CULTURA

Exposição coletiva "Terragrita" traz obras feitas com materiais sustentáveis

Mostra composta por telas e esculturas está disponível para visitação até 25 de novembro, na Casa das Artes Villa Mimosa

Publicado em: 19/10/2023 10:38
Última atualização: 19/10/2023 10:38

Composta por telas e esculturas produzidas com materiais reaproveitados, a exposição coletiva "Terragrita" está disponível para visitação até 25 de novembro, na Casa das Artes Villa Mimosa, em Canoas.

Paulo Corrêa cria obras a partir de material reciclável recolhido das ruas Foto: PAULO PIRES/GES

A mostra traz obras criadas em três edições da oficina "Terragrita liberdade criativa" ministrada pelo artista visual Paulo Corrêa. As instalações artísticas foram desenvolvidas pelo artista, alunos da Associação dos Deficientes Visuais de Canoas (Adevic), pacientes da Associação Canoense de Deficientes Físicos (Acadef) e pela comunidade.

"A temática da desigualdade social e racial é um dos pilares do nosso projeto. A ideia da exposição é dar visibilidade para o trabalho feito por essas pessoas com ou sem deficiência [física e/ou intelectual]", explica Corrêa.

Os materiais sustentáveis e recicláveis são a base das obras, com destaque para o papelão, pigmentos naturais, terra, café, urucum, carvão e tampinhas plásticas. "A maioria dos materiais utilizados é oriunda do lixo seco. A criatividade é a grande estrela do trabalho que faço e ensino para as pessoas", avalia.

A inspiração para a produção das obras parte do cotidiano e de acontecimentos presenciados pelo artista. "Por exemplo, a tela que fiz da imagem de um menino em situação de rua, infelizmente, toda cidade tem isso. Desenhei sobre o papelão a figura de criança debilitada e com fome, ela está pensativa, preocupada porque não possui casa e nem alimento. O intuito é por meio da arte trazer discussões de cunho social, inclusivo e racial", destaca.

Cada peça carrega memórias, experiências e sentimentos da pessoa que produziu, enfatiza o artista. A exposição, com entrada gratuita, possui obras que contam histórias dos criadores.

Até novembro

A exposição fica aberta ao público, de terça a sexta-feira, das 9 horas ao meio-dia e das 14 às 18 horas. Sábado e domingo, das 14 às 18 horas. O Projeto Terragrita, realizado em Canoas, tem o financiamento do Programa de Incentivo à Cultura - PIC 2022, da Prefeitura, e produção da Stephanou Cultural.

Em paralelo à mostra, imagens e vídeos ficam rodando em uma tela. As filmagens e fotos mostram o processo de criação das obras nas oficinas. Cerca de 40 pessoas participaram das três oficinas, ministradas no mês de julho. "A arte tem o poder de valorizar a liberdade criativa e a pluralidade das expressões culturais", destaca a curadora da exposição, Sabrina Stephanou.

Mãos que ressignificam materiais descartados

Esculturas feitas de papel pardo são alguns dos destaques da exposição. As peças foram produzidas por alunos cegos e com baixa visão da Adevic. "O sentido do tato foi essencial para a execução da técnica proposta. A partir de um material simples, eles criaram peças criativas. Seja uma boneca, óculos, uma cobra ou a cabeça de um boi", revela a coordenadora das oficinas, Michelle Stephanou.

Ao longo da exposição, os criadores serão convidados para acompanharem as obras expostas. "Queremos que eles conheçam o que produziram. A inclusão possui um papel social muito importante. A arte faz a ponte entre a vontade e a evolução. Temos obras de pessoas que pela primeira vez tiveram contato com a produção de quadros e esculturas e também que já tinha uma noção e aprendeu novas técnicas. Quanto mais plural, melhor", diz Michelle.

Caixotes de frutas foram transformados em quadrinhos por pessoas da comunidade e pacientes da Acadef, responsáveis por ressignificar a funcionalidade dos objetos nas oficinas.

Acidente e inspiração para continuar

Desde 2016, Paulo Corrêa produz as instalações artísticas com materiais recicláveis. O artista de 58 anos, natural de Pelotas e morador há 13 anos no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, relembra momentos desafiadores na vida e carreira profissional. "Em 2001, perdi o braço esquerdo após um acidente de moto. Eu estava na direção quando uma carroça, conduzida por um menino de 10 anos, cruzou a minha frente. A carroça estava cheia de materiais recolhidos no lixo e em obras. Uma folha de zinco cortou o meu braço. Infelizmente, não houve condições de replantar."

Corrêa ficou internado em estado grave durante um mês em decorrência da lesão que causou hemorragia. "O acidente me deu mais força. Desistir nunca foi uma opção. Poder inspirar outras pessoas por meio da arte e da força de vontade é gratificante", conclui.

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