GUERRA DO TRÁFICO

Execução de paciente em hospital de Novo Hamburgo vai ficar impune

Dos oito acusados pela Polícia e Ministério Público, só um foi a júri e acabou sendo absolvido por falta de provas

Publicado em: 07/10/2023 08:00
Última atualização: 17/10/2023 23:40

Pelo menos três homens invadiram o Hospital Municipal de Novo Hamburgo, guarnecidos por comparsas na rua, para executar um rival internado em um quarto privativo. Mataram o paciente com 15 tiros. Passados mais de seis anos, foi decidido que ninguém será condenado pela barbárie. Dos oito acusados pela Polícia e Ministério Público, o único réu que sobrou foi absolvido em júri na quinta-feira (5). A conclusão é que a investigação não conseguiu identificar os verdadeiros assassinos.


24 de fevereiro: dois mortos e três baleados no bairro Vicentina Foto: Polícia Civil

O corpo de jurados, formado por seis mulheres e um homem, considerou Renato Magaiver de Oliveira Alves, 25 anos, inocente. A sessão, que começou às 9 horas, terminou por volta das 19 horas. A juíza Anna Alice da Rosa Schuch leu a sentença e expediu alvará de soltura para Alves, que estava preso preventivamente como um dos dois atiradores.

“Justiça foi feita”, declara a advogada do réu, Patrícia Savela, que assumiu a defesa há dois meses para atuar no plenário. “Trabalhamos com os elementos que tínhamos nos autos. Os responsáveis pelo incidente estão soltos. Seria injusto condenar um inocente.” O cliente nega envolvimento. Alega que estava em Porto Alegre no dia do crime. A acusação no plenário foi feita pelo promotor Robson Jonas Barreiro, que pediu condenação. Ele deve recorrer.

Ignorados

Alves é o último dos absolvidos. O Judiciário, em todas as instâncias, considerou que não havia provas sequer para levar a júri os outros sete réus, inocentados durante a instrução do processo. Entre eles, há um líder de facção preso por outros crimes. O episódio mais violento e surreal do hospital público de referência regional, fundado em 1º de novembro de 1947, deve ser arquivado com o carimbo de autores “ignorados”.

Audacioso ataque durante matança no Vale do Sinos

O audacioso ataque no hospital, em que dois pistoleiros chegaram ao quarto e abriram fogo contra um acamado, enquanto um comparsa dava cobertura na recepção, na manhã de 2 de março de 2017, foi a sequência de uma matança nas ruas. O alvo, Wellington Jean Brito Bandeira, 19 anos, estava internado há três dias. Tinha sido baleado em intenso tiroteio entre dois grupos rivais, pouco antes de um parceiro ser morto pela Brigada Militar, no bairro Guarani, em Novo Hamburgo.


Wellington Bandeira Foto: Reprodução

Mesmo no meio de uma guerra, Wellington transparecia serenidade e bom humor. Chegou a postar, nas redes sociais, uma foto no leito com as cicatrizes da cirurgia. Parecia não temer que os inimigos estavam determinados a eliminá-lo. Tão decididos que não se importaram com a recepção cheia, as câmeras de vigilância e os corredores a serem percorridos para chegar ao quarto, no segundo andar. Os invasores foram direto ao baleado, segundo a investigação policial, através de informação vazada na noite anterior por uma funcionária do hospital.

Apesar de receberem a localização detalhada, ao entrar no quarto os matadores tiveram o cuidado de perguntar a Wellington se era mesmo ele. E romperam o típico silêncio da casa de saúde com 28 tiros, dos quais 15 atingiram o paciente, que morreu no leito. A mulher dele se salvou ao saltar a janela e quebrou o pé direito. Os atiradores e o olheiro fugiram ameaçando funcionários e familiares de pacientes que apareciam pela frente.
Leito de morte: depois de postar foto baleado nas redes sociais, o paciente Wellington Bandeira foi executado com 15 tiros

Inquérito demorou mais de dois anos

Em junho de 2019, a Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo indiciou oito. O Ministério Público fez a denúncia deles, numa tese de confusa fusão e guerra entre grupos rivais do tráfico. “Restou evidenciado que o grupo ao qual pertencem os denunciados se trata de uma organização criminosa que já realizou diversos homicídios, não possuindo nenhum pudor em cometê-los. Pelo contrário, tomam o poder do Estado para si e adotam tal prática, de execução, como resposta naquilo que os contraria ou os desagrada”, argumentou a Promotoria na peça de denúncia.

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