Capturado na manhã de sexta-feira (8), um ex-interno do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) causou espanto pela frieza com que confessou o latrocínio (roubo com morte) do mês passado em Novo Hamburgo. Relatou que saiu com um comparsa a fim de assaltar alguém, pois precisavam de dinheiro para comprar cocaína. A vítima da vez foi o aposentado Roque Winter, 66 anos, que estava no carro à espera de uma neta de 4 anos. O idoso reagiu e foi fatalmente baleado.
“Parecia que estava contando uma história em quadrinhos”, declara o chefe de Investigação da 3ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo, inspetor Ivan Carlos da Silva.
Morador da Vila dos Tocos, no bairro Santos Dumont, em São Leopoldo, onde foi preso na casa da companheira, PFM, 20 anos, narrou que o amigo hamburguense JL, de mesma idade, o convidou para “fazer uma mão” no último dia 19. Os dois haviam se conhecido no Case de Novo Hamburgo em 2020, quando cumpriam medidas socioeducativas por roubo e tráfico.
Moto e arma
Conseguiram uma moto e um revólver e foram à caça. Por volta das 12h30, avistaram um homem estacionado na frente do Residencial Jardim Alegre, na Rua Alfredo Marotzki, no bairro Canudos. Era Winter. A dupla queria roubar a carteira, o celular e o carro para trocar por “pó”.
PFM saltou da carona da moto e abordou o aposentado, assim que ele desceu do carro. Tentou pegar o telefone da vítima, que teria segurado o revólver na tentativa de desarmar o assaltante. “O indiciado nos disse que não ia atirar, mas que foi incentivado pelo piloto da moto”, frisa o inspetor. “Dá-lhe”, repetiu três vezes o comparsa.
PFM contou que disparou quatro vezes. Dois tiros acertaram o aposentado, que morreu no local. “O indiciado disse ainda que fugiu sem saber que tinha alvejado a vítima. Falou que ficou sabendo da morte pelo noticiário.” Acompanhado de advogado, o assaltante manteve-se calmo no interrogatório, sem demonstrar abalo ou arrependimento.
Segundo delegado, caso está esclarecido
O delegado da 3ª DP, Alexandre Quintão, concluiu o inquérito há duas semanas e o enviou ao fórum com os dois assaltantes indiciados. O condutor da moto havia sido capturado no dia 25 de agosto, seis dias após o latrocínio, em uma casa no bairro Canudos. Ele ficou em silêncio.
Inicialmente, a suspeita era que o primeiro preso fosse o atirador, mas, com o andamento da investigação e a confissão do comparsa na sexta, ficou esclarecido o papel de cada um no latrocínio. Os nomes não são informados por conta da Lei de Abuso de Autoridade.
Quintão salienta que, além da confissão, há provas materiais. O delegado detalha que, quando o leopoldense foi convidado para o assalto, chamou um motorista de aplicativo para ir ao encontro do amigo em Novo Hamburgo. O histórico do celular da mãe dele, usado para acionar o serviço, comprova o trajeto até Canudos.
A moto usada no crime, porém, não foi encontrada. O revólver, conforme o atirador, foi jogado no Rio dos Sinos. A dupla também se desfez dos capacetes. “Os dois já não moravam mais com os familiares por causa da drogadição. Não trabalhavam nem estudavam. A família de ambos já não aguentava mais a presença dos dois [em função do crime]”, comenta Quintão.
Dupla já é ré em ação penal
Com base no inquérito da 3ª DP, o Ministério Público fez a denúncia dos dois indiciados na terça-feira passada, que foi aceita pelo Judiciário no dia seguinte. PFM e JL viraram réus em processo de latrocínio e podem pegar pena de 20 a 30 anos de reclusão.
Mais uma família arrasada pela violência
Em meio à violência desenfreada no Vale do Sinos, o crime comoveu a região. O filho da vítima, Márcio Winter, diz que o pai buscava a neta de 4 anos toda terça-feira e sábado para levar ao coral. “Ele adorava fazer isso.” O idoso tinha outro neto, de 11, e era casado. “Vamos ter que superar a perda com fé em Deus. O pai era muito religioso e está em um bom lugar agora”, comenta Márcio.
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