OPERAÇÃO TRAPAÇA
Lucro de criminosos pode chegar a R$ 1 bilhão com golpe de falso grupo de investimento; confira como esquema funcionava
Polícia cumpriu mandados no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e São Paulo.
Última atualização: 22/08/2023 08:17
"O esquema é gigante". Esse é o resumo do delegado Heleno dos Santos, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de São Luiz Gonzaga, sobre um grupo de criminosos que aplicava golpes com falso sistema de investimento que começava a partir do upload de um aplicativo no smartphone.
Na última quarta-feira (12), a Polícia deflagrou a Operação Trapaça, que mirou em cidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Naquele dia, nove pessoas foram presas temporariamente até domingo (17). Nesta quarta (19), o delegado informou que conseguiu a prorrogação de mais cinco dias e agora tem até esta sexta (21) para conseguir a preventiva. Dois alvos da ação da semana passada não foram encontrados e seguem foragidos.
A estimativa do delegado é que o golpe tenha feito mais de 20 mil vítimas por todo o País. Durante a investigação, os policiais apuraram que os criminosos lucraram e armazenaram mais de R$ 700 mil em contas e investimentos no exterior, valor que "pode chegar a R$ 1 bilhão".
O que foi feito na Operação Trapaça
Ao todo, 150 policiais civis executam 11 mandados de prisão temporária, 21 mandados de busca e apreensão residencial, 19 mandados de busca e apreensão de veículos, bloqueio em contas bancárias de 11 pessoas físicas e 3 pessoas jurídicas, além do bloqueio de imóveis de 11 pessoas físicas e 3 pessoas jurídicas.
Em Santa Catarina, local onde a maior parte do grupo criminoso reside, a Draco cumpriu mandados nas cidades de Tijucas, Porto Belo, Balneário Camboriú, São Lourenço do Oeste e Itapema.
No Rio Grande do Sul os mandados concentram-se na cidade de Santo Antônio das Missões, onde os golpistas centralizaram as suas atividades por alguns meses, lesando centenas de pessoas.
Em São Paulo, a Polícia cumpriu mandados em três endereços na cidade de São Paulo, onde um dos integrantes do grupo reside.
Como funcionava o esquema
Segundo Santos e o delegado Gerson de Assis, titular da Delegacia de Polícia de Santo Antônio das Missões, vítimas procuraram a Polícia Civil reclamando de uma empresa que prometia altos ganhos em investimentos no mercado de ações.
As vítimas foram atraídas a integrarem grupos virtuais de “investimentos financeiros” muito lucrativos, geridos a partir de uma plataforma digital de investimentos on-line, denominada Genesis.vet (Genesis Finance Limited). O nome é parcialmente “copiado” de uma empresa do ramo financeiro denominada Gênesis Investimentos, que, conforme a Polícia, não tem relação nenhuma com a investigação.
O golpe começava a partir do momento em que a vítima era convidada a fazer o upload do aplicativo Genesis.vet em seu smartphone, cadastrando em seguida os dados pessoais e anexando diversos documentos. Na sequência, a pessoa recebia um link para aderir a grupos de WhatsApp, onde recebia orientações de como investir, e recebendo uma “pressão” para realizar o investimento rapidamente.
De acordo com os delegados, os golpistas mesclavam o uso de aplicativos legítimos com o uso de aplicativos falsos. Havia o uso regular de aplicativos para a conversão de moeda estrangeira, por exemplo, culminando com a transferência de quantias variadas em dinheiro para os criminosos, via Pix, TED ou boletos, todos gerados a partir de uma plataforma também regular, tudo de modo a parecer que as transações eram feitas sempre a partir de sites e aplicativos seguros.
O golpe era consumado quando as vítimas usavam os códigos Pix e boletos acreditando que estavam realmente fazendo investimentos, quando, na verdade, estavam transferindo os valores diretamente para as contas dos criminosos ou das empresas por eles criadas. Há indicativos de que grande parte do dinheiro era depositado em contas localizadas no exterior.
Tão logo foi informada dos crimes, a Polícia Civil iniciou as apurações e identificou 11 dos principais integrantes do grupo criminoso. Além da identificação, a investigação também se concentrou na identificação do patrimônio obtido pelos golpistas com o dinheiro desviado das vítimas e o bloqueio das contas bancárias e imóveis adquiridos pelos criminosos.
Táticas persuasivas
Ainda segundo a Polícia, os golpistas usavam linguagem técnica normalmente usada por corretores de investimentos. Eles apareciam em vídeo e em imagens divulgadas por WhatsApp como sendo pessoas bem-sucedidas e que enalteciam os retornos financeiros da plataforma.
Algumas vezes, exibiam carros, veículos e bens supostamente adquiridos pelos altos ganhos no investimento – no entanto, o dinheiro usado para a compra dos bens era das próprias vítimas.
Nos grupos, os golpistas aplicavam táticas persuasivas, com promessas de lucros garantidos, oportunidades exclusivas e supostas informações privilegiadas de oportunidades altamente rentáveis. As oportunidades para investimentos geralmente “apareciam do nada” e o prazo para fazer as transferências sempre era curto.
Empresas de fachada e pessoa fictícia
Os criminosos criaram pelo menos três empresas de fachada para o desvio do dinheiro obtido das vítimas. Os golpistas ainda usavam sites falsos, geralmente em provedores do exterior, que parecem legítimos, para onde as vítimas eram atraídas.
Os golpistas também criaram uma pessoa fictícia chamada Kelly, a quem se referiam no grupo de WhatsApp como sendo a chefe da empresa “Genesis.vet”. Em mensagens e áudios postados nos grupos, os criminosos se referiam à Kelly para agradecer pelos altos retornos obtidos e bens adquiridos.