SETEMBRO VERDE
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS: Um paciente pode salvar até sete vidas
Recente transplante de coração realizado no apresentador Fausto Silva reacendeu o debate em relação ao assunto. "Temos que pensar de maneira positiva, usar o holofote à favor da causa", diz cirurgião
Última atualização: 18/10/2023 18:53
O recente transplante de coração realizado no apresentador Fausto Silva, o Faustão, reacendeu o debate acerca da doação de órgãos no Brasil. “O tema deveria ser abordado pelas famílias. Isso é muito importante. Um paciente pode salvar até sete pessoas”, diz a enfermeira Patrícia Gabbi, que trabalha no Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC).
Com relação ao transplante do apresentador, o cirurgião Edson Depieri, que atua como rotineiro na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da traumatologia no HPSC, afirma que a medicina deve usar o caso ao seu favor. “Temos que pensar de maneira positiva, usar o holofote à favor da causa, que salva muitas vidas.” Depieri reitera que o objetivo é sempre difundir a importância da doação. “O Brasil é um dos principais países do mundo quando o tópico é transplante de órgãos.”
O cirurgião explica que a doação de órgãos não é um processo simples. “O responsável por decidir será sempre o familiar. Por isso sempre conversamos muito.” Antes de captar o órgão, alguns procedimentos precisam ser seguidos. “Primeiro identificamos o paciente que não tenha mais atividade cerebral. Por trabalharmos com traumas, a morte encefálica é comum. São feitos diversos exames, dois clínicos, um de imagem e outro complementar, que confirme o diagnóstico.”
Sequência
Na sequência, a família do paciente é comunicada sobre a possibilidade da doação. “Uma equipe de psicólogos começa a trabalhar com os familiares antes mesmo de confirmar a morte encefálica, principalmente em casos mais graves.” Em determinadas situações a equipe médica é procurada antes mesmo da explicação. “Nestes casos os parentes já sabem que a pessoa é uma doadora, por isso a importância em tratar o assunto em vida.”
A terceira etapa ocorre quando a captação é autorizada. “Equipes das Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) entram em ação. Realizamos a triagem para identificar qual órgão será utilizado para o transplante, a operação é feita e o corpo entregue à família. Em 90% dos casos a doação é autorizada.”
Em caso de negativa, o procedimento padrão é adotado pelos médicos do hospital. “O corpo é preparado e entregue à família”, completa Depieri.
Notificação e tempo para a doação em até 18 horas
Quando autorizado, as equipes das OPOs são notificadas e se encaminham até o hospital de origem para fazer a captação. “O tempo entre a captação e o transplante depende de muitos fatores. Normalmente, enquanto o órgão é captado, o paciente que será transplantado é preparado. O órgão não pode ficar parado por mais de 12 ou 18 horas.”
Depieri explica que os órgãos captados no Rio Grande do Sul, normalmente permanecem no Estado. “Temos a fila nacional e estadual. Quem recebe não fica a nosso critério. Depende da compatibilidade, tipo sanguíneo, entre outros fatores.”
Redução de 23,5% na captação em um ano
Entre os meses de janeiro e agosto, o HPSC registrou a captação de órgãos em 13 pacientes. O número é 23,5% inferior em relação ao mesmo período de 2022. “A doação é bem sazonal, não temos como prever. Muitas vezes as famílias levam um susto, a linha do tempo entre o acidente, diagnóstico e decisão, é muito estreito”, afirma o cirurgião, citando a especialidade do hospital em trabalhar com traumas.
Entre os órgãos doados, foram nove fígados, 13 rins, dois pulmões, seis córneas e três doações de pele. “O fígado e os rins são os mais captados, já que os critérios são menos restritos. Córnea e pele podem ser captados mesmo em casos em que a morte não é cerebral.”
Maiores necessidades e dificuldades
Entre os órgãos mais necessários por conta das filas de transplantes, dois estão no topo: rim e fígado. “Muitas pessoas sofrem com problemas renais ou hepáticos. Também há a necessidade de hemodiálise por longos períodos, o que se recomenda um transplante.”
Já aqueles mais difíceis de doar, ou até transplantar, igualmente são dois. “O pulmão e o coração. É necessário que se observe um histórico prévio e também atual. Alguns pacientes não podem mais ser transplantados devido a gravidade da doença. Outros precisam com urgência, isso interfere também na fila, como foi no caso do Faustão.” Depieri inclusive diz que confia muito no sistema. "A minha confiança é plena."
Incentivo também no Hospital Universitário
Depieri e Patrícia finalizaram reiterando a importância da doação e principalmente, a notificação aos familiares sobre a vontade de ser um doador. “Temos muitas pessoas aguardando na fila. Doar órgãos é um ato de empatia com o próximo. O assunto é delicado, porém é necessário”, diz a enfermeira.
Além do HPSC, todo hospital de alta complexidade pode acionar uma das OPOs para que seja realizada a captação de órgãos. Em Canoas, o Hospital Universitário (HU) abriu cinco protocolos de morte encefálica. Destes, três pessoas tiveram a doação de órgãos autorizada pelos familiares. Os transplantes são realizados na Santa Casa, Hospital de Clínicas e Hospital da Puc.