RECORDE

Nunca na história recente choveu tanto na região como em setembro de 2023; entenda o motivo

Cidades dos vales do Sinos, Caí e Paranhana tiveram volumes muito acima do esperado. Em Taquara, acumulado superou média histórica em 335%

Publicado em: 29/09/2023 14:05
Última atualização: 17/10/2023 22:50

Já é fato. Nunca choveu tanto na história recente como agora. Setembro de 2023 bateu todas as marcas de precipitação já registradas no Rio Grande do Sul, o que também foi constatado nos vales do Sinos, Caí e Paranhana. O observatório do Corpo de Bombeiros de Taquara anotou o recorde de 657 milímetros. A média histórica é de 151 mm, ou seja, até o dia 28 deste mês, choveu 335% a mais na cidade.


Ruas alagadas no bairro Mato Grande, em Canoas, na quarta-feira (27) Foto: PAULO PIRES/GES

Em Canoas, no bairro São Luís, o Escritório de Resiliência Climática (Eclima) registrou, no mesmo período, a marca de 531,6 mm – um aumento de 260% em relação à média histórica do município (147,8 mm). Já São Sebastião do Caí teve acumulado de 524 mm de chuva, segundo a Defesa Civil, sendo que a cidade teve sol ou tempo nublado em apenas dez dias do mês. (Veja abaixo outros recordes).

O que explica os altos volumes?

A combinação do fenômeno El Niño com mudanças climáticas provocadas pelo homem, com elevação da temperatura do planeta, culminaram em superenxurradas, granizos gigantes e enchentes fora do comum.

Até aqui, os dois episódios que mais marcaram este mês setembro no território gaúcho foram o desastre natural no Vale do Taquari, totalizando 50 mortos e oito desaparecidos, e a cheia do lago Guaíba em Porto Alegre (veja imagens). A capital ficou debaixo d’água em vários pontos, o que não se via desde a década de 1940.

Pela região, os vales do Caí, Paranhana e Sinos tiveram cheias dos rios, com famílias desabrigadas e que tiveram de ser removidas. Canoas, além de enchente, ainda enfrentou destelhamentos nesta semana, por causa de um episódio de granizo, que atingiu 4 mil pessoas.

Após quatro anos, o El Niño, que aquece as águas do Oceano Pacífico na altura da linha do Equador, voltou a ocorrer a partir de 8 de junho. O Pacífico é o maior dos oceanos, cobrindo aproximadamente um terço da Terra, com extensão superior a todos os continentes juntos. Conforme a meteorologista da MetSul Estael Sias, em 2023 o El Niño tem demonstrado potencial para ser um "super El Niño".

Já era esperado excesso de chuva e muitos temporais no trimestre, de setembro a novembro. Então outubro e novembro ainda nos trarão muitos eventos de chuva fortes, excepcionais.

Neste ano, além do Pacífico, todos os oceanos estão mais quentes, o que tem gerado chuvas extremas em todo o mundo. Um exemplo foi o que aconteceu na Líbia, onde 3,8 mil pessoas morreram por causa de uma forte enxurrada, que deixou mais de 10 mil desaparecidos.

"Essa condição tem por trás o aquecimento global e as mudanças climáticas, com alguma contribuição que desencadeia todos esses fenômenos. É um desencadeando o outro com escalas diferentes de temporais", explica Estael.

Emergência climática


Diferença de temperatura da superfície do mar em agosto de 2023 em relação à média de 1985-1993 Foto: NOAA/Divulgação

Inclusive, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) emitiu um alerta de que a emergência climática pode gerar danos econômicos de 84 trilhões de dólares neste século, mesmo que as promessas de corte de emissões de gases do efeito estufa sejam cumpridas. O El Niño deste ano, segundo um estudo do Dartmouth College, de Nova Hampshire (EUA), poderá custar até US$ 3,4 trilhões para a economia mundial nos próximos cinco anos.

Há pelo menos 90 anos, cientistas ao redor do mundo, como aponta artigo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), vêm apresentando evidências de que flutuações nos ventos e na temperatura das águas superficiais do Pacífico Tropical, em especial perto da costa do Peru e do Equador, estão associadas a mudanças no regime de chuvas e secas em várias partes do mundo. Os eventos El Niño costumam ocorrer com intervalos de dois a sete anos.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) apontou que há mais de 50% de chance de a temperatura média do planeta alcançar 1,5 grau ou ultrapassar essa marca entre 2021 e 2040. As consequências disso são eventos extremos, de seca e de chuva, com consequências na agricultura e nas cidades costeiras, entre outros. 

Acumulados de chuva em outras cidades

  • Novo Hamburgo teve acumulado de 496,8 mm neste mês, segundo a Defesa Civil, diante da média histórica de 179 mm.

  • Já na Estação de Meteorologia de Campo Bom o acumulado de chuva até 28 de setembro era 455,8 mm. "Recorde absoluto em 39 anos. Superou recorde anterior de 450,6 mm, em julho 2015", diz o responsável pela estação, Nilson Wolff. A média histórica de setembro é 171 mm.

  • Em São Leopoldo, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) divulgou que choveu 448 mm no período. A precipitação média dos últimos 30 anos é 179 mm para o mês.


Em São Leopoldo, a Rua da Praia foi uma das primeiras a sofrer com a inundação Foto: Divulgação/Defesa Civil

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