MULTICULTURAL
Expressão indígena e língua guarani deram origem ao nome de Ivoti; saiba mais sobre a história da cidade
Cidade das Flores completa 59 anos de emancipação nesta quinta-feira (19) e recebeu denominação na década de 1930
Última atualização: 19/10/2023 10:42
Conhecida pelas casas enxaimel e pela cultura predominantemente de origem germânica, há traços na trajetória de Ivoti, cidade que comemora 59 anos de emancipação nesta quinta-feira (19), que indicam que a região já era habitada por indígenas caingangues antes da chegada dos imigrantes.
Isso explica a origem do nome, que surgiu em 1938, e é oriundo da língua tupi-guarani, através da expressão “ipoti-catu”, que significa floresce bem, e resulta na palavra Yvoty, que significa flor, identificando a cidade com uma de suas tradições: o plantio de flores em frente às casas, formando jardins multicoloridos.
Através da Sociedade Ivotiense de Estudos Humanísticos, que existe desde 2011, a presidente, Andréa Cristina Baum Schneck, e outros membros passaram a estudar essa ancestralidade da cidade, que resultou no livro “Um olhar colorido sobre Ivoti”, e que aborda a origem do município, do nome, e da conexão com as flores.
“Temos indícios de indígenas vindos da Amazônia, inclusive. Temos em Ivoti uma mistura de povos que passaram por aqui, desde os imigrantes, alemães, os indígenas, até os japoneses”, explica Andréa, que nasceu em Ivoti há 58 anos atrás.
Também há sítios arqueológicos nas proximidades que indicam a presença de ocupações indígenas vindas do Uruguai, há cerca de 11 mil anos atrás, à procura de abrigo, caça e pesca, pois a região era fértil de animais, frutas e flores silvestres.
Através do Instituto Anchietano de Pesquisa da Unisinos, uma coleta de objetos no sítio chamado de RS-C-43: Capivara, que hoje é localizado em Lindolfo Collor, encontrou itens arqueológicos, entre eles, cacos de cerâmica, pontas de flecha, pedras e ferramentas utilizadas pelos indígenas que habitaram a localidade.
Resgate da cultura indígena
Hoje em dia, não há registro de comunidades indígenas instaladas em Ivoti, mas conforme defende Andréa, os ensinamentos e o que está marcado na história da cidade devem ser repassados para a população. “Podemos ver a influência desses povos na alimentação, nos conhecimentos milenares indígenas através do uso de chás, de plantas, e devemos trazer o assunto para o dia a dia, pois não podemos falar de uma perspectiva única”, afirma.
De acordo com Andréa, apesar dos moradores saberem das origens que Ivoti tem em relação à comunidade indígena, pouco se fala sobre isso na cidade. “A gente precisa voltar esse olhar para isso. Dessa conexão que o indígena tem com a nossa terra, mas muitas pessoas não sabem de onde vem”, diz.
Para a professora de língua espanhola e guarani Liz Benitez, 37 anos, que é natural do Paraguai e moradora de Ivoti há sete anos, quando veio, se sentiu atraída pela cidade através do nome. “Aqui há muitas ruas com nomes de origem guarani. É uma forma de eu me sentir em casa. Embora eu esteja longe do Paraguai, estou em contato com as minhas origens”, afirma.
Além disso, o guarani, que sempre esteve presente na rotina de Liz, segue se manifestando nas ruas e cidades em que Liz já percorreu pelo Brasil. “O brasileiro fala muitas palavras de origem guarani. Aqui, em Ivoti, me sinto conectada com o Paraguai. Ao percorrer as ruas, passo pela Rua Tuiuti, Rua Paraguai, Rua Guarani. Tudo isso fez muito sentido. O Brasil e a América do Sul, de modo geral, têm sua origem nos povos indígenas, e que convivem entre nós”, comenta.