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PAROBÉ

"Achei estranho ela sempre se queixar dessa dor", relata mãe de mulher que morreu após ter gaze esquecida dentro do corpo

Vítima, de 39 anos, foi submetida a cesariana no Hospital São Francisco de Assis, em Parobé, e veio a falecer nesta quarta-feira (23). Caso é investigado pela Polícia Civil

Kassiane Michel
Publicado em: 24/08/2023 às 13h:43
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A Polícia Civil investiga o caso de uma mulher de 39 anos que morreu nesta quarta-feira (23) no Hospital São Francisco de Assis, em Parobé, dois meses após passar por uma cesariana. Mariane Rosa da Silva Aita deu à luz uma menina no dia 12 de junho e, após receber alta, começou a sentir dores abdominais.

Mulher morreu por complicações pós-cirúrgicas no Hospital São Francisco de Assis, de Parobé | Jornal NH



Mulher morreu por complicações pós-cirúrgicas no Hospital São Francisco de Assis, de Parobé

Foto: Divulgação/Arquivo

Conforme a família, ela chegou a procurar atendimento em um posto de saúde de Três Coroas, cidade onde morava, recebeu uma medicação e foi liberada. No fim de junho, Mariane mudou-se com o marido para a Vila Diehl, em Novo Hamburgo, quando passou a viver em uma casa vizinha à da mãe, Marcia Rosa da Silva. Como Mariane tinha outros cinco filhos, Marcia cuidava dos mais velhos. 

“Achei estranho ela sempre se queixar dessa dor, porque ela não era de se queixar”, conta a mãe de Mariane. “Ela não se queixava de nada, tudo estava bonito, estava bom. Ela estava sempre feliz e brincando com as crianças”, acrescenta.

Logo após a mudança, como as dores persistiam, ela procurou uma Unidade de Saúde da Família (USF) de Novo Hamburgo, que não identificou o problema. No dia 14 de agosto, foi levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Canudos, na mesma cidade. Parentes afirmam que, desta vez, um exame de ultrassom constatou um corpo estranho apontado como gaze na parte de baixo esquerda do abdômen dela.

Da UPA, ela foi encaminhada de volta para a casa de saúde de Parobé, onde permaneceu internada na unidade de terapia intensiva (UTI) por nove dias. “Eles operaram ela à noite, na terça-feira [dia 15 de agosto], e acho que tiraram a gaze. Disseram para nós que era uma bolha de sangue, em cima da trompa, mas a gente sabia o que era pois estava no exame”, da mãe.

No hospital, ela passou por outros procedimentos cirúrgicos, mas não resistiu. “Ela não aguentou. Não aguentou, e a infecção foi se alastrando, porque demorou muito para resolverem o que fazer”, relata.

Mulher estava ansiosa para rever os filhos

Mariane Rosa da Silva Aita | Jornal NH



Mariane Rosa da Silva Aita

Foto: Arquivo pessoal

Marcia lembra que Mariane estava ansiosa para receber alta e poder rever os seis filhos. “Ela só falava: ‘Quero ir para a casa, eu quero ver o neném, eu quero ver os guris’. E eu dizia: ‘Não, primeiro tu tem que ficar boa’.”

A mulher deixa o marido e os filhos: um jovem de 22 anos, três meninos, de 11, 8 e 4 anos, e duas meninas, uma de 10 e a bebê de dois meses. “Era tranquila, amorosa, era uma pessoa de bem com a vida, tudo estava bom, estava sempre sorrindo, nunca se queixava de nada”, descreve a mãe.

Em nota, hospital não se pronuncia sobre gaze

Na manhã desta quinta-feira, o Hospital São Francisco de Assis se pronunciou sobre o caso. Disse que “conforme prontuário e relato dos profissionais envolvidos no atendimento, o óbito ocorreu por complicação pós-cirúrgica descrita na literatura e não previsível”. Acrescentou que “o tratamento requer intervenção cirúrgica e todas as medidas adotadas foram corretas”.

A reportagem questionou por que a paciente passava por tratamento, ou seja, por qual motivo a mulher teria sido submetida à intervenção cirúrgica que resultou na sua morte, mas o hospital disse que não pode “passar informações sobre o diagnóstico pelo que determina a LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais]“. Na nota, a casa de saúde não comenta sobre a gaze.

O hospital ainda afirmou que “em nenhum momento a causa da morte foi informada pelo hospital como sendo ‘causas naturais'”, mas essa informação consta no atestado de óbito ao qual a reportagem teve acesso, que cita “causa natural, sepse abdominal e insuficiência renal aguda”.

Por fim, o São Francisco de Assis disse que lamenta “profundamente a perda da família” e que “todas as informações referentes ao atendimento estão à disposição dos familiares”.

Família 

A família de Mariane divulgou uma nota lamentando e repudiando o posicionamento do Hospital São Francisco de Assis. No texto, os parentes ressaltam que, apesar de instituição negar ter dito que tratou o caso como morte natural, a certidão de óbito atesta essa causa. Ainda, destacam que “a casa de saúde não foi transparente sobre os procedimentos” e que “nem mesmo sobre a gaze que foi esquecida dentro da Mariane eles falaram. No entanto, os exames feitos apontaram um corpo estranho no abdômen dela”.

“Esperamos que as autoridades e a direção do hospital tomem providências para que outras famílias não passem por isso. E para que outras crianças não cresçam sem a mãe por negligência da equipe médica. Esperamos por justiça”, finaliza a nota.

Morte é investigada pela Polícia Civil

A morte de Mariane foi registrada junto à Polícia Civil pela família. De acordo com o delegado Francisco Leitão, titular da Delegacia de Parobé, a Polícia “instaurou inquérito policial e realizará a oitiva das partes envolvidas para verificar a procedência das informações e analisar se houve ilícito penal na conduta dos profissionais responsáveis”.

Necropsia será realizada após velório

Mariane começou a ser velada às 7 horas desta quinta na Capela Municipal São José, no Loteamento Kephas, em Novo Hamburgo. O sepultamento ocorreria esta tarde no Cemitério Municipal da cidade, mas será adiado para que o corpo passe por necropsia.

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