Criminalista conhecido por embates acirrados em júris, muitas vezes descambados para troca de ofensas com promotores e testemunhas, além de discussões ásperas com magistrados, o advogado Jean de Menezes Severo virou réu por organização criminosa, lavagem de dinheiro e receptação. Ele se diz perseguido pela Polícia Civil e Ministério Público.
O processo tem outros 23 acusados, entre eles o apenado Antônio Marco Braga Campos, o Chapolin, apontado como líder no Vale do Rio Pardo da facção do Vale do Sinos que comanda o tráfico na maior parte do Estado. Conforme denúncia do MP, aceita esta semana pelo Judiciário, o advogado seria uma espécie de braço direito de Chapolin.
De acordo com a investigação, Severo teria ultrapassado os limites da defesa do condenado, que está isolado na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. O esquema envolveria tráfico não só de drogas, assim como de armas, e uma complexa rede de laranjas para lavar o dinheiro também da jogatina.
Já o crime de receptação é imputado ao advogado porque, segundo a denúncia, foi flagrado por imagens de câmeras de vigilância na carona de um automóvel Mercedes-Benz roubado pelo grupo de Chapolin. O carro estava com placas clonadas.
Investigação começou em 2018
O MP se manifestou por meio de nota nesta quinta-feira (31). “Houve uma investigação desencadeada pela Polícia Civil, que teve como alvo uma organização criminosa. Com a conclusão desta investigação, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPRS, ofereceu denúncia, que foi recebida e tramita junto à Vara Criminal especializada em crime organizado e lavagem de dinheiro. O processo, que está em sigilo, terá seu prosseguimento normal.” A investigação vem de 2018.
“Não há absolutamente nada contra mim”, frisa defensor
Severo fez uma declaração contundente à reportagem nesta quinta. “Sofro uma perseguição da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio Grande do Sul porque falo verdades que eles não gostam de ouvir e tenho uma atuação bastante combativa.”
O advogado reitera que é inocente. “Não há absolutamente nada contra mim, até porque, em presídios federais, tudo é gravado e nunca mandei ordem para ninguém. O que recebi foram honorários, nunca tive carro Mercedes-Benz. No máximo peguei uma carona. É uma grande vergonha o que estão fazendo. Querem criminalizar a advocacia, mas não vão conseguir. Se acham que vou me abater, vou voltar cada vez mais forte. Vou lutar cada vez com mais força depois dessa barbaridade que estão querendo fazer comigo.”
Caso em Novo Hamburgo e briga com delegados
Severo, que defende a família acusada da misteriosa morte a tiros com apreensão de R$ 2,2 milhões em apartamento na Rua Marcílio Dias, na área central de Novo Hamburgo, na madrugada de 8 de março de 2020, coleciona polêmicas pelo Estado. A acusação que envolve um casal e outros dois acusados do assassinato ainda não foi a júri, mas uma adolescente foi condenada e cumpre medida socioeducativa.
Defensor nos júris do caso do menino Bernardo, em Três Passos, e do incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria, Severo brigou com dois delegados de Polícia, que estavam como testemunhas no plenário, durante o julgamento do Caso Becker, no fim de junho. Chegou a desafiar o juiz para que o retirasse do plenário. Após cinco dias de júri, em Porto Alegre, os quatro acusados da morte do oftalmologista hamburguense Marco Antônio Becker foram absolvidos. O crime aconteceu em dezembro de 2008.
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