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RIO GRANDE DO SUL

CATÁSTROFE NO RS: Pesquisadores da Ufrgs afirmam que era possível prever magnitude de enchente do Vale do Taquari com antecedência

Em documento, nove doutores em pesquisas hidráulicas listam conjunto de ações para evitar tragédias como a do Vale do Taquari

Jornal VS
Publicado em: 12/09/2023 às 15h:01
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Um documento assinado por nove pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) afirma que era possível saber, com quase 24 horas de antecedência, a magnitude da enchente que atingiu cidades banhadas pelo Rio Taquari na semana passada.

Governador sobrevoa Lajeado e Estrela, cidades atingidas pela enchente | Jornal NH



Governador sobrevoa Lajeado e Estrela, cidades atingidas pela enchente

Foto: Mauricio Tonetto/P. Piratini

O grupo de doutores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas relata, no texto, que haviam indícios de que a cheia seria “extraordinária”. 

O que dizem os pesquisadores:

  • Às 17 horas do dia 4, cerca de 24 horas antes da tragédia na casa de Lajeado, a ponte de ferro sobre o Rio das Antas, localizada entre Farroupilha e Nova Roma do Sul, foi destruída pela cheia. Ao longo do rio, a distância entre a ponte de ferro e Lajeado é de 170 km.
  • No mesmo momento em que caía a ponte de ferro sobre o Rio das Antas, o monitoramento de chuva do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no município de Serafina Correa, situado entre os rios Carreiro e Guaporé, dois dos mais importantes tributários do Rio Taquari-Antas, indicava precipitação acumulada de 280 mm desde o início da noite do dia 1º de Setembro. Esse valor corresponde a 97% do total de chuva que foi registrado no local neste evento de cheia.
  • Em outros locais da bacia, a maior parte da chuva que resultou na inundação também já havia ocorrido no final da tarde do dia 4.
  • Pouco tempo depois, a Companhia Energética Rio das Antas registrava a vazão máxima de 9.783 metros cúbicos por segundo na Usina Hidrelétrica Castro Alves, localizada 180 km a montante de Lajeado, deixando claro que a cheia do Rio Taquari-Antas seria extraordinária.
  • A água da chuva que caiu em Serafina Correa passou pelo Rio Taquari, em Lajeado. A água que derrubou a ponte de ferro em Nova Roma do Sul também passou pelo Rio Taquari, em Lajeado, assim como a água que deixou em pânico os responsáveis pela Usina Castro Alves. “Isso demonstra que era possível saber, com quase 24 horas de antecedência, que a cheia do Rio Taquari em Lajeado seria de grande magnitude.”
  • Nas outras cidades atingidas no Vale do Taquari, como Roca Sales e Muçum, a antecedência entre os fatos observados a montante, e as inundações locais não é tão grande como em Lajeado, mas ainda assim seria possível prever, com várias horas de antecedência, que uma inundação com potencial de desastre iria ocorrer. 

“Alerta não funcionou”

De acordo com o documento, “a cadeia de ações de prevenção, preparação e alerta dos impactos da inundação não funcionou adequadamente”. Os pesquisadores suspeitam que “talvez as pessoas não soubessem que moravam em local perigoso, ou permaneceram porque não foram avisadas, ou ainda porque consideraram que os avisos não tinham credibilidade”.

O que fazer para evitar os efeitos das enchentes?

O grupo propôs um conjunto de ações para evitar novas tragédias. São elas:

Ações urgentes e prioritárias (implementação imediata):

  • Ação técnica: Levantamento topográfico em alta resolução espacial com grande detalhamento da superfície e da elevação do terreno, com disponibilização em bases de dados públicas.
  • Ação técnica: Levantamento topobatimétrico dos principais rios, com disponibilização em bases de dados públicas. Esta ação deve ser cíclica, sendo que os levantamentos devem ser atualizados após modificações ocorridas nas cursos e calhas dos rios.
  • Ação técnica: Identificação de áreas de perigo de inundação, para, em futuro próximo, desenvolvimento de planos adequados de ocupação.
  • Ação técnica: Melhorias no sistema de alerta à população, com utilização de diferentes alternavas de comunicação (telefone celular, sirenes, alto-falantes e outros) e com maior detalhamento das informações e das ações necessárias, buscando maior eficácia na comunicação.

Ações de curto prazo (implementação em 3 a 6 meses):

  • Ação técnica: Fortalecimento dos sistemas de monitoramento, previsão e alerta existentes, com maior quantidade de dados de precipitação e de níveis d’água nos rios, de modo a permitir maior informação para a tomada de decisão. 
  • Ação político-estratégica-institucional: Definição e fortalecimento institucional dos órgãos do governo responsáveis pelo monitoramento e previsão de inundações e desastres de origem hidrológica.
  • Ação político-estratégica-institucional: Fortalecimento das equipes da Defesa Civil, com incremento efetivo em equipamentos, pessoal e treinamento. 
  • Ação técnica: Acelerar a implementação de melhorias propostas em editais recentes lançados pelo governo do estado, referentes a modelagem hidrológica hidrodinâmica para previsão de cheias e avanços no sistema de monitoramento em tempo real nos rios com potencial de inundação, baseado não apenas em previsão meteorológica, mas também em dados medidos nas estações hidrometeorológicas e hidrológicas.

Ações de médio e longo prazo (ações permanentes, com início em até 6 meses):

  • Ação político-estratégica-institucional: Fortalecimento dos órgãos responsáveis pelo monitoramento e previsão de inundações com investimentos na contratação de pessoal com experiência e formação adequada comprovadas na área, bem como investimentos na qualificação continuada do corpo técnico.
  • Ação técnica: Instalação de uma rede densa de monitoramento hidrológico e hidrometeorológico automatizado e robusto, capaz de garantir a continuidade de medições e transmissão das informações mesmo quando há falta de energia elétrica, quando os níveis da água são superiores aos níveis máximos já registrados e nas condições mais adversas, com a disponibilização de dados em tempo real.
  • Ação técnica: Elaboração de estudos regionais de zoneamento de áreas inundáveis, incluindo considerações de alteração dos perigos de inundação e de eventos extremos através da análise de cenários de mudanças climáticas, para planificação de usos adequados.
  • Ação político-estratégica-institucional: Desenvolvimento de uma cultura de prevenção e compreensão de riscos relativos a eventos extremos e desastres, com conscientização da população sobre o risco de inundações em áreas habitadas, e popularização das ferramentas de gestão de risco, como mapas de perigo e de áreas de autosalvamento, de maneira disseminada na população, e também com inclusão desses elementos no currículo escolar de nível fundamental e médio.

Leia na íntegra o documento elaborado pela Ufrgs Doutores em pesquisa hidrológica da Ufrgs elaboram documento sobre enchenten o Vale do Taquari.

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