Descrevendo-o como um menino alegre, inteligente e que fazia amizades facilmente, a família de Victor Mateus da Silva Christ, de 10 anos, tenta lidar com a saudade. Ele morava no bairro Roncador, na cidade de Feliz, no Vale do Caí, com o irmão de nove anos e o pai, Pedro Christ, 31. O operador de máquinas de uma empresa de terraplanagem tinha a guarda e cuidava dos dois filhos há sete anos.
“Disse que amava eu, o irmão e o avô”, lembra o pai sobre as últimas palavras do filho enquanto estava internado no Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre, onde morreu no último sábado (30). Pedro recorda que o filho não conseguia falar muito por conta da entubação, mas que antes do quadro de saúde se agravar, conseguiu expressar o seu sentimento. Victor ficou internado na casa de saúde por quase um mês. “Foi bem difícil, o estado era bem grave”, afirma.
O menino sofreu as queimaduras na tarde de 31 de agosto, quando estava na casa de vizinhos que cuidavam dele no turno inverso do período na escola. “A vida toda ele ficava lá, pois conheço eles [os vizinhos] a vida toda, então enquanto eu trabalhava deixava o Victor com eles”, explica o pai. Após a aula pela manhã, Victor era deixado pelo transporte escolar na residência do casal de idosos. O outro filho estuda em turno integral e, segundo Pedro, os vizinhos só o recebiam do ônibus da escola no fim da tarde. As crianças ficavam no local até que o pai chegasse do trabalho e as levasse para casa.
O pai conta que o casal sempre ajudou a família e que durante o período de internação do Victor se preocupavam com o estado de saúde da criança. “Me perguntavam como ele estava e torciam pela melhora. A gente não queria perder ele”, conta.
Morte e investigação
Conforme Pedro, na casa de saúde da capital o seu primogênito passou por duas cirurgias. Porém, após o segundo procedimento realizado na segunda semana de internação, o menino teria contraído uma infecção hospitalar, que agravou seu quadro de saúde e impossibilitou a realização da terceira cirurgia que estava prevista. “Ele ficou muito debilitado, muito fraco e os médicos disseram que se fizessem mais uma cirurgia ele poderia não resistir”, detalha.
Apesar da recomendação médica, o menino não resistiu aos ferimentos. “Estou segurando as pontas porque tenho outro filho para criar”, desabafa o pai. Ele conta que o caçula ainda não sentiu a falta do irmão por ser pequeno e não entender a morte. “Estou sendo forte para cuidar dele, não posso cair na depressão, preciso ser forte e seguir”, completa.
Pedro disse que decidiu retornar ao trabalho para “ocupar a cabeça e não pensar muito sobre isso, para se manter forte”. O outro filho voltou para a escola. “A gente passava bastante tempo juntos, nós três. Assistíamos TV, trabalhávamos na roça, andávamos a cavalo e as vezes levava eles para comer fora. Uma rotina normal”, detalha o pai. “Agora precisamos seguir”, finaliza.
O caso é apurado pela Polícia Civil. Conforme o delegado Marcos Eduardo Pepe, a morte de Victor é investigada como homicídio culposo – quando não há intenção de matar. O idoso de 61 anos, que estaria queimando caixas de abelhas, poderá responder pelo crime. Segundo as investigações, em um momento de distração do homem, o menino teria virado álcool e o fogo atingido as suas vestes. Ele foi socorrido pelo casal de cuidadores e levado ao hospital da cidade antes de ser transferido para a capital.
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