A americana Demi Lovato recebeu a brasileira Luísa Sonza no palco do The Town na noite de sábado (2), estreia do festival paulista, no Autódromo de Interlagos. Demi faz o penúltimo show do palco principal, Skyline, antes do encerramento com Post Malone.
Demi apresentou “minha nova amiga” que entrou com um desajeitado “faz barulho, The Town”. O dueto entre elas era bola cantada, já que, no início da semana Demi apareceu no terceiro álbum da brasileira, Escândalo Íntimo, cantando (em português) em um dueto na faixa Penhasco 2.
Na balada com execução curta e super emotiva, Luísa cantou abraçada ao microfone, e Demi entrou com um português de dicção ainda iniciante, mas incrivelmente mais claro e compreensível do que o da brasileira.
A chuva parou antes do show e começou de novo só no fim, aumentando a impressão de que Demi é brasileira.
Há alguns anos seria difícil imaginar que a seguinte frase seria escrita: Demi Lovato balançou a cabeça centenas de vezes e fez o show de rock mais pesado entre as atrações principais do primeiro dia do maior festival de São Paulo. Mas foi.
Demi, ex-estrela da Disney, começou a carreira musical fazendo um pop-punk adolescente divertido, mas depois se aventurou mais para o pop e para temas mais adultos – especialmente depois de 2018, quando ela foi internada após uma overdose.
Porém, a cantora norte-americana de 31 anos está no final da turnê do álbum Holy Fvck (2022), em que ela dá uma forte guinada de volta ao rock – por coincidência ou não, as guitarras voltaram a ficar em alta com o público adolescente logo antes disso.
A banda só de mulheres está ainda mais afiada do que no início da turnê, que passou pelo Rock in Rio do ano passado. Esse projeto de reguitarrização de Demi Lovato deu tão certo que ela está prestes a lançar o álbum Revamped, no dia 15 de setembro. É um projeto de remix ao contrário, com arranjos de banda para seus sucessos de pop mais eletrônico.
Toda de preto, verde, azul e amarelo, Demi passeia por hard rock (Holy Fvck), post-grunge (Freak), power ballads (29, com ótimo vocal, forte e emotivo, mesmo que imperfeito) e, especialmente, pop punk (Substance).
Para quem é de uma geração anterior, uma referência: Demi passeia pelo mesmo território do segundo disco da Avril Lavigne, Under My Skin (2004), com a canadense menos felizinha. E para quem não acompanha o pop-rock internacional, uma referência daqui: Demi Lovato no palco lembra uma espécie de Pitty do Novo México. Tudo no bom sentido.
O saldo é positivo, mas é preciso apontar o maior porém: as versões de rock para os sucessos do meio da carreira são irregulares. Às vezes parece só um karaokê com guitarra, com arranjos ainda mal acabados. Em Sorry not Sorry a banda não encaixa a guitarra abafada no lugar do beat eletrônico e cai num pastiche de soft metal. Mira em Green Day e acerta em Evanescence.
Colocar o show inteiro com arranjos parecidos também revela certa limitação nas melodias: os coros de “ôôô” de 29 e Heart Attack, por exemplo parecem reciclados. Tudo bem. Num festival como o The Town, uma dose extra de pastiche e outra de repetição são até vantagens. Demi deu grandes voltas na carreira e parece que foi para em casa, à vontade
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