A avalanche de crimes contra motoristas de aplicativo registradas nos últimos meses no Vale do Sinos tem feito com que profissionais desistam de realizar corridas com pagamentos em dinheiro.
Motivado pelo medo, o motorista Jean da Silva é um deles. Desde que colegas de profissão voltaram a ser assaltados, ele desabilitou a opção de aceitar corridas em dinheiro. “Este é um recurso que usamos para nos proteger, pois nas corridas pagas com cartão fica mais fácil a Polícia rastrear eventuais autores do crime”, explica.
Motorista de app há dois anos, Silva conta que foi a primeira vez que tomou a medida e avisou que, enquanto não notar nenhuma mudança neste cenário de violência, permanecerá com o atendimento com corridas pagas 100% por cartão.
No grupo de motoristas do qual Jean da Silva faz parte há outros profissionais que adotaram a mesma estratégia. “À noite, praticamente todos os colegas com quem mantenho contato estão restringindo as corridas em dinheiro. Durante o dia, os que seguem aceitando pagamentos em dinheiro, não aceitam chamadas cujo destino seja fora do eixo central ou nos limites entre municípios”, detalha.
O motorista Rafael Nunes, que mobilizou ato para cobrar medidas dos órgãos de segurança na Câmara de Vereadores, na segunda-feira (16), confirma essa tendência. “Os usuários que não usam cartão como forma de pagamento, correm o risco de ficar desassistidos”, avisa.
Contudo, Nunes garante que não há um movimento organizado para isso. “Isso vai de motorista para motorista. É importante reforçar, isso não é uma regra, mas é a tendência do momento”, garante.
Menos motoristas, corridas mais caras
Com a iniciativa ganhando força, os motoristas de app alertam usuários para a possibilidade de o serviço ficar restringido no Vale do Sinos, especialmente no turno da noite.
Além de reduzir a oferta de carros, a consequência desta restrição é outra. “Pode cuidar: com menos motoristas aceitando chamadas a dinheiro, a tendência é de que as corridas fiquem mais caras devido a dinâmica de funcionamento dos aplicativos”, prevê Jean da Silva.
Por isso, os profissionais sugerem que os usuários que dependem dos aplicativos para deslocamentos habilitem o pagamento via cartão.
Cinco motoristas são feridos em assaltos
Entre agosto e a primeira quinzena de outubro, cinco motoristas de app do Vale do Sinos foram feridos por supostos passageiros durante corridas. O primeiro caso foi em agosto, no bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo. O motorista foi ferido com uma faca no pescoço ao embarcar passageiros em São Leopoldo.
Foto: Isaías Rheinheimer/GES-Especial
No começo de outubro, outros dois casos foram registrados em Novo Hamburgo. Na noite do dia 4, um motorista de 59 anos sofreu um corte profundo no pescoço ao ser rendido pelo falso passageiro na Rua Miguel Couto, Centro. A vítima segue internada no hospital municipal.
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No dia 9, na Rua Portugal, no bairro Rincão, outro motorista sofreu um corte no rosto, próximo aos olhos, ao transportar três passageiros com destino ao bairro Boa Saúde.
No último final de semana, dia 15 de outubro, foram registradas mais duas ocorrências envolvendo motoristas de app. Na primeira delas, na madrugada de domingo, uma motorista foi esfaqueada por um suposto passageiro que fugiu levando seu carro.
A vítima aceitou uma corrida em São Leopoldo com destino ao município vizinho. Quando chegou ao endereço final, no bairro Vargas, em Sapucaia do Sul, o homem anunciou o roubo e agrediu a motorista com um objeto cortante. Depois, fugiu levando pertences e o veículo Renault Sandero da vítima. O carro foi recuperado em Porto Alegre horas depois.
O segundo caso do domingo também teve como vítima uma mulher. Ela que aceitou uma viagem entre Ivoti e Estância Velha. Contudo, durante o trajeto, o casal de passageiros mudou o percurso inicialmente informado.
Ao chegarem na Estrada Boa Saúde, a passageira orientou que a motorista parasse o veículo. Como negou-se a fazer isso, os passageiros passaram a agredir a vítima, que conseguiu para o veículo em local movimentado, fazendo com que os passageiros descessem do veículo sem levar nada.