SÃO LEOPOLDO
Drogadição nos arredores e pedintes: rodoviária leopoldense vive clima de insegurança
Problemas afastam a comunidade do local e geram prejuízos aos comerciantes da estrutura
Última atualização: 18/10/2023 21:12
"Moço, você tem 50 centavos?". Quem pega ônibus na rodoviária de São Leopoldo conhece bem essa frase. Presença frequente no terminal, pessoas em situação de rua e usuários de drogas perambulam pelo local pedindo esmola e fumando diante de todos. Para os comerciantes que trabalham lá, não é incomum se deparar com brigas de faca e agressões. Temerosas, algumas pessoas evitam a região, fazendo com que as lojas e restaurantes percam clientes e, consequentemente, fechem as portas. Preocupado com a situação, o gerente da rodoviária, Julio Lara, procurou a reportagem do Jornal VS para expor o problema.
Criminalidade
Julio comenta que, desde a virada do ano, o número de pessoas em situação de rua e de drogadição disparou, e que esta população se concentra na rodoviária. Conforme ele, muitos passageiros evitam o local, especialmente à noite, quando o risco se agrava. "Nós temos um sanitário público que é fechado às 19 horas porque não tem como garantir a segurança de quem vai usá-lo nesse horário", relata o gestor. "Não se sabe se a pessoa vai sair viva de dentro do banheiro", acrescenta.
O vendedor Antonio Carlos de Souza, de 72 anos, conta que há quatro meses um passageiro foi internado no Hospital Centenário após uma abordagem violenta. "Ele se negou a dar dinheiro para o mendigo e foi agredido na cabeça", relata. Souza conta que o passageiro chegou a ficar em coma na época.
Prejuízos financeiros
A lanchonete de Antônio é apenas um de diversos comércios que sentem os prejuízos da evasão de passageiros para outros pontos de ônibus. Segundo ele, a perda é de 30% a 40% por mês. "É mais de um salário mínimo que perco mensalmente."
Uma vendedora pediu para não ser identificada e relatou ter sofrido represálias ao colaborar com outra reportagem sobre o assunto. "Minha foto apareceu no jornal e vieram tirar satisfação comigo", contou. Ela conta que a violência tem afastado seus clientes, mas que o uso de outros meios como trens e aplicativos de transporte também interferem em seus negócios.
Medo constante
A aposentada do comércio Elisabete Consul, 63 anos, moradora do bairro Pinheiros, prefere não utilizar a rodoviária depois das 17h e lembra que, certa vez, quase foi assaltada. "Eram vários homens, mais de cinco. Eles foram chegando perto e, graças a Deus, o Uber veio a tempo. Entrei e escapei."
A educadora infantil aposentada Cleuza de Oliveira, de 76 anos e moradora da Feitoria, também não usa o local à noite. "É deserto, não tem iluminação e às vezes as lancherias já estão fechadas. Fico até com medo se estiver sozinha", diz. "Me sinto coagida porque eles pedem e ficam parados insistindo", finaliza Cleuza.
O que dizem as autoridades e a gestão
De acordo com a Guarda Civil Municipal, o órgão irá intensificar as rondas preventivas no local. A Guarda afirmou ainda que faz rondas móveis diárias nos três turnos e que há viatura fixa na região em horários de maior fluxo. Além disso, ao lado da rodoviária, está sendo construído o prédio que vai abrigar a sede da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Comunitária.
A Brigada Militar alega que faz ações rotineiras no local. "Fazemos toda semana abordagem e identificação de pessoas, operações de barreiras, policiamento ostensivo preventivo e troca de informações com outros órgãos", garantiu o tenente-coronel Alexsandro Goi.
O titular da Secretaria de Mobilidade e Serviços Urbanos, Sandro Lima, lembrou sobre as obras já feitas pelo município. "Por meio do Programa Cidade Iluminada, a Prefeitura já implantou mais de 7.500 leds no município." Ainda acrescentou que a rodoviária será contemplada pelas melhorias em breve.
O secretário de Assistência Social, Fábio Bernardo da Silva, reafirmou o papel da pasta no atendimento à população de rua. "A equipe do Serviço Especializado de Assistência Social (SEAS) busca vincular aos serviços da rede socioassistencial, porém, em recebendo a negativa de um usuário, ainda assim oferta o atendimento", informa. Segundo ele, a assistência social não pode utilizar de "força, coerção ou obrigação" para retirar usuários de um local, seja público ou privado.