador profissional. Quando a institucionalização (o idoso ir para um residencial) é bem indicada e supervisionada por médico experiente, não costuma haver problemas e as situações se ajeitam. O pior cenário é o de indiferença, de negligência total ou de adoecimento de um dos familiares sendo responsabilidade sozinho pelo cuidado – esses pontos devem sempre ser considerados.
O que levar em consideração no momento de escolha dos cuidados do idoso?
Minozzo – Sugiro a busca pelo diálogo e a orientação de profissionais, tanto médico quanto enfermeiro com experiência em geriatria. De um lado estarão as necessidades (demandas) de cuidado e do outro a capacidade da família. Quando a balança não estiver equilibrada e sobrecarregando um dos familiares ou gerando negligência no cuidado do idoso, algo deve ser feito. O ideal é tentar deixar um pouco o moralismo de lado, com julgamentos ou com medo do que parentes ou vizinhos irão pensar – atualmente, todos sabem que não é um ato de desamor ou abandono buscar auxílio com cuidadores profissionais ou num lar geriátrico. Desamor é deixar o idoso sem medicamento, caindo toda hora, por exemplo.
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Quais as principais causas da institucionalização?
Minozzo – A incapacidade cognitiva, em especial a demência pela doença de Alzheimer, é a principal causa de institucionalização.
A escolha do idoso deve ser levada em consideração?
Minozzo – A escolha sempre é levada em consideração, mas, em alguns casos, quando a capacidade de tomar decisões fica prejudicada, essa escolha fica também comprometida. O assunto é bastante delicado, complexo e, nos casos nos quais o idoso é contra a institucionalização, sempre outras formas de cuidado devem ser experimentadas.
Em caso de se optar por casas lares, quais as dicas sobre a escolha do local?
Minozzo – As instituições de longa permanência para pessoas idosas (ILPI) – nome técnico dos lares geriátricos – precisam seguir normas da Anvisa para seu funcionamento. Sugiro aos familiares que procurem bastante, busquem referências, verifiquem denúncias na prefeitura, conversem com outros familiares e, depois que o idoso estiver lá, façam muitas visitas e busquem sempre diálogo franco e deixem combinações por escrito.
Como é o cuidado ideal com o idoso?
Minozzo – O cuidado ideal é aquele que promove saúde, no sentido amplo da palavra, e, ao mesmo tempo, protege a pessoa idosa de riscos. O cuidado ideal é proativo, tenta agir antes de problemas acontecerem, ele é vigilante, coordenado, realizado por pessoas com saúde e também com capacitação. Na geriatria, o cuidado ideal é aquele que visa preservar ou recuperar, quando possível, a capacidade funcional da pessoa idosa e o bem-estar dos familiares.