EFEITOS DO EL NIÑO
CATÁSTROFE NO RS: Eduardo Leite diz que modelos matemáticos não previram chuva tão forte; MetSul contesta e mostra alertas
Governador disse na GloboNews que modelos "não previram o volume de cerca de 300 milímetros nas diversas bacias hidrográficas"
Última atualização: 07/09/2023 15:42
Repercute no País nesta quinta-feira (7) a entrevista que o governador Eduardo Leite (PSDB) deu para a GloboNews na noite anterior dizendo que os modelos matemáticos utilizados pelo Estado não indicavam chuva tão forte quanto a registrada entre domingo (3) e segunda-feira (4) e que acabou devastando cidades do Vale do Taquari.
Na parte inicial da entrevista o governador falou em prognóstico de 150 milímetros para ilustrar que a chuva foi muito mais intensa que o esperado. Questionado pelo jornalista André Trigueiro – especialista em temas ambientais – sobre possíveis medidas preventivas diante de tanta chuva, Leite respondeu:
"Os modelos matemáticos previram as chuvas, em intensidade, mas não previram o volume de cerca de 300 milímetros nas diversas bacias hidrográficas da zona norte do Estado, da região noroeste, da Serra e do Vale do Taquari, esta a região mais atingida", informou.
Leite frisou que o acumulado foi desproporcional, que choveu em menos de três dias mais que o dobro da média do mês e que a Defesa Civil emitiu mais de 30 alertas. "Tudo que pôde ser feito foi feito", assegurou, completando que "há lugares em que (a água) não tinha subido nem 10 centímetros em qualquer episódio anterior e, agora, subiu quatro metros".
"Modelos não apontavam o volume de chuva", diz governador
Mais cedo, em entrevista à Rádio Gaúcha, Leite já havia sido questionado sobre a eficiência dos alertas da Defesa Civil. Disse que "não adianta procurar culpados agora" e que "não existe alerta e previsão que dê a dimensão do que poderia acontecer aqui".
"Os modelos das previsões disponibilizados pela nossa Sala de Situação apontava um volume de chuvas que causava preocupação nessas cidades. Mas não se imaginava que fosse ter o volume de chuva que teve. Os modelos não apontavam o volume de chuva", frisou.
Na mesma entrevista o governador disse que "até estou cobrando das nossas equipes: se houver alguma forma, sistema, software ou metodologia que possa fazer estas contas para a possibilidade de inundação". E garantiu que "vamos procurar todos os meios para ter alertas mais eficientes".
MetSul emitiu alertas desde quinta-feira
No fim da noite desta quarta, horas depois da entrevista de Leite na GloboNews, a MetSul Meteorologia soltou um comunicado em seu site. A empresa avalia que "infelizmente não procede" a declaração do governador de que os modelos não previram volume de cerca de 300 milímetros de chuva. "O governador coloca em xeque o trabalho da Meteorologia e, por efeito, o nosso trabalho", diz o texto.
A MetSul diz na nota que foi o único ente de previsão do tempo a advertir para a possibilidade de chuva acima de 300 milímetros na metade norte gaúcha neste começo de setembro. "Estas previsões foram baseadas na experiência dos nossos profissionais de até 40 anos no ramo meteorológico e nas ferramentas em que a empresa investiu nos últimos anos", segue o texto.
Na quinta-feira da semana passada (31) a MetSul publicou alerta dizendo que "setembro começa com chuva extrema, onda de tempestades e enchentes". O aviso projetava chuva entre 300 e 500 milímetros na metade norte do Estado. Na sexta-feira (1º) um novo texto publicado pela MetSul foi ainda mais específico: "Alerta: chuva virá com volumes excepcionais de até 300 mm a 500 mm".
O texto, que foi noticiado nos sites do Grupo Sinos, bem como em outros veículos de comunicação do Estado, dizia que "o cenário de precipitação para estes primeiros dez dias de setembro não tem precedentes nos últimos anos" e que "os acumulados de precipitação em algumas cidades gaúchas somente durante os primeiros dez dias do mês podem atingir praticamente a média histórica de chuva de toda a primavera".
O mesmo alerta dizia que "bacias de maior risco são aquelas que cortam o Noroeste, o Norte, o Centro e o Nordeste do Estado, o que inclui os rios que cortam os vales (Taquari, Caí, Sinos e Paranhana) assim como o Jacuí e o Uruguai". E advertia para enchentes repentinas com o aviso de potenciais acidentes fatais com veículos em correnteza, causa de algumas das mortes neste evento trágico.
"Os modelos, assim, anteciparam os volumes de chuva. A gravidade do que se avizinhava já era conhecida muitos dias antes. A ciência meteorológica cumpriu o seu papel", finaliza a nota oficial da MetSul.