O Rio Grande do Sul deve se preparar para outros eventos extremos de chuva e possíveis novas situações de desastre por chuva ou tempestades severas nos próximos meses. O alerta é da meteorologista Estael Sias, da MetSul Meteorologia. Ela diz que “infelizmente, grandes enchentes estão longe de ser uma surpresa e, pior, vão se repetir”. E a explicação está no fenômeno El Niño, para o qual a meteorologia vem alertando desde o fim do ano passado.
Segundo Estael, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Centro-Leste está perto hoje dos valores observados na primeira semana de setembro dos quatro episódios de Super El Niño das últimas quatro décadas, embora não haja hoje um Super El Niño: 1982 (+1,0ºC), 1997 (+2,1ºC), 2015 (+1,7ºC) e 2023 (+1,6ºC).
“A tendência é que o El Niño siga se intensificando até o fim deste ano, quando deve atingir o seu máximo de intensidade, mas o fenômeno permanecerá atuando e influenciando o clima ainda nos primeiros meses de 2024”, afirma a especialista, dizendo que “extremos de chuva sob El Niño tendem a se dar principalmente nos meses da primavera climática (setembro a novembro) e, às vezes, no outono (março a maio) do ano seguinte ao seu começo, caso da enchente de 1941”.
Em artigo publicado neste fim de semana no jornal Correio do Povo, a meteorologista frisa que “a pergunta não é se teremos novas enchentes ou estragos nas próximas semanas e meses, mas sim quantos serão estes eventos. A história climática do Estado sob El Niño e as projeções por supercomputadores de modelos de clima nos fazem alertar que ainda tem muito mais por vir”.
Na análise de Estael, este El Niño “guarda certa semelhança até agora com o evento de 2009-2010 em que choveu demais em setembro de 2009”. “Olhando dados daquele episódio de El Niño de 14 anos atrás, novembro foi absurdamente chuvoso do centro para o oeste gaúcho e, em janeiro, houve o desastre da queda da ponte sobre o Rio Jacuí, em Agudo”, acrescenta. Nos dez primeiros dias de setembro de 2009 choveu 528 milímetros nos Campos de Cima da Serra, por exemplo.
“A soma de sucessivos episódios de chuva excessiva fará com que este mês, assim como já tínhamos antecipado, acabe assombrosamente chuvoso no Rio Grande do Sul. Tal sequência de episódios de chuva com volumes excessivos agrava gradualmente o risco de grandes enchentes”, escreveu a meteorologista, dizendo que “o tempo que havia para se preparar para o El Niño de 2023-2024 já passou. Agora, governo e sociedade devem trabalhar para mitigar o máximo possível os seus efeitos”.
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