GUERRA DOS FARRAPOS

Canoas foi palco de assassinato na Revolução Farroupilha

Cel.Vicente foi morto ao lado do filho em área onde hoje fica o bairro Niterói

Publicado em: 21/09/2023 09:43
Última atualização: 18/10/2023 19:36

Uma morte política, assim pode ser definido o assassinato do Cel. Vicente Ferrer da Silva Freire. O baiano que viveu na Fazenda Gravataí, território onde hoje se concentram as cidades de Gravataí, Canoas e Cachoeirinha, foi morto no dia 26 de janeiro de 1836. É o que conta o historiador e pesquisador Israel Tavares Boff. “Os Farrapos queriam chegar até as pessoas de alta patente no Império, para atraí-los aos propósitos da revolução.”

Revolução Farroupilha teve capítulo em Canoas Foto: Amanda Krohn/Especial

No entanto, de acordo com Boff, Freire trabalhava para a marinha imperial e não aceitou o convite revolucionário. “Temos documentos que mostram uma carta enviada pelo Coronel Vicente destinada ao imperador Dom Pedro I, prestando condolências pela morte da Dona Leopoldina. Isso mostra a forte ligação com o Império.”

O assassinato, porém, não foi o procedimento orientado pelos Farrapos. “Eles mandaram levá-lo até Porto Alegre. O encarregado teria sido o capitão Rocha, que partiu acompanhado de uma pequena escolta, a ordem era de prisão.” Boff conta que em seus estudos, ficou comprovado que seja por resistência ou por não aceitar acompanhar a comitiva, Freire foi morto. Diogo, um dos sete filhos que teve com a esposa Rafaela Pinto Bandeira Freire, também foi assassinado, acompanhado de um escravo. “Que possivelmente foi levar mantimentos à dupla.”

Bairro Niterói

O local das mortes é, segundo o historiador, onde hoje fica situado o bairro Niterói. “As terras foram uma herança de Rafael Pinto Bandeira, para a filha Rafaela, que as recebeu da Coroa Portuguesa.” Após os assassinatos, o ponto exato do acontecido ficou conhecido como Capão do Diogo. A obra “Vultos da Pátria”, de Antônio da Rocha Almeida, descreve o que aconteceu naquele dia 26 de janeiro de 1836. “Sabendo que se tratava de homens de grande valor pessoal, a escolta atacou-os à traição, pelas costas, antes que tivessem tempo de oferecer qualquer resistência. Os cadáveres ainda foram profanados pelos bárbaros assassinos. Do Coronel cortaram uma orelha que é tradição na família ter andado em mãos de um barbeiro da Vila de São Leopoldo. De Diogo cortaram um dos dedos da mão esquerda.”

“Foi assim que ele [Coronel Vicente] entrou para a história de Canoas”, afirma Boff. A Fazenda Gravataí era composta por muitas terras e, segundo o historiador, a família Pinto Bandeira Freire era sustentada pelo Império.

Registros originais de morte foram transcritos

Na função de historiador e pesquisador, Boff também transcreveu os registos de óbitos de Vicente e Diogo.

"Aos vinte e seis dias do mez de Janeiro de mil oiotocentos trinta e seis annos na Freguezia de Nossa Senhora dos Anjos desta Comarca foi assassinado o Coronel Vicente Ferrer da Silva Freire."

"Aos vinte e seis dias do mez de Janeiro de mil oiotocentos trinta e seis annos na Freguezia de Nossa Senhora dos Anjos desta Comarca foi assassinado Diogo Pinto Bandeira da Silva Freire."

Os documentos são assinados pelo Padre Thomé Luiz de Souza. "Naquele período os registros de morte eram feitos pela Igreja", explica Boff.

“Ponto de passagem”

Encerrada em 1845 após um tratado de paz entre Farrapos e o Império, a Guerra dos Farrapos foi finalizada em um acordo que, segundo Boff, foi bom para os dois lados. “Toda guerra é uma questão de dinheiro. O fim da Revolução Farroupilha foi favorável ao bolso deles.”

Questionado sobre o papel de Canoas, ou melhor, da Fazenda Gravataí no decorrer do confronto, Boff diz que após a morte do Coronel Vicente, elas passaram a ser saqueadas constantemente. “Rafaela faz uma partilha informal em 1836 e, em 1837 é aberto um processo para investigar as mortes de Vicente e Diogo.” Já o inventário formal das terras acontece apenas 1869, após o fim da guerra. “O local se tornou um ponto de passagem”, completa.

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