Refém de assaltante na semana passada em Novo Hamburgo, um motorista de aplicativos de 21 anos decidiu: “não trabalho mais depois das 7 horas da noite”. O jovem está com medo. “Em um ano e meio nesse serviço, é a primeira vez que acontece comigo. Está complicado”, relata o jovem, mencionando ataques recentes contra colegas no Vale do Sinos. Ele teve celular e dinheiro roubados. O criminoso só não levou o carro porque se atrapalhou com a ignição.
O motorista foi surpreendido na Rua Alecrim, bairro Hamburgo Velho, às 21h15 do último dia 27. “Eu recém tinha deixado uma passageira e tocou outra corrida ali perto. Quando dobrei, cancelaram. Resolvi parar ali, à espera de outra, manobrei e desliguei o carro. Mal tinha estacionado e o cara me calçou com uma arma. Entrou e disse ‘vai, vai’. Não sei se era pistola ou réplica, mas não paguei para ver.”
“Nem olhei para trás”
O jovem passou por momentos de pânico sob a mira de arma. Ele conta que foi obrigado a tomar o rumo do bairro Canudos e circulou por ruas como Sapiranga e Karl Schmidt, até a ordem de parar, na Alícia Müller. “Quando mandou eu descer, fugi. Nem olhei para trás.” A vítima se escondeu em terreno baldio, pensando que o ladrão iria embora com o HB20. “Não ouvi o som da partida e saí do mato uns minutos depois. O carro continuava ali, com a porta aberta. Ele não conseguiu ligar. Deve ter se embaralhado com o sistema desses carros novos. Mas levou meu celular, que vale R$ 1,5 mil, e minha carteira com mais de 200 reais e documentos.”
O prejuízo podia ter sido ainda pior. “O carro é alugado, mas, se tivesse sido roubado, eu teria que arcar com 15% do valor da tabela Fipe. Depois deu medo de trabalhar.” Conforme ele, o assaltante parecia sob efeito de drogas. “Estava nervoso, violento.”
O jovem fez ocorrência na Central de Polícia de Novo Hamburgo. Espera ter mais segurança, em meio ao medo disseminado na categoria, que está fazendo muitas vítimas não só deixarem de trabalhar à noite, como também abandonarem a atividade. “Conhecia o colega que morreu no assalto do Jardim Mauá. Há poucas semanas, um amigo teve o pescoço cortado por assaltantes durante uma corrida também em Novo Hamburgo e felizmente sobreviveu.”
Assaltos resultaram em duas mortes neste ano
Pelo menos dois motoristas de aplicativos perderam a vida neste ano em decorrência de assaltos no Vale do Sinos.
A última morte foi de Enedir Wüst, 49, no dia 22 de julho. Ele lutava pela vida desde 7 de agosto do ano passado, quando levou um tiro na cabeça na Rua São Jerônimo, bairro Jardim Mauá, em Novo Hamburgo. Foi atingido ao tentar escapar de assaltantes e bateu o Onix que dirigia em um muro.
Na noite de 24 de abril, Nicolas Eduardo Zahn dos Santos, 28, foi encontrado morto a tiros no carro, um Renault Logan, em São Leopoldo. Ele teria sido alvejado ao reagir a assalto e bateu o veículo na Rua Georg Hoefel, bairro Arroio da Manteiga.
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